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Música

O MC mineiro Matéria Prima expande os horizontes no novo disco '2 Atos'

O rapper se junta ao paulistano Gui Amabis e lança álbum para sair da zona de conforto.
Foto: Pablo Bernardo/Divulgação

O Matéria Prima está na música há miliduca, seja integrando o lendário grupo Quinto Andar, o Subsolo, a banda Zimun, ou em carreira solo. No ano passado, ele se aventurou em uma outra praia, um lance mais tranquilo, com bases diferentes, explorando outros ares com o lançamento do single "Feito de Barro/Porque", com produção do Gui Amabis. Os dois sons na verdade fazem parte de um show/performance chamado 2 Atos,  dirigido por Gracê Passô e com direção artística do Rui Moreira. 2 Atos também é o nome do disco que sai nesta terça-feira (17) com exclusividade aqui no Noisey e conta com 10 faixas, que além de Matéria Prima e Gui Amabis, tem Edgard Dedig (guitarra), Ravel Veiga (baixo), Lenis Rino (bateria) e Barulhista (eletrônicos).

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Para entender um pouco mais sobre o disco, que não tá dentro da dicotomia trap x boom bap, como a expansão dos horizontes sonoros se mostrou uma alternativa e porque Belo Horizonte tem aparecido muito mais para o pessoal de São Paulo no quesito hip-hop, troquei uma ideia com o Matéria Prima.

Enquanto você lê o papo, escute o 2 Atos no player abaixo.

Você sempre se mostrou bastante cabeça aberta, chegou até a gravar com o Constantina , em Pacífico . Por que investir em uma sonoridade diferente, fugir do trap, do boom bap?
Pra ampliar o leque de atuação do rap. Fazer as pessoas refletirem que se pode ir além do convencional e desmarginalizar. E também sair da zona de conforto.

O Gui Amabis é um cara conhecido por trabalhar bastante com trilhas pra cinema. Como rolou esse contato com ele pra criação da performance 2 Atos e da gravação/produção do disco?
Gostei do Memórias Luso-africanas e dos trabalhos prévios com a Céu. Com os recursos do Edital da Funarte para fomento de artistas negros, surgiu a possibilidade de fazer esse trabalho com ele. Entramos em contato, e deu tudo certo. O Gui é um cara massa.

O Arthur Verocai lançou um discão depois de mó cota e chamou o Brown e o Criolo pra cantar lá. O Diomedes Chinaski lançou um som com direito a piano e o caralho . O próprio Ogi usou de um monte de instrumentos orgânicos no Rá! , como as guitarras do Kiko Dinucci e os sopros do Thiago França. Você acha que esse lance mais orgânico, menos sample e beat, é a nova onda do rap por aqui?
Eu faço parte de um grupo de BH chamado Zimun, que já tem mais de cinco anos e é no formato banda. Tudo isso eu trouxe da bagagem que adquiri com o nosso processo de formação e com as demais influências como The Roots e Digable Planets, aquela banda do show em que a gente se encontrou (risos).

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"Feito de Barro" é um som que eu achei foda de cara. A produção, sua caneta, tudo, é uma música completa, um dos melhores sons do ano passado, sem dúvida. Queria saber qual é a história por trás dela, como ela foi feita, a partir do que rolou essa ideia de "porque você é feito de barro e me atirando lama, também faz parte de mim".
É sobre a facilidade de apontar os erros do outro e não refletir sobre os seus. É uma releitura do jogam pedra com teto de vidro nesses tempos dessa onda de ódio irrestrito. Mas todo trampo tá sujeito a um monte de interpretações, né? Não precisa ser colocado numa caixa…

Tem um som em inglês no disco, "Waiting for the Bus". Li que você aprendeu inglês sozinho e inclusive foi o intérprete do Bambaataa quando ele veio pro Brasil. Por que colocar um som em inglês num disco que muitos poderiam colocar a tag de MPB e qual a sua relação com esse idioma?
Nesse disco, eu tive a chance de experimentar, ter a liberdade de expandir pra além do que já tinha feito. Essa música tinha uma outra letra, mas um dia, no ponto de ônibus, vi um senhor que chamou minha atenção e tirei uma foto dele escondido (risos)! Daí comecei a pensar num som baseado na foto, que é essa daqui.

Aí eu tive a sorte de "ganhar" do cosmos essa música em inglês (risos)! O lance do inglês é que eu andava de skate e sempre pesquisei as revistas, e, na época, as que tinham eram mais as gringas. Depois, as letras dos raps que ouvia e fui desenvolvendo uma facilidade. Teve uma época em que eu beirava o inconveniente, falando inglês em toda chance que tinha pra praticar, mas isso resultou, anos mais tarde, até numa chance de traduzir uma palestra do Bambaataa.

Belo Horizonte sempre teve um movimento forte de hip-hop, principalmente com o viaduto Santa Tereza e as batalhas que rolam por lá. Muitos artistas mineiros começaram a ter mais espaço, como a galera do DV Tribo . Você acha que tem mais gente produzindo em BH ou a galera começou a pensar fora do eixo Rio-SP depois de "Sulicídio"?
Bem, antes da Família de Rua — a maior agitadora do hip hop por aqui — se formar, já existia um flerte do rap local com outros estados, inclusive nas produções. Gurila Mangani e Enece já cruzavam o Brasil fazendo pontes com vários lugares através de seus beats, por exemplo. Agora, aos poucos, BH tem chance de mostrar a que veio.

Nesta quarta (18) já vai rolar um show de lançamento. Ele vai seguir esse esquema performático dos outros shows ou vai ter alguma surpresa?
Esse show tem uma pincelada cênica, que é dirigida pela Grace Passô e tem a direção de arte de Rui Moreira. O teatro propicia uma ambiência densa, que deixa a música mais poderosa. Vamos dar sequência ao plano de dominar outros palcos (risos)!

Matéria Prima — 2 Atos em Belo Horizonte Quarta-feira, 18/01, às 20hs
Galpão Cine Horto Rua Pitangui, 3613 - Concórdia
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)