Será que a Maior Edição do EDC Las Vegas Foi o Início da Era Pós EDM?
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Música

Será que a Maior Edição do EDC Las Vegas Foi o Início da Era Pós EDM?

A maior e mais massiva exibição da cultura dance americana — da boa e da ruim.

Com outra edição do EDC Las Vegas, não é hiperbólico dizer que a joia da coroa da Insomniac é também o ápice da experiência rave americana pós-milenial. Mesmo comparado a outros festivais do mesmo porte organizados pela Insomniac, o EDC é singular em sua profundidade, abrangência e imaginação dispensadas no quesito espetáculo. Nada mais sequer chega perto do que o festival oferece.

Ainda assim, com temperaturas extremas durante todo o fim de semana de evento (a mínima à noite era de 32 graus), tensões sobre saúde e segurança do público foram assunto maisque o usual. O fechamento da segunda noite trouxe a notícia de que um homem de 24 anos morreu vítima do que seria uma combinação de narcóticos, má hidratação e altas temperatura em Las Vegas.

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Tirando o calor, a conversa nos dias anteriores ao festival focaram na mudança de design de cada um dos palcos. A empolgação se justificava, já que o nível da produção foi elevado — todos os palcos pareciam um palco principal.

EDC visto de cima, o KineticFIELD à frente // Foto por Doug Van Sant

O palco principal (oficial) do EDC, o KineticFIELD, passou por uma das renovações mais comemoradas na história do festival. Ano passado, a imponente estética de catedral gótica do Kinetic quase acabou com a possibilidade da galera se deslocar pelo festival, tamanha a sua atração gravitacional estética. Milhares de moleques passaram todo o tempo possível no palco, vendo e ouvindo gigantes da música eletrônica encaixarem em seus sets o maior número possível de versões de "Summer" do Calvin Harris.

Em 2015, um set up mais razoável baseado no rosto de uma coruja maia/steampunk com olhos de relâmpago piscando ameaçadoramente sob sobrancelhas franzidas (levemente reminescente do motivo steampunk do Tomorowland 2014, é importante notar). Ainda uma belavisão, a contenção mostrada pela Insomniac na produção do palco principal é um indício da preparação da produtora para um mundo pós EDM. Pasquale Rotella até admitiu isso durante o EDMBiz.

Seja na produção musical ou dos palcos, 365 dias podem fazer uma enorme diferença. Ano passado, Oliver Heldens tocou tão cedo no KineticFIELD que ninguém fora a produção do festival o viu tocar. Na sexta à noite, o prodígio do house holandês tocou para um campo lotado enquanto continuou sua missão de direcionar o público de EDM para terrenos mais profundos. Ouvir qualquer coisa que se aproxime de garage ou deep house no palco principal, mesmo em 2014, seria blasfêmia (a única exceção sendo o Disclosure). Graças a Heldens e alguns outros, isso agora é uma evolução que podemos comemorar. Afinal, você prefere que sua irmã caçula ouça Oliver Heldens ou Carnage?

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No momento mais bizarro do fim de semana, na hora de apertar o famigerado botão do Above & Beyond, ficou a cargo esse ano de personagens menos honrosos na história da televisão–– Walter White também conhecido como Heisenberg também conhecido como Bryan Cranston de "Breaking Bad". Apesar de não ser ele mesmo um ícone raver, seu personagem deu nome para uma faixa do Above & Beyond (e pelo menos Cranston não vomitou).

Tem uma ironia nisso, junto com o BassPOD, o NeonGARDEN é o lugar menos neon da rave inteira. A tradicional casa do techno no festival (e muito e muito Carl Cox,) NeonGARDEN foi completamente recriada em 2015. Sai o pequeno e fumegante domo, agora transformado em um grande octágono com um lustre imenso de gotas de LED como peça central, flanqueado por telas giratórias e flores desabrochando penduradas do teto enchendo de luz e cor o chão acarpetado.

Dusky estabeleceu o clima lá na sexta-feira ao trafegar suavemente entre houses melódicos mais profundos e um techno carregado — seu novo EP Ordinary World mostra uma rara habilidade de equilibrar sem esforços os dois gêneros — e o leve trocar de gêneros da dupla funcionou bem no espaço Garden.

A ode ao techno do NeonGARDEN do EDC // Foto por The Holy Mountain

Loco Dice tocou três sets no Garden durante o fim de semana. De algum jeito, a lenda alemã do minimal sempre acha um bumbo mais pesado do que o que ele acabou de dropar enquanto dispara ferozes pulsações techno. Seus sets são hipnóticos, apesar de meio rígidos. Cada elemento te puxa em um sentido diferente, segurando seu foco com tal tensão que mesmo as mudanças mais sutis parecem mudanças em nível tectônico. A manipulação simplesmente desgraçada que Dice tem dos samples vocais em relação aos drops de pressão é algo realmente admirável e levou a mais de um momento de "CARALHO!".

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O parceiro de b2b do Loco Dice durante o set maratona de cinco horas, Carl Cox, se apresentou no Garden por duas noites seguidas. O tempo todo ele parecia que estava cavalgando enquanto manipulava os decks, galopando até sets techno de Ibiza e sorrindo amplamente o tempo todo.

Infelizmente, ninguém pareceu perceber que Louis B, se apresentando no CosmicMEADOW na noite de sábado, era um codinome do Brodinski. O chefe do bromance foi do techno Coxiano ao hip-hop cabuloso em um espaço de minutos frente a uma plateia miada. Apesar do seu visual encher os olhos e seu comando terem sido inegáveis, Brodinski pareceu um pouco desanimado com o tamanho do público. Bixo, se você vai fazer um set incógnito, é melhor dar umas tuitadas antes, mano.

O CosmicMEADOW // Foto por aLive

O Disclosure, como esperado, continua perfeito. Tudo que os irmãos Lawrence fazem é mágico. Sua inusitada casa no relativamente pequeno NeonGARDEN estava lotada e sufocante para seu set — registrando o maior público em todo fim de semana, enquanto a dupla passeava entre o house groove influenciado pelo garage com floreios de soul e tech. Para muitos novinhos, o set do Disclosure mobilizou a primeira ida àquele palco. Esperamos que não seja sua última.

Do ano passado para cá,o CircuitGROUNDS inchou com direito a uma convulsão de lasers e estrobos, todos habitando um dos maiores domos que o mundo já viu. Parece a tenda Sahara do Coachella depois de tomar um ácido e hormônio de crescimento ao mesmo tempo. De acordo com a produção, a tenda Sahara poderia caber facilmente dentro da estrutura do Circuit, alimentando uma crença de que a Insomniac estava rindo de um desafio do Goldenvoice ao diminuir sua maior produção com facilidade.

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Esse palco Circuit faz a tenda Sahara do Coachella parecer uma quitinete no centrão. // Foto por Marc Van Der Aa

Adequadamente, era necessária uma lenda para encher aquele espaço. Na sexta à noite, Fatboy Slim foi de sample do Talking Heads a piração acid house de 20 minutos a "Boneless", clássico de festival do trio Aoki/Lake/Tujamo. (Ter curtido um Aoki como nunca antes é uma prova da habilidade do Fatboy Slim em recontextualizar a música de acordo com sua própria distorcida e sorridente visão). Eric Prydz foi o destaque do CircuitGROUNDS na noite de sábado. Sua tendência em juntar house progressivo e pra cima com electro de tons escuros encheu o grandioso espaço do palco enquanto a plateia se extendia bem além do alcance da vista.

O BassPOD. // Foto por Freedom Film LLC

A casa do subwoofer no festival, o BassPOD, não é mais um pod, mas um caldeirão cercado de satélites com visual industrial com telas de LED e as frequentes explosões pirotécnicas. O favorito dos festivais Andy C deu a uma plateia chapadona de skank o que eles precisavam em uma noite de sábado, em meio ao que era uma encenação bem impressionante. Mais cedo, Trollphace b2b Getter tinha estourado a eletricidade do palco, mas o POD se recuperou e continuou tão alto que o chão tremia a dezenas de metros de distância.

O b2b do Black Sun Empire com o State of Mind fechou o BassPOD no sábado. A apresentação inteira foi na vibe do drum and bass a mil por hora e durou até bem depois do nascer do sol. Vendo a molecada, entre um estado de coma e enlouquecimento, fazendo seu melhor para dançar enquanto tinham muito pouco controle de suas funções motoras foi uma lição de física e humanidade. Foi um set que parecia mais apropriado para fechar o apocalipse do que começar um novo dia.

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Dystopia a 160bpm, WasteLAND foi a casa de todo o hardstyle // Foto por aLive

Apesar da minha tolerância para o hardstyle ser suficiente para eu conseguir aguentar uns três segundos de som, a The WasteLAND (nascida Basscon) manteve a estética distópica que o hardstyle no EDC tem apresentado. Carros capotados flanqueavam uma estátua da liberdade caída que era quase o tamanho da real, e os DJs não apresentaram nada além do incansável bate estacas de quebrar o pescoço embatidas de 4x4 nas chamas de sua tocha.

A apresentação dos trios elétricos continuou forte esse ano, com sets surpresa de Kaskade, Dada Life e Tommie Sunshine se misturando com nomes em crescimento como o preponente do house esquisito Ghostea e Fritz Carlton e a technera do Modus, de Los Angeles. Os trios, geralmente andando, providenciaram um grau refrescante de espontaneidade colocados em comparação ao nível de organização meticuloso que a produção necessitava para manter os espetáculos nos palcos principais.

Kaskade se apresentou em cima de um trio elétrico maia às 5 da manhã do sábado // Foto por Mikey McNulty

O recém inaugurado palco FunkHOUSE parecia uma festa de arromba num quintal da Califórnia rolando um K-Day com os graves no máximo. Lá, Z-Trip se apresentou três noites seguidas com sets de formato aberto junto com os DJ Jazzy Jeff e Soul Clap, que mandou de Snoop Dogg a Toto com descarado compromisso em agradar o público. Qualquer que seja a cena que você curte, clássicos pops tocados livremente em remixagens bass foi algo inegavelmente divertido e despretensioso no meio de 36 horas de música eletrônica batendo. Adicionando ao estilo californiano, o FunkHOUSE era feito 100% de material reciclado.

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Ainda assim, os rastros de carbono que o EDC Las Vegas deve ter deixado são comparáveis a uma pequena explosão nuclear. Mesmo no calor extremo, praticamente todas as estruturas no campo explodiam com shows pirotécnicos, o (incrível) show que rolava toda noite deixou no ar enxofre o bastante para terminar com toda uma espécie de pássaros, e apesar da seca no oeste americano e o fato de Nevada ser um deserto, um lado do KineticFIELD apresentava três cachoeiras imensas, fluindo sem parar todo o fim de semana.

No EDC, tudo tem pirotecnia, até os banheiros // Foto por Jake West

Dada a proximidade de Las Vegas da Califórnia, não é surpresa que o estado tenha grande presença no EDC. As bandeiras mais presentes em festivais dance da costa oeste quase sempre são do Canadá e do Colorado. Mas de longe a mais visível esse ano foi a do mais recente ganhador da NBA, o Golden State Warriors. Seus orgulhosos fãs quase tinham ataques epiléticos ao encontrar uns aos outros.

Os brinquedos e instalações esse ano eram mais surreais e criativas do que nunca. Cada esquina parecia abrigar uma aventura interativa. Um grupo de águas vivas flutuou pelo festival todas as noites, iluminando o público com sua luz branca. Um globo giratório de seis metros de barras de ferro entrelaçadas serviu como um trepa-trepa para gente grande e uma piscina de bolinhas tamanho adulto fez muito marmanjo rir que nem criança. Até os bules em pernas de pau do Burning Man e Lightning in a Bottle fizeram uma aparição.

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Ninguém do THUMP se feriu nessa estrutura, apesar de ficarmos meio tontos // Foto por Curious Josh

No entanto, na terceira noite, não foi apenas o público frito que sentiu a fadiga. De volta à cidade, eu ouvi uma senhorinha fazendo croché e um policial de bicicleta em um ponto de taxi lamentando como seu fim de semana foi arruinado pela invasão do exército colorido de Pasquale. "Eles ir embora até amanhã", o policial disse. Nós devolveremos a sua cidade daqui a pouco, caras, mas não antes de uma última dançadinha.

Parabéns ao Stage 7 por ser menos um pesadelo de ativação do que no ano passado. A programação, apesar de ter ficado ainda melhor em 2015, nunca foi um problema, mas qualquer coisa seria uma melhora comparado ao exagero de propagandas da 7Up do ano passado,durante o qual toda vez que um logo brilhante da 7Up aparecia era como se o público inteiro sentisse um impulso incontrolável de curtir um Sierra Mist.

"Agora quando eu disser 'Pu' você diz 'bliça!'" // Foto por aLive

Na noite do domingo, o Stage 7 apresentou a Night Bass do AC Slater, e com ele um lineup de house, bass e garage com gente tipo o Chris Lorenzo, a lenda do garage DJ EZ e os reis do fidget bass Jack Beats.

Lorenzo, especialmente, parecia estar fazendo um teste para um papel em um palco maior, tocando remixes de Deadmau5, Steve Aoki e Chris Isaak. Não bem speed garage, claro, mas para um cara que passou muito da sua carreira dando à música de outras pessoas seu toque pessoal, você pode perdoar um pouco de breguiçe quando o palco principal chama.

Jack Beats de alguma forma conseguiu quebrar as barreiras consistentemente enquanto era divertido pra caralho para a maioria das pessoas perceberem. A dupla escocesa estava incansável entregando elásticas linhas de baixo e batidas fora de tempo, apesar de terem reciclado muito do material quando tocaram seu segundo set da noite no CosmicMEADOW mais tarde, onde eles tiveram a inegável tarefa de dar sequência a energia do Bassnectar indo até uma reunião do exército branco e preto do Flosstradamus.

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EDC, inteiro // Foto por Doug Van Sant

O fim de semana terminou com Claude VonStroke e Green Velvet colaborando no projeto Get Real. Tendo algum tempo para se entrosar, a dupla correspondeu à expectativa, tocando techno com afinidades old school filtradas através de uma paleta Dirtybird. Depois, o Hot Since 82 fechou com um set surpresa, aterrissando em Las Vegas depois de sequestrar um monte de gente na noite anterior.

O EDC é o único festival grande onde você ainda vê crianças trocando kandis. Enquanto muitos se distanciam das conotações da "rave", a Insomniac a abraçou e por isso assume ainda mais o no papel de atravessador cultural, uma posição fortalecida pelo fiel comprometimento da marca em defender gêneros de nicho como o drum and bass, hardstyle e trance em palcos maiores do que conseguiriam do lado oeste dos EUA.

Ao fazer isso, o EDC anda na corda bamba de manter o passado enquanto anda pra frente. O festival é, sem dúvida, o último bastião da cultura de rave do interior do país e um defensor do EDM, mas a desenfatização do palco principal, anteriormente o ovo de ouro do festival, é um movimento grande e necessário para empurrar a cultura dance music americana para frente.

Angello e Garrix, um sueco e um holandês, num arroubo patriótico // Foto por Freedom Film LLC

De Disclosure a Flume a Oliver Heldens, alguns artistas sugerem que públicos de mainstream são capazes de esperar mais da música que eles consomem. Isso quer dizer que Aphex Twin vai ser headliner do KineticFIELD no ano que vem? Provavelmente não, mas cada moleque cheio de kandis que foi até o NeonGARDEN para ver o Disclosure deu um passo a mais até a terra prometida da cultura underground dance music (mesmo que tenham rudemente te empurrado para chegar lá).

Essa é a narrativa dominante do EDC Las Vegas, ou até da dance music como um todo nos EUA em 2015. Dance, eletrônico, rave e música de balada podem todos ter seu próprio nome, mas enquanto a música eletrônica continua a crescer em um nicho essencial da cultura americana e o paladar amadurece e muda nesse ritmo, são eventos que abraçam tudo como o EDC que servem como pontos focais onde convergimos, oferecendo tanto contexto quanto perspectiva para essa nossa cultura enquanto permanece uma balada épica de proporções incomensuravelmente galáticas.