As Incríveis Fotos Cinematográficas de Pierre Winther

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As Incríveis Fotos Cinematográficas de Pierre Winther

As imagens de Pierre Winther parecem stills de algum filme bizarro – um filme que você não entende, mas de que gosta mesmo assim.

À primeira vista, você pode pensar que as imagens de Pierre Winther são stills do set de algum filme bizarro – um filme que você não entende, mas de que gosta mesmo assim. É fácil criar um enredo em torno de cada foto; no entanto, você também pode simplesmente olhá-las e ficar hipnotizado.

Em sua longa carreira, Winther tem sido responsável por algumas das campanhas publicitárias mais icônicas de marcas como Levi's, Diesel e Dunhill; ele também trabalhou para a The Face e a Rolling Stone, além de ter feito clipes para Björk, INXS e Beastie Boys. Seu novo livro, Nothing Beats Reality (teNeues, 2015), é uma compilação de seus melhores trabalhos – um tornado de vanguarda de um artista que vem ultrapassando os limites da fotografia nos últimos 25 anos.

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Tive o prazer de passar uma tarde com ele no Babelsberg Studios, em Berlim, onde ele escalou todos os cenários, e conversamos sobre seu novo livro.

VICE: Nothing Beats Reality é seu primeiro livro. Por que você demorou tanto para lançar um?
Pierre Winther: Tinha sempre outra coisa me distraindo. Mas achei que agora era a hora de juntar algumas fotos que fiz nos últimos 25 anos. Mas isso não é nem a ponta do icebergue. Já comecei a trabalhar num segundo livro com minhas polaroides originais, desejos e rascunhos.

Como você escolheu as fotos para esse livro?
A ideia do livro era dar a sensação de que são cinco ou seis histórias paralelas acontecendo ao mesmo tempo – mais como um filme. Isso deve dar a sensação de que você está entrando nessas histórias e que pode decidir como elas acabam. Por isso, você vê personagens reaparecerem. Editei o livro dessa maneria para criar uma narrativa cinematográfica entre as histórias.

Você é fotógrafo, artista conceitual, diretor criativo e diretor. Como você se rotularia?
Isso tem sido uma questão nos últimos 25 anos. Estou com um pé em cada campo. Sempre vi meus trabalhos comerciais como projetos de arte com um logotipo no final. Mas o mundo da arte diria que fiz esse projeto para um cliente; então, isso não é realmente arte. Já o mundo comercial diria que isso é um pouco artístico demais.

Mas isso trabalhou a seu favor, não?
Totalmente. Se os clientes veem que minhas imagens são boas o suficiente para estar num leilão, eles percebem que minhas fotos de campanha devem ser realmente boas. Sempre digo aos clientes: devemos tentar criar imagens de qualidade tão alta que você as queira pendurar na parede depois. Esse é meu objetivo quando começo um projeto.

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E como seu trabalho transcende o comercial e se torna arte?
Acho que sempre estive nisso, é essa a questão. Sempre me vi mais como um artista. Mas percebi cedo que, se queria alcançar as imagens que tinha em mente, eu tinha de ter alguém que pagasse por elas. Então, eu ia até os clientes e vendia minhas ideias, e é assim que eles se tornavam meus benfeitores. Quase nada meu é trabalho comissionado por alguma agência.

Quantas pessoas você tinha no set durante esse tipo de produção?
O mesmo que você teria se estivesse fazendo uma grande produção comercial: 50 a 70 pessoas, talvez. Mas é aí que combino stills e filme. É um jeito de combinar tudo isso, porque minhas fotos se parecem com filmes. Trabalho muito com o operador de câmera que filmou Guerra ao Terror.

É muita gente para tomar conta. As coisas já deram errado alguma vez?
Passo muito tempo planejando as sessões de fotos; então, acho que nunca tive uma situação assim – bate na madeira. Uma vez, fizemos uma sessão de fotos para a Nike com Dirk Nowitzki no deserto de Mojave. Isso envolveu um helicóptero Huey pilotado pelo cara que dirigiu o avião em Matrix.

A cena devia ser fotografada em dois estágios: primeiro, com ele segurando a escada, enquanto o helicóptero ainda estava no chão; e aí, para ter aquela sensação de voo, nós o colocaríamos pendurado num guindaste com grandes colchões embaixo. Ele estava segurando a escada, e o helicóptero voou uns 15 metros no ar. De repente, Dirk Nowitzki, o maior jogador de basquete da Alemanha, estava pendurado num helicóptero a 15 metros do chão. Você pode imaginar que foram muitos rostos assustados. Mas ele achou que foi muito divertido.

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Algumas das suas imagens são bem radicais. A do tubarão, por exemplo…
Toda vez que falo dessa imagem e como a fizemos, fico triste. O comunicado de imprensa original explicava que isso foi feito com 25 pessoas na água: mergulhadores de segurança, etc. Nós tranquilizamos o tubarão e colocamos um dublê de Los Angeles para montá-lo. Mas, do nada, o mundo se voltou contra nós – como pudemos usar animais para vender jeans? Na época, recebemos montes de faxes reclamando disso. Eu queria trazê-la de volta, porque as pessoas acham que isso foi feito no computador, mas não existia Photoshop em 1992.

Como você acha que a indústria mudou desde então?
As pessoas se tornaram muito mais conscientes do que as grandes marcas estão fazendo e do que elas fazem para se promover. Elas precisam ser mais política e etnicamente corretas.

Você tem um processo para suas ideias e conceitos?
Tudo começa com uma ideia – não há um nome nessa ideia, nenhuma marca, nada. Trabalho nisso do zero. Aí construo o conceito na minha parede, e aí que as coisas se formam. Depois, se não estou satisfeito, coloco isso de lado, mas fotografo tudo para ter um registro digital, para poder voltar a isso depois.

Para a imagem do tubarão da Levi's, por exemplo, a única revista de que eu gostava de ler na época era a National Geographic. Havia um artigo sobre tubarões e outro sobre touradas, e foi assim que a ideia surgiu. Nunca li as revistas de moda e nunca li a The Face quando estava fotografando para eles, porque acho que isso pode te influenciar inconscientemente. Busco inspiração na vida real e, por isso, escolhi esse título para o livro: Nothing Beats Reality ("Nada Supera a Realidade").

Você pretende fotografar seu próximo projeto aqui no Babelsberg Studios, certo?
É, esse projeto é uma combinação de muitas coisas, mas é mais um experimento social. Quero construir um cenário, um mundinho completo, um ambiente totalmente controlado numa caixa gigante. Não posso dizer o que isso vai ser, mas é sobre como percebemos um ao outro e como nosso julgamento pode ser errado. No final, isso deve fazer você pensar um pouco em como você é.

Eu crio o estímulo, faço um mundo visual interessante para onde as pessoas possam ser sugadas, mas, quando você finalmente está lá dentro, é como se eu fechasse a porta atrás de você. Claro, não vou fazer pessoas reféns, mas quero entregar uma mensagem de um jeito que prenda a atenção. É a mesma coisa com muitos dos meus projetos: cada um é um estímulo para os olhos à sua própria maneira.

Veja abaixo mais fotos de Winther.

Tradução: Marina Schnoor