A arte de transformar porno em colagens surpreendentes

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A arte de transformar porno em colagens surpreendentes

O trabalho de Zoe Ligon baseia-se na ideia de promoção de uma atitude mais aberta perante a sexualidade e a auto-determinação.

Este artigo foi originalmente publicado pela VICE USA.

Conheci Zoe Ligon no Verão de 2011, quando andávamos as duas à caça de fatos de banho na american Apparel. Nessa altura ela fazia posters de espectáculos em salas de Brooklyn que já nem sequer existem e dizia constantemente que gostava de se dedicar à área da educação sexual.

Duas coisas que, na verdade, eram uma excelente antevisão do seu futuro. Desde então, tornou-se CEO da sua própria loja de brinquedos sexuais em Detroit, Spectrum Boutique, conquistou mais de 45 mil seguidores no Instagram, começou a trabalhar como ilustradora da coluna de sexo da VICE Magazine e participou em inúmeras exposições colectivas com os seus trabalhos baseados em colagens porno.

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Tudo o que faz baseia-se na ideia de promoção de uma atitude mais aberta perante a sexualidade e a auto-determinação. Digamos que é uma espécie de mulher da Renascença na área do coito. Portanto, quando soube que estava de regresso a Nova Iorque para apresentar uma exposição individual não quis perder a oportunidade de falar com esta mulher tão inspiradora. Podem ler a entrevista mais abaixo e se andarem por Nova Iorque, passem pela Galeria Superchief, em Greenpoint, para verem os trabalhos de Zoe ao vivo e a cores.


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VICE: Como é que equilibras o teu trabalho empresarial com a tua arte?

Zoe Ligon: Honestamente, ando SEMPRE stressada. Tenho de estar constantemente colada ao telefone e aos mails e às vezes parece que o meu cérebro está a fazer malabarismos com várias coisas ao mesmo tempo. Não é uma situação muito conveniente para criar arte visual, na verdade. Só há cerca de um mês ou assim é que consegui aprender a não me passar de cada vez que encontro algum obstáculo no caminho, por mais pequeno que seja.

No entanto, ter de estar sempre tão activa também me tornou mais produtiva no geral e foi por isso que, lentamente, voltei aos meus trabalhos de colagens. Em muitos sentidos a minha escrita, a arte e o negócio são vertentes que acabam por se alimentar umas às outras, porque giram todas à volta do tema sexo. Por exemplo, em Novembro vou lançar um livro de arte na editora Ain't-Bad e ter uma experiência empresarial consistente tornou todo o processo de edição muito mais fácil. Mais. Escrever artigos é uma forma bastante orgânica de promover quer a minha arte, quer o meu negócio sem necessitar formalmente de publicidade (que é algo com que não me sinto bem, porque o que eu faço é apenas tentar encorajar as pessoas a exporarem a sua própria sexualidade e prazer).

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Onde é que encontras os materiais para as tuas peças?

Vou a uma loja de comics nos subúrbios de Detroit que tem uma colecção gigante de porno nas traseiras. Só de entrar no espaço é uma experiência em si. O gajo que gere a loja é uma personagem - berra comigo para virar as páginas com mais cuidado, acusa-me de o roubar, saca-me revistas porno da mão de repente e diz-me que não estão para venda, coisas deste género. De certa forma, adoro a maneira como ele é implacavelmente resmungão comigo. Se calhar deixo-o desconfortável, ou algo do género.


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Trabalhar com porno pode acarretar todos os tipos de premissas e estereótipos. Como é que combates isso?

Comecei a integrar elementos da natureza nas minhas peças, de forma a dar às mulheres nas imagens os planos de fundo e ambientes que elas merecem. Vejo tantas imagens de mulheres nuas fotografadas naquele tipo de ambientes de residências de estudantes e penso sempre, "Foda-se, não! Esta miúda precisa de uma cascata de água majestosa por trás dela". Os fotógrafos (que são quase sempre homens) criam os seus trabalhos com a intenção primária de providenciarem um imaginário sexual para homens.

Para além disso, modelos femininas e actrizes raramente recebem o tratamento e a compensação que merecem, portanto, de certa forma, acho que as minhas colagens são uma homenagem à beleza das modelos e uma forma de desconstruir a intenção original do fotógrafo.

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Esperas ter algum impacto na forma como as pessoas olham para esse tipo de imaginário sexual?
Claro que sim. O porno tem uma reputação tão má. E embora perceba porque é que a sociedade vê a pornografia como tabu, na verdade não é mais do que uma ferramenta sexual. Há por aí uma data de porno merdoso, mas também há porno muito bom, com o foco na vulva e em que o prazer é trocado mutuamente (é por isso que só vejo vídeos com o Danny Wylde).

Mas, é como digo, a maioria do porno mainstream é direccionado para os homens heterossexuais e dá aos espectadores uma visão pouco realista do sexo. Num mundo em que a educação sexual é claramente deficitária, as pessoas usam o porno como uma ferramenta de aprendizagem, bem como uma ferramenta de excitação e, consequentemente, acham que não há problema em ir do rabo para a vagina, ou uma merda qualquer do género. Por isso, sim, eu quero promover a ideia de que o imaginário sexual tem o potencial para nos ensinar muitas coisas e ajudar-nos a ter menos vergonha de outras.

Zoe Ligon é uma artista e educadora sexual sediada em Detroit. Podes ver mais imagens do seu trabalho abaixo.


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