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Música

O Blowfly É um Velho Sujo

Entrevistei o lendário Blowfly, AKA Clarence Reid, o “primeiro rapper sujo do mundo”, e o homem por trás de paródias imortais como “Hole Man”, “Shittin' On the Dock of the Bay” e “My Baby Keeps Farting On My Face”.

A autora com Blowfly, o rapper vivo mais sujo de todos.

Final de semana passado, um senhor de 74 anos apontou seu dedo enrugado para mim e perguntou meu nome. Eu ri, nervosa, e disse que era Deenah. “Inez!”, ele disse. “Sabe de uma coisa?” Depois ele começou a cantar: “Last night I fucked somebody who looked just like you / She smelled like you too, I thought it was you!” (“Noite passada transei com alguém que se parecia com você / Cheirava como você também, acho que era você!”).

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Geralmente, quando velhos dizem essas coisas para mim eu simplesmente vou embora. Mas esse não era um idoso comum — era o lendário Blowfly, AKA Clarence Reid, o “primeiro rapper sujo do mundo”, e o homem por trás de paródias imortais como “Hole Man”, “Shittin' On the Dock of the Bay” e “My Baby Keeps Farting On My Face” — essa última baseada em “Raindrops Keep Falling on my Head”, diga-se de passagem.

ABC's of pussy do Blowfly.

Blowfly nasceu em 1939 e começou sua carreira nos anos 1960, escrevendo e produzindo para lendas do R&B como KC & The Sunshine Band, Bobby Byrd e Betty Wright. Ele também escreveu hits próprios como “Nobody But You, Babe”, que mais tarde foi sampleada pelo Wu-Tang Clan, e “Living Together is Keeping Us Apart”, que entrou para uma faixa do Dre e do Snoop. Mas seu alter ego é Blowfly, um rapper boca-suja que bolou paródias tão bestas e nojentas que fazem o 2 Live Crew parecer o Rock-afire Explosion.

Conheci Clarence num final de semana na WFMU Record Fair em Nova York e ele imediatamente me escolheu como alvo bem-intencionado de suas humilhações de caráter sexual. Acompanhei ele até um segundo show no museu PS1, uma instituição que deve ser recomendada por organizar um show com um velho de 74 anos, vestido de super-herói, gritando obscenidades. Ao longo do dia, Blowfly disse para meu namorado que ele tinha um pau franzino, recomendou que ele fizesse sexo oral em mim cantando a versão “Eat It” do Weird Al e cantou “Silent Night, Hole-ey Night” apontando para uma parte da minha anatomia que é melhor não comentar.

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Ele é um dos velhos mais estranhos que já conheci, então, tentei entrevistá-lo enquanto sua banda passava o som. Ele não respondeu direito a nenhuma das minhas perguntas, só as usou como escada para reflexões aleatórias e músicas que só às vezes eram compreensíveis. Em algumas partes, ele se lançava num fluxo meio consciente de digressões em múltiplas vozes, com momentos de clareza ensanduichados entre fragmentos de narrativa folclórica, trechos bíblicos, canções sujas improvisadas, memórias da infância no sul dos Estados Unidos e até uma canção carinhosa dedicada à minha mãe. Essa entrevista é quase ininteligível, então, peço desculpas antecipadamente pelo quão adoravelmente lunático esse tiozinho é.

Foto feita pela autora.

VICE: Oi, Blowfly! Conte sua história de vida numa frase.
Blowfly: Bom, eu nasci na área da Ku Klux Klan no Mississippi. Todos os negros lá gostavam de blues, mas eu era o único moleque que odiava aquilo. Eu pegava umas músicas caipiras e mudava elas com letras sacanas. Eu fazia isso pra emputecer os brancos, mas eles gostaram. Uma das minhas primeiras músicas foi da Minnie Pearl e Ernest Tubb. Eu peguei a música do Ernest Tubb, “Walking the Floor Over You” e mudei pra “I'm Jerking My Dick Over You”. A letra era assim: “I'm jerking my dick over you / I keep telling myself it ain't true / I jerk it so much, oh, it turned black and blue / jerking my dick over you, Shoop, doo doo". (Estou masturbando meu pinto sobre você / Continuo dizendo que isso não é verdade / masturbei tanto, oh, que ele ficou roxo / masturbando meu pinto sobre você, Shoop, doo doo.”) Eu adoro essa.

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Eu cantava isso nos clubes, pros brancos, e eles diziam: “Você é o putinho mais imundo”, e daí eles me davam dinheiro. E eu ia pra casa com uns US$200. Se você fazia cinco dólares por dia no campo naquela época estava ótimo. Eu fui pra casa com $200 e minha vó disse: “Onde você conseguiu esse dinheiro?”. Ela achou que eu tinha roubado. Quando contei pra ela onde tinha arrumado isso, ela disse: “Você é uma desgraça pra a raça humana, você não é melhor que uma varejeira”.

E o que diabos é uma varejeira? Lembrei que a varejeira bota os ovos em coisas mortas e comecei a chorar. Eles nunca tinham me visto chorar porque eu era um moleque malvado pra caralho. Mas uma garota branca me disse: “Quando os cometas atingiram a terra e mataram todos os dinossauros pré-históricos e tudo mais, a vida humana nunca poderia evoluir, tinha muitos germes, mas as varejeiras vieram e botaram ovos, os ovos viraram larvas que comeram todos os germes”.

Foi assim que comecei como Blowfly.

Uau. OK. Bom, você tocou numa feira de gravação e num museu hoje. São shows bem diferentes. Onde você se sente mais confortável?
Vou te dizer. Aprendi a ser confiante nos dois. Seja você mesmo e continue rindo. As pessoas têm que rir, como uma velha branca que encontrei, eu queria fazer alguma coisa que fizesse ela rir. Eu disse pra ela: “Senhorita, passei na sua casa para entregar um presente noite passada”.

“O que você disse?”, ela perguntou.

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“Eu disse, você não veio atender a porta e eu ouvi um barulho vindo do quarto e fiquei chocado com o que vi.”

“O que você viu?”

“Vi você transando com o Papai Noel debaixo do ramo de visgo noite passada!”, e ela começou a sorrir.

“Ah, toma”, Ela me deu US$100 e eu disse que precisava, mas que não ia aceitar. “Você é uma boa pessoa”, ela disse.

E eu disse: “Como você ousa dizer isso pra mim? Sou um filho da puta safado”. Ela começou a gargalhar.

Err… Por que você se veste de super-herói? Fale um pouco sobre como é ser um super-herói.
Comecei quando era muito novo. Eu costumava assistir ao Super-Homem e mudei o tema para “Dick of steel would not ignite. Lois Lane filled his dick up with kryptonite”. (“O pinto de aço não vai levantar. A Lois Lane encheu o pinto dele de kryptonita”).

Não importa quão velho eu seja, continuo assistindo desenhos. “Oh Minnie was super freaky, super fruity. What happened to Mickey made her suck the dick off old Goofy!” (“Oh Minnie era super safada, super gostosa. O que aconteceu com o Mickey fez ela chupar o pau do velho Pateta!”).

OK. Como você se sente quando alguém fica ofendido com o que você faz?
É muito raro as pessoas ficarem ofendidas. Os pastores dizem, mude uma palavra da Bíblia original e isso é um pecado imperdoável, você vai pagar por isso. A maioria das pessoas que vêm até mim, elas acabam rindo. A coisa mais justa no mundo é a sujeira. Quando fui pra Alemanha nos anos 1960, eles me agendaram um show num palco de Berlim. Eu fingi ser o Hitler: “I did my time, I paid my dues, I spent my life killing niggers and Jews. I’m the baddest motherfucker in Nazi nation. Watch Adolf Hitler do the funky Haitian”. (“Cumpri minha pena, paguei minhas dívidas, passei a vida matando pretos e judeus. Sou o puto mais mau da nação nazista. Veja Adolf Hitler fazer o haitiano.”). Ah, eles gargalharam. Os alemães tentaram ficar putos, mas não conseguiram. Não importa quão suja seja a merda, isso é sempre verdade.

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Mas, bom, você é especial. Sua mãe ainda está viva.

Sim, está.
Qual o nome da sua mãe?

O nome dela é Shirah.
Aí vai uma música pra senhorita Shirah: “You’re more special than anyone can imagine. You’re the queen of my special pageant. I say this with all my heart. Angels from heaven knew from the start. Miss Shakira, there’s no one more special than you, thank god”. (“Você é mais especial do que qualquer um pode imaginar. Você é a rainha do meu desfile especial. Digo isso de todo coração. Os anjos do céu já sabiam desde o começo. Senhorita Shakira, não há ninguém mais especial que você, graças a Deus.”)

Isso foi fofo.
Ela vai gargalhar.

@dee3nah