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Um advogado corporativo explica por que viajou para todas as lojas da Supreme do mundo

David Shapiro tem 27 anos, não sabe andar de skate e escreveu o livro ‘Supremacist’ sobre a sua obsessão e amor não correspondido com a marca.
MS
Traduzido por Marina Schnoor

David Shapiro não é exatamente a imagem padrão de um viciado em streetwear. Ele trabalha como advogado corporativo, não sabe andar de skate, e foi expulso da loja original da Supreme em Nova York. Apesar disso, ele conhece o preço de todos os itens à venda da Supreme de cor — e diz ter gasto uns 15 mil dólares em roupas e acessórios da marca em dez anos como fã. (Ele também diz que sabe exatamente quanto de cada material é usado para fazer cada item, uma afirmação quase impossível de confirmar.) Em outras palavras, Shapiro adora a marca mesmo não se identificando.

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O novo livro de Shapiro, Supremacist, é um conto fictício da viagem que ele fez para visitar todas as lojas da Supreme do mundo (menos a de Paris, que abriu depois que ele já tinha voltado). O narrador — uma versão de Shapiro — viaja para nove fachadas praticamente idênticas, acompanhado por um amigo que não entende qual o apelo da marca. Durante sua peregrinação de moda de rua, Shapiro lida — mal — com abuso de drogas. (Em certo ponto ele comenta: "Era difícil saber qual das substâncias que eu estava usado era a fonte do meu desconforto".) Ele também passa vergonha na frente de vários skatistas, e tenta articular por que a Supreme não perdeu sua aura mágica e autenticidade desde que foi fundada em 1994.

O romance não é o primeiro livro do autor de 27 anos, nem seu primeiro texto sobre a Supreme. Mas o falso livro de memórias da viagem de Shapiro para as Supremes de LA, Harajuku, Daikanyama, Shibuya, Nagoia, Osaka, Fukuoka, Londres e Nova York provavelmente é a melhor coisa que ele já publicou, e sem dúvida a dissecação mais íntima da marca e da hierarquia de seu fandom atual. De certa maneira, o romance é tipo um Noivo Neurótico, Noiva Nervosa millennial, mas em vez de mostrar um casal se apaixonando e desapaixonando, o livro é uma carta de amor a única coisa sobre a qual seus sentimentos nunca mudaram, mesmo que ele descubra que não é correspondido.

Apropriadamente, durante uma entrevista recente, perguntei a Shapiro se ele gostaria que o fundador da Supreme, James Jebbia, o aceitasse ou fosse seu amigo. Ele respondeu citando Woody Allen: "Você conhece a frase: 'Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como membro'. Tipo, seria brega se eles gostassem de mim". Durante muitas horas e muitas cervejas, Shapiro e eu conversamos sobre sua missão pelo mundo e por que ele coloca a marca num pedestal, apesar de nunca ter andado de skate ou mesmo se sentir confortável entrando na loja da Lafayette Street em Manhattan. A entrevista foi editada para dar mais clareza.

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Foto por Zach Sokol

VICE: Qual foi o primeiro produto Supreme que você comprou? E por que você comprou?
David Shapiro: Não me lembro. Lembro de estar na faculdade, passar pela loja na Lafayette e pensar que eu não era o cara para comprar produtos ali, que acho que é o mesmo sentimento que me motivou a comprar e continuar comprando um monte de coisas deles.

Ainda acho que não sou o cara, comparado com, sabe, um skatista de 17 anos, Mark Gonzalez, um skatista mais velho, ou qualquer skatista, francamente. O skate está no cerne ou no DNA da marca, e não é algo que faço, ou que conseguiria fazer. Claro, tenho inveja de quem sabe andar de skate.

No livro, você fala muito sobre por que acha a Supreme uma marca interessante, mas não exatamente por que você é obcecado por ela. Você até toca no assunto, mas eu queria saber mais sobre seu interesse pessoal na empresa.
A Supreme é uma coisa que eu achava muito legal quando tinha 18 anos. Tinha muitas outras coisas que eu achava legal quando eu tinha 18. Agora tenho 27 e comecei a notar que algumas coisas que eram legais no colegial não são mais, ou nunca foram. Mas a Supreme ainda tem a aura que tinha.

Quando concordei em fazer o livro, tive medo que na época em que ele saísse, a bolha já tivesse estourado. Mas isso não aconteceu. Acho que se a Supreme continuar vendendo produtos interessantes do jeito que faz agora, ela continuará relevante eternamente. Tem alguém novo no comando, em termos gerais, na concepção dos produtos, e acho que isso ainda não foi testado, mas vamos ver. Muitas coisas vieram e se foram enquanto a Supreme continuou aí.

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Para mim, sim, Supreme ou nada.

Você quer ser reconhecido como um especialista ou autoridade em Supreme?
Não, não quero ser conhecido como uma autoridade. Tem moleques de 16 anos que conhecem mais sobre a Supreme que eu. Estou escrevendo sobre a Supreme — em matérias sobre a marca e agora nesse livro — e me sinto como um liliputiano gritando "Me notem! Me reconheçam!"

Parte do apelo da marca é que ela sempre estará distante, e acho que conforme entendo a sofisticação dela, as camadas, a profundidade e a profundidade de seus produtos, ela só se torna mais legal, maior e mais distante de mim. Acho que muitas outras marcas vieram e se foram, mas a Supreme é exatamente o que sempre foi.

Você tem um trabalho fixo interessante para alguém obcecado por uma marca de skate. Fale um pouco sobre a sua carreira.
Sou advogado. Acho que posso dizer que esse livro não vai fazer nada pela minha carreira. Não sou um romancista ou escritor. E tento manter a escrita separada da minha profissão. Se quisesse ser escritor, eu não teria escrito um livro como esse, um livro que acho que não tem um grande público. Não acho que [Supremacist] é fácil de gostar. Acho que ter uma carreira inteiramente separada desse livro e de escrever me permitiu fazer um livro o mais honesto possível.

Por que você resolver chamar Supremacist de romance? Quanto da narrativa é realmente ficção?
Um cara de 27 anos publicando um livro de memórias é questionável. Não sei o que me dá o direito de escrever um livro de memórias. Seria irritante. Escrevi do jeito que achei que seria mais interessante para contar a história. Acho que se eu fizesse um diário contando uma viagem pelo globo para cada loja Supreme e falando sobre a marca, ficaria muito seco. Você precisa de um livro com seres humanos, com pessoas que transam.

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Esse é o único jeito que consegui pensar para escrever o livro, só em formato de romance, em que eu tinha uma licença [criativa]. Meu objetivo é que as pessoas peguem o livro e terminem de ler — se a pessoa chegar ao final, tive sucesso. E esse é o único parâmetro.

Para quem você escreveu esse livro — além de você mesmo?
Primeiro, eu queria fazer a viagem [para todas as lojas Supreme do mundo] e seria difícil pagar tudo do meu próprio bolso. Então vendi a ideia de escrever o livro sobre a viagem para conseguir o financiamento, aí paguei pela viagem escrevendo o livro.

Já escrevi várias matérias sobre a Supreme. E já falei com James Jebbia, o fundador. Ele me mandou um e-mail depois de uma matéria que escrevi, sobre como estavam arrancando os cartazes da Supreme da campanha de propaganda deles e vendendo no eBay por $450. Ele dizia algo como "Você só escreve matérias chatas, negativas e unilaterais sobre a Supreme ou é assim com todo mundo?" E foi difícil para mim. [Jebbia] achou que eu tinha escrito uma matéria negativa sobre a marca e seus fãs. Respondi dizendo que ele tinha me entendido mal. Não sei se ele sabe o grande fã que sou. Acho que ele pensa que sou um antagonista. Isso ficou comigo.

Acho que talvez minha esperança seja que ele leia [Supremacist] e pense "OK, foda-se esse cara, mas ele não odeia a marca".

Talvez a Supreme não seja um projeto propositalmente profundo da maneira como imagino… Talvez seja só uns caras colocando coisas que acham legais em camisetas…

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Quais foram suas motivações para escrever o livro?
Muitas vezes falei sobre a Supreme com pessoas que respeito, e a impressão delas da Supreme é tipo "Supreme é como a Diamond Supply ou The Hundreds. Ou mesmo como a DC Shoes ou a Etnie's, ou qualquer outra marca de skate". Eu queria demonstrar — não que a marca não demonstre por si — que tem muita coisa rolando com a Supreme. Acho que as pessoas vão ter uma impressão profundamente diferente da marca depois que lerem o livro. E sinto que elas vão ver que, de certa maneira, subestimaram a marca, da mesma maneira que subestimei quando me familiarizei com ela da primeira vez.

Além disso, eu também queria demonstrar que a Supreme é uma declaração sofisticada, e que quase toda peça que eles fazem é uma referência e que as referências são, de certa maneira, o jeito da Supreme de se comunicar: "É isso que importa, é isso que achamos que importa, bom ou mau".

Por que escrever isso agora, sendo que você é fã há tanto tempo?
Acho que pensei nisso como a última coisa que eu faria como jovem, ou talvez uma tentativa de memorizar minha juventude. Há um aspecto selvagem nisso, ou alguma qualidade de juventude que não poderei mais explorar, porque está na hora de crescer.

Você já quis ser aceito por James Jebbia e os colaboradores da Supreme?
Você conhece a frase: "Não quero fazer parte de nenhum clube que me aceite como membro". Tipo, seria muito brega se eles gostassem de mim. Acho que lidar com eles pessoalmente, conhecê-los como humanos, tornaria meu projeto menos atraente. Talvez a Supreme não seja um projeto propositalmente profundo da maneira como imagino… Talvez seja só uns caras colocando coisas que acham legais em camisetas.

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Você sempre diz que gosta quando te perguntam se você acha seu livro bom. O que você mais gosta nesse livro?
As fotos são fantásticas.

David Shapiro é o autor de You're Not Much Use to Anyone e Supremacist, que sai em 5 de julho nos EUA pela New York Tyrant. Dá para encomendar o livro aqui.

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Matéria originalmente publicada na VICE US.

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