Um documentário para o Rambo do Cerrado

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Um documentário para o Rambo do Cerrado

Filme revisita a inusitada vida e obra de Afonso Brazza.

Afonso Brazza e suas mil faces no cartaz do documentário.

Um bombeiro que realizava filmes de ação de baixíssimo orçamento. O cineasta Afonso Brazza (1955-2003) possui uma trajetória única dentro do cinema brasileiro. Após o início de carreira como figurante na Boca paulista, o ator e diretor radicou-se em Brasília. Foi lá que ficou conhecido nacionalmente quando dirigiu oito faroestes e filmes policiais como Inferno no Gama e Tortura Selvagem- a Grade. O sucesso foi tão grande que ele ficou conhecido pela imprensa como o Rambo do Cerrado.

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Os cineastas James Gama e Naji Sidki concluíram um curta-metragem sobre o inusitado realizador: Afonso é uma Brazza. O filme de 24 minutos documenta a trajetória pessoal e profissional do insólito diretor. O curta recebeu dois prêmios na última edição do Festival de Brasília e foi selecionado para a 27º do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. O filme passa na capital paulista nas próximas semanas. O realizador Naji Sidki conversou com a VICE sobre seu filme e a obra de Brazza.

VICE: Como vocês conheceram a obra de Afonso Brazza?
Naki Sidki: Brazza sempre foi uma figura admirada por todos no cinema. Ele era conhecido em Brasília por sua capacidade de realização e obstinação em vencer obstáculos. Ele dirigiu oito longas-metragens no estilo que gostava. Além disso, dizem que ele foi o único realizador a conseguir fazer um filme no ano que o Collor extinguiu a Embrafilme.

Foto dos bastidores de 'Tortura Selvagem - A Grade', de 2003, penúltimo filme de Brazza como ator.

Como surgiu a ideia do documentário?
O documentário foi desde o início uma ação entre amigos. James Gama e Betânia Victor se conheceram num curso livre de cinema e pensaram em realizar um documentário sobre o Brazza. Eles me chamaram para fazer a direção de fotografia. Anos depois de filmado o material com apoio da DotCine, da Cinecolor Digital e de toda equipe incrível conseguimos finalizar o filme que acaba sendo um registro da vida deste cineasta que já partiu.

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Quando vocês começaram o filme?
O documentário começou meio que como uma espécie de making off do longa-metragem Tortura Selvagem, a Grade, dirigido pelo Brazza em 2000. Logo depois tentamos arrecadar dinheiro para sua finalização e não conseguimos. A vida fez cada um dos parceiros tomar outro rumo. Em 2015, nos reunimos novamente e finalizamos o filme pensando em estrear no festival de Brasília, cidade natal do Brazza. Ganhamos prêmios e agora o filme começa a viajar indo para outros lugares. Estamos assim apresentando Brazza para gerações que ainda não o conhecem.

Os diretores Naji Sidki e James Gama.

Como foi a convivência com ele?
Brazza era uma pessoa cheia de energia, seu set era divertido, diferente. Ele era muito feliz realizando aquilo tudo. Sua energia era contagiante para todos. Ele e a atriz Claudete Joubert (esposa do diretor) são o fio condutor do nosso filme.

Os filmes dele fizeram muito sucesso em Brasília?
Sim, o público se divertia. Tortura Selvagem, a Grade ficou em cartaz durante um mês no Cinemark em Brasília. Brazza marcava presença na porta do cinema todo dia. Ele morreu em 2003 e até hoje é muito lembrado e homenageado. Ele foi um cineasta singular que acabou virando cult. Nosso filme ganhou júri popular na última edição do Festival de Brasília. Isso mostra bem como ele era uma figura carismática, interessante e divertida.

Muita gente conhece os trabalhos dele pelo lado trash. O que você acha disso?
Sim, os filmes dele tem esse lado trash mesmo. É um gênero de filmes como qualquer outro que tem muitos seguidores. Acredito que a melhor realização dele seja mesmo Tortura Selvagem, a Grade. A obra dele tem bastante coerência e estilo.

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Afonso dirige Zé do Caixão num set montado nos jardins do Palácio da Alvorada.

Quais foram as maiores dificuldades que vocês tiveram fazendo o documentário com ele?
A maior dificuldade que encontramos e depois se transformou em nossa maior conquista foi conseguir terminar o filme. Brazza merece ter um documentário respeitoso e carinhoso sobre sua vida, sua pessoa. Esperamos que com esse filme um maior número de pessoas assista e conheça esse personagem e seu entorno no cinema brasileiro.

Afonso é uma Brazza será exibido no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo 2016:
25/08, quinta- Cinemateca Brasileira (largo Senador Raul Cardoso, 207) ás 20h
02/09, sexta- Unibes Cultural (rua Oscar Freire, 2500) ás 18h

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