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Música

A Hydra Head levou-me a curtir nu-metal

Deftones e Jesu soam à mesma coisa?

Na semana passada, a Hydra Head Records anunciou que iria fechar portas… ou algo do género. Fiquei triste — não que seja o maior entusiasta de metal para gajos barbudos —, porque a Hydra Head era uma editora bem gerida, que não olhava a gastos nas suas edições, que apoiava os seus artistas e que era gerida por pessoas porreiras. Não estou a desculpar-me quando digo: “Ei meu, eles fizeram uma cena fixe… se esta é a tua cena.” Só não adoro música lenta e erva. Uma das sedes da Hydra Head situava-se na Calumet Street, em Boston. Eu vivia do outro lado da rua e existiam cerca de 300 bandas na vizinhança. Havia mais “casas” com base no género, mas a Hydra Head era a “casa do metal”. Se passasse por lá, os gajos até me davam promos das cenas que eu poderia curtir, o que era muito fixe da parte deles. Talvez distribuírem edições limitadas de vinis a fãs casuais de metal (porque é tão bom partilhar) seja a explicação para eles terem falido. Então, obrigado Hydra Head, por fazerem isso: é que este processo de filtragem ajudou-me a evitar a merda das bandas imitadoras dos Neurosis e outras porcarias que, provavelmente, soariam aos Bloodlet. Aliás, obrigado por me informarem que o meu vizinho fazia parte dos Old Man Gloom e que eu iria, possivelmente, curtir o som deles. Por fim, obrigado por editarem os discos dos Prurient. A Hydra Head e a Big Wheel Recreation estavam, na verdade, sedeadas na mesma rua, a menos de 70 casas de distância entre si. A Bridge Nine ficava a umas ruas acima. Tenho a certeza de que também havia uma editora de slowcore nas redondezas, mas essa merda era demasiado aborrecida para nos preocuparmos com a sua existência. Então, snif snif. Estou tão triste por todas estas editoras da minha rua estarem a ir-se, que até tenho encontrado cabelos na minha almofada: o meu metabolismo já não é tão eficaz o quanto o de um vegan de 20 anos. Há merdas que acontecem. Não quero que se sintam mal com o meu envelhecimento, mas sim que lamentem o desaparecimento das editoras indie influentes. Em vez de vos debitar a história desta editora, ou de falar-vos sobre os apartamentos merdosos da Mission Hill, quero sublinhar algo realmente importante. Quando a Hydra Head começou, em 1993, o nu-metal ainda não era um género. E por que é que isto interessa? Bem… era fácil detectar o nu-metal em meados dos anos 90. Estas bandas tinham de ter um DJ, pelo menos um wigger [um gajo branco com a mania que é do hip-hop] hábil, tipo o Wes Borland, e um caucasiano com rastas. A malta antiquada do metal odiou a cena dos Metallica terem começado a tendência dos metaleiros de cabelo curto. Tudo piorou quando o nu-metal atingiu o seu auge. De repente, passaram a haver mais piercings, tatuagens tribais e cabeças rapadas. Ao mesmo tempo, houve um crescimento da cena “thinking man’s metal”, um slogan a gozar (mas muito aproriado) nas t-shirts da Hydra Head. Estes eram os metaleiros que frequentavam as faculdades privadas, que gostavam dos Sleep tanto quanto adoravam design gráfico e que tinham, normalmente, cabelo curto. As coisas tornaram-se mais esquisitas quando a Hydra Head, o seu fundador Aaron Turner e a sua banda, os Isis, ganharam (ainda mais) popularidade. O metal continuou a ser… menos metal. A Hydra Head contribuiu para a mudança do paradigma do metal de banda-sonora de parque de estacionamento para o designer barbudo das artes. Isto traz-nos de volta ao presente, uma era onde ninguém consegue definir um género sem um gajo qualquer da Pitchfork inventar um nome descritivo, que me sufoca. Agora temos tantos tipos de metal que já nem sequer são metal, porque isso já nem existe. Sei disto por causa de uma banda da Hydra Head chamada Jesu. Como devem sabem, os Jesu são o Justin Broadrick, o seu computador e, às vezes, uma banda a sério. Ele é o padrinho dos gajos do metal inteligente (e não das gajas, porque, sejamos honestos, este género é um espaço masculino), portanto faz sentido que tenha entrado para a Hydra Head. O Justin recebe montes de críticas que o elogiam pela sua aproximação cerebral ao metal. Até nos Godflesh, ele tinha a cabeça rapada e não era um metaleiro. Sou capaz de gostar de Jesu, porque a música é uma mistura entre as raízes industriais do Justin e do shoegaze. Gosto disto, mas não sou um fã obcecado como o é a maioria dos seguidores de Jesu. Este é o motivo por que eles soam a Deftones e até os críticos de música comparam os Deftones aos Slint ou aos Red House Painters. Eles descrevem a música dos gajos como “evocativa do sentimento de depressão, com melodias mergulhadas em oceanos de música impossivelmente lenta”. Não consigo embarcar nessa modinha “maravilhosa”. Talvez conseguisse achar os Deftones “maravilhosos”, se mandassem o DJ passear — porque ele agora só faz “cenas” —, mas eles agora só tocam em grandes salas e merdas do género, por isso, penso que já não estão a dar o máximo. De qualquer modo, não concordo que Deftones soe a Jesu, embora a malta “inteligente” até nem curta isso. Não culpo a Hydra Head pelo snobismo do metal. Só fico confuso porque ambas as bandas tocam música densa e calma, com toques melódicos e vozes sussurrantes. Talvez seja porque os nomes destes gajos são uma valente merda. Ou então, porque, na maioria, os membros das bandas são brancos, mas os Deftones não conseguem dar um abanão a sério. Nem podemos mandar as culpas para cima das barbichas de bode, porque há uma data de bandas de metal aprovadas pela Pitchfork que as têm. É incrível, porque os metaleiros até tentaram gozar com o projecto paralelo do Chino Moreno (nem sei como escrever o nome disto, só sei que tem uma carrada de cruzes). Talvez eles fiquem mais simpáticos quando lerem este artigo. Até que isso aconteça, é uma bosta que a Hydra Head tenha de acabar. O metal tornou-se demasiado estranho e vender vinis com capas bem cortadinhas e carimbadas não dá lucro, de todo.