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Milhões de Festa

O Dirty Beaches vai ao Milhões de Festa

E sabias que a versão japonesa do seu último disco inclui um EP chamado Hotel?

É fascinante o mundo da música editada no Japão, onde os discos incluem geralmente algumas faixas extra difíceis ou até mesmo impossíveis de encontrar noutra parte. E a verdade é que um álbum com duas ou três malhas adicionais deixa de ser a mesma coisa. Além disso, a natureza das faixas exclusivas do Japão pode ser a mais diversa: temos lados-b de singles refundidos, out-takes de estúdio que ficaram à porta do resultado final, demos e, na melhor das hipóteses, um conjunto de canções (bem planeado e não acidental) que transforma por completo o disco. É isso que acontece com Drifters / Love is the Devil, o recente disco de Dirty Beaches, que na sua versão japonesa, editada na Big Love, inclui um nova EP chamado Hotel, que aqui faz toda a diferença. Ficámos espicaçados por isso e partimos em busca de novos significados para Drifters / Love is the Devil. Uma das marcas mais características na música de Dirty Beaches está no seu apego a uma época em que a forma de sentir das pessoas era mais intensa e incondicional. O amor cravado com uma navalha, no tronco de um carvalho, era para durar e crescer com a árvore. Não sabemos ao certo se Alex Hungtai crê nesse tipo de amor, mas na música que faz como Dirty Beaches, tal como na canção dos Smiths, há uma luz que nunca se apaga por completo — se quisermos defini-la, uma luz que é feita da ingenuidade da música doo wop, da nova vaga de optimismo da década de 60 e tantos vezes do crooning que acredita que a canção é a cura para todos os males (principalmente os do coração). Na verdade, é esse tipo de esperança, recuperado a tempos mais floridos, que confere o equilíbrio necessário à música de Dirty Beaches, que, no seu verso mais diabólico, consegue ser também bastante sufocante, tóxica e perdida na cegueira das tentações nocturnas. Imaginem que o mesmo quarto sujo de motel reunia o fantasma do Elvis, o lado pregador de um de Nick Cave e o Udo Kier todo nu (bizarro) para juntos gravarem algumas canções e o resultado disso não andaria muito distante dos ambientes constatáveis no universo Dirty Beaches. É tudo altamente dicotómico por estas paragens: Dirty Beaches acredita tanto na força da utopia como na do colapso. Leva isso a que os seus principais álbuns pareçam ser passados ao volante de um carro chamado paixão, tão capaz de chegar a velocidades fascinantes, como de se estampar contra aquele ponto da relação em que está tudo fodido. Com as suas gravações divididas precisamente pelo fim de uma relação de longa data do autor, o duplo Drifters / Love is the Devil é, porventura, a representação mais abrangente de Dirty Beaches e da sua natureza de monstro de duas cabeças, além de um excelente ponto de partida numa discografia tão extensa como labiríntica (com lançamentos na Rússia e China, inclusive). Há uma memorável canção intitulada “Casino Lisboa”, gritos e atrofios em diversas línguas (“Te quiero, si, por la vida!!”), páginas arrancadas a um diário maldito escrito em cidades várias da Europa, delírios de jazz noir gravados em conjunto com a banda que tem acompanhado Alex Hungtai em digressão. Tudo carregado de néon e de Lynch (é inevitável referi-lo). Nesta incrível edição limitada da Big Love, o EP exclusivo — Hotel — acaba por demonstrar Dirty Beaches sentado ao piano e com a calma típica de Domingo à noite, quando a ressaca já está ultrapassada e há de novo ar puro para reiniciar a máquina e seguir em frente. Seguir em frente até ao Milhões de Festa, em Barcelos, onde Alex Zhang Hungtai (agora em formato trio) actua a 28 de Julho. Um dia antes, vai até à Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.