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Música

Mercado Mundo Mix: Um Espaço para Quem Não Tinha Espaço

A festa/feira que surgiu em 1994, em São Paulo, faz 21 anos em março e nós repassamos essa história com seu mentor, Beto Lago.
Foto: arquivo pessoal/Beto Lago

Naquela época, nem no sonho mais louco de Alexandre Herchcovitch, o estilista poderia imaginar que teria uma loja no Japão. Era 1994, das caixas saiam loops quadradões de techno e num espaço do bairro da Barra Funda, em São Paulo, skatistas e clubbers eram quase como Judeus e Palestinos nos dias de hoje. Mas nem por isso rolavam as famosas tretas, era todo mundo de boa, cada um respeitando o espaço do outro. Se não fosse assim não tinha como virar.

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Não tinha uma galera X que colava nesse rolê, era meio que tudo junto e misturado no melhor esquema faça você mesmo. A galera do skate mandava as sessions no mini ramp ao som dos discos disparados por Renato Lopes, pelo b2b de Ruth Soulslinger x Jorge Espírito Santo, Luis Pareto. Foi nesta época também que surgiram os cyber manos, os clubbers da perifa. Uma galera trocava o tradicional baseado por peguinhas nos bongs, bubblers e pipes.

"Tudo era novidade naquele tempo, e logo o Mercado Mundo Mix se firmou como um lugar onde as pessoas podiam ser elas mesmas sem se preocupar. Era um antro onde surgiam as tendências e tudo que era considerado diferente estava lá, ou pelo menos tinha que estar", diz Beto Lago, mentor do negócio.

Você pode até achar mais do mesmo esse papinho de eventos multiculturais que reúnem moda, música, arte e comportamento. Mas em 94, esse lance era bem diferente. O debut do MMM rolou no Cine Clube Elétrico, no Baixo Augusta, em São Paulo e depois passou a acontecer em locais como o Museu da Imagem e do Som (MIS), dentro do Festival Mix Brasil, seguindo para a antiga fábrica da Alpargatas até desembocar no Galpão Fábrica, na Barra Funda, espaço onde a parada realmente pegou – foi lá que todas as outras edições do Mercado Mundo Mix aconteceram até a última delas, que aconteceu no fim do ano passado.

Na metade dos anos 90, o Mercado Mundo Mix funcionava como um refúgio. Era um espaço para aqueles que não tinham espaço. Estilistas como Heitor Werneck, Marcelo Sommer e Alexandre Herchcovitch deram seus primeiros passos por lá, e marcas como Chilli Beans e Cavalera surgiram lá dentro.

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O rolê acontecia uma vez por mês, sempre nos fins de semana. Era de graça e terminava até as dez da noite. Sempre que o Mercado Mundo Mix era marcado, os organizadores de festas aproveitavam para fazer alguma rave e trazer algum DJ gringo. Isso antes de começar a rolar a Parada do Amor, em 1996, festa na rua paulistana que começou com cinco trios elétricos e costumava acontecer um domingo por ano, sempre entre outubro e novembro, nos mesmos moldes da Love Parede de Berlim. A primeira edição da Love Parede saiu da Praça Charles Miller e seguiu em direção ao Galpão Fábrica, para cerca de duas mil pessoas. No ano seguinte, 1997, virou Parada da Paz nome com o qual continuous até 2001. "Foi da Parada da Paz que surgiu a ideia de fazer o Skol Beats", conta Beto Lago.

A importância do MMM na proliferação da música eletrônica estava apenas começando e em 97 nascia o selo Mundo Mix Music, dedicado a lançar projetos de artistas brasileiros. A label foi responsável por inserir os primeiros live PAs nacionais por meio de uma coletânea, a Electronic Music Brasil, que tinha faixas do M4J, que conta com o DJ Mau Mau como um dos integrantes, Currupyo, Habitants, Anderson Noise, Loop B e outros mais.

Claro que a coletânea foi lançada com uma festa daquelas. Deu tão certo que depois a própria organização já se encarregou de trazer nomes como Chris Liebing e DJ Hell para outras edições. "Foi uma época onde tudo estava começando, já existiam os clubes e algumas raves, mas tudo em proporções bem menores e com um público que realmente ia atrás", disse Renato Lopes, um dos primeiros DJ de techno do país

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Com tudo isso rolando a coisa começou a crescer, e nos anos seguintes o MMM passou por cidades como Rio de Janeiro, Santos, Campinas, Curitiba e Belo Horizonte até cruzar o oceano e chegar a Portugal, onde passou a rolar como um festival que rendeu por 12 anos, passando por cinco cidades diferentes.

"Nesses anos todos por trás do projeto claro que vi de tudo, mas o que realmente me chamava atenção era como a música aproximava as pessoas de diferentes estilos e classes sociais. Foi um lugar que aproximou a periferia dos bairros nobres da cidade", mandou Lago.

Em 2015, o Mercado Mundo Mix completa 21 anos e a edição de aniversário acontece em São Paulo no próximo mês de março. Nós vamos colar.

O Mercado Mundo Mix não para, não para não:
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