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Como está o cara que come só carne crua há sete anos?

Uma entrevista com Derek Nance, um homem que alega que sua dieta paleolítica melhorou uma misteriosa doença estomacal e seu sistema imunológico.

Minha visita à casa do Derek. Aqui, ele mostra o conteúdo de seu freezer no porão. Todas as fotos pelo autor.

Quando eu estava viajando pelos EUA alguns anos atrás, conheci um cara do Kentucky que dizia comer apenas carne crua. Como Derek Nance me explicou, ele cresceu com uma doença estomacal misteriosa que só melhorou depois de ele ter adotado uma variedade bem hardcore da dieta paleolítica. Quando Derek começou a comer só carne crua – consumindo órgãos internos para absorver vitamina C e aproveitando restos rançosos para melhorar seu sistema imunológico –, todos os problemas dele acabaram. Ele até começou a escovar os dentes com gordura animal. Então, escrevi uma matéria sobre minha noite com o Derek e a namorada vegetariana (sério) dele – e segui meu caminho.

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Isso já faz alguns anos, e eu fiquei pensando no Derek. Liguei para ele recentemente e descobri que ele tinha acabado de voltar de uma espécie de turnê da carne pela Europa. Ele diz que a carne europeia é uma porcaria; portanto, falamos sobre carne boa, atenção da internet e como minha matéria o fez perder o emprego.

VICE: Oi, Derek. Você continua comendo carne crua?
Derek Nance: Sim. Até achei outras pessoas que cuidam dos animais para mim. Eu negocio, pechincho. Às vezes, uso o Craigslist.

Mas, dá última vez que nos falamos, você estava trabalhado como açougueiro, não?
Sim, eu abatia animais para fazendeiros. Só que, depois que a matéria saiu, um programa de TV alemão quis me filmar no meu trabalho. E os fazendeiros são pessoas simples, eles ficaram com medo de que isso fosse uma publicidade negativa. Cheguei para trabalhar numa segunda-feira, quando a equipe alemã estava comigo, e meu chefe disse "Aqui está seu cheque, você está despedido". Entretanto, eu estava recebendo salário mínimo mesmo. Eu estava lá só para aprender.

Cabeça de cordeiro é tipo uma sobremesa.

Nossa, cara, desculpe!
Não, fiquei feliz com como as coisas terminaram. Isso começou com o Facebook. Por causa da matéria, um monte de gente estrangeira começou a me adicionar, gente que eu não conhecia. Aí comecei a receber não apenas telefonemas mas também ofertas. Há vários documentários sobre mim agora. Fiz uma série chamada A Million Ways to Live mostrando minha dieta de carne crua. Para a BBC, também. Também recebi proposta do Galileo, um programa de variedades alemão. Eles vieram até aqui e me trouxeram um carneiro, porém ele acabou fugindo.

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Que loucura, cara. Acho que nenhum de nós esperava essa reação. Mas me conta como você está agora. Como era a carne na Europa?
Bom, sou da região de bluegrass do Kentucky. O solo aqui é bom, e a carne tem um gosto bem acima das coisas da Europa. Eu achava que eles tinham padrões mais altos para comida lá, mas é meio que um Estado policial. Tipo, na Inglaterra você não acha pulmão em lugar nenhum; mesmo que haggis [um prato típico escocês] tradicional seja feito de pulmão, eles não deixam você comprar isso. Eu estava tentando achar gordura animal porque minha dieta consiste de muita gordura animal, mas tudo lá é supermagro. Andei por Londres inteira e finalmente achei uma loja halal, e eles estavam cortando toda a gordura da carne deles. Tentei comprar a gordura, porém eles falaram "Não vendemos gordura, isso é porcaria". Eu insisti e eles me deram um pedacinho, mas o gosto não era tão bom.

Shake de órgãos.

Você consegue explicar como a carne europeia é diferente?
Carne de baixa qualidade tem um elemento de acidez que é difícil descrever. Animais de pasto pegam naturalmente tipos diferentes de plantas quando se alimentam. Entretanto, animais confinados só comem um ou dois tipos de grama. Isso sobrecarrega os órgãos deles. Já experimentei esse tipo de vaca, e não é gostoso. Prefiro comer animais que têm acesso a um bom pasto, com uma variedade de plantas que eles possam escolher.

Verdade que você também foi à França para encontrar um dos seus heróis?
Sim, conhecer a Ingre era minha principal missão. Ela é da Noruega, tem 38 anos e está nessa dieta há nove. Ela é 90% carnívora. Ela sai para pegar ostras, tipo umas 100 em uma hora, e come tudo isso. Ela é linda, forte e cheia de vida. Realmente exuberante.

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Como ela vive?
Ela vive numa fazenda de cavalos. Ela não curte a vida artificial; logo, ela dorme com as janelas abertas. Ela dá um mergulho no rio gelado toda manhã. Ela come peixe, principalmente smoothies de cabeça de peixe.

E você tomou um smoothie de cabeça de peixe?
Não, mas comemos algumas cabeças inteiras de peixe. Elas são bem crocantes.

Qual era sua missão? Aprender com ela?
Eu nunca tinha tido a chance de andar com pessoas como eu. Ela tem este espírito, uma energia tipo "o universo proverá". Tem muita coisa nesse espírito que você não enxerga num fórum da internet. Você tem de experimentar em primeira mão.

Derek demonstra sua saúde e vitalidade com a namorada, Joanne.

Você acha que tem um pouco desse espírito?
Espero que sim. Estou me sentindo ótimo. Claro que há altos e baixos. Tenho quatro filhos, passo muito tempo tentando cuidar deles. Além disso, essa vida na fazenda com um monte de animais, isso me deixa cansado. Mas me recupero facilmente e me sinto muito melhor do que antes da dieta.

O que você tem programado para o ano que vem?
Tenho muita coisa para fazer no meu quintal. Vou fazer uma sauna. Talvez eu vá à Nova Zelândia. Talvez eu vá à Austrália comer um wallaby. Eles parecem um pouco mais gordinhos que os cangurus.

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Tradução: Marina Schnoor.

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