Depois de um Papa, um Salvador e seis milhões aos saltos, Portugal safou-se só com uns arranhões
Foto por Bruno Lisita/VICE

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Opinião

Depois de um Papa, um Salvador e seis milhões aos saltos, Portugal safou-se só com uns arranhões

Contra as previsões mais pessimistas, sobrevivemos. Foi duro? Foi. Mas conseguimos. Nem todos os "efes" do Mundo vergam a Nação. Amén!

Já é terça-feira, sobrevivemos a uma das segundas-feiras mais ressacadas de que há memória e está tudo bem. Pese embora o ciber-ataque à escala global, pelos vistos as notícias que avançavam com o fim do Mundo para este fim-de-semana foram manifestamente exageradas. Fátima, Futebol e Festival. Mas isso é que foram uns dias para tirar a barriga de misérias, não é meus más línguas? Digam lá que no fundo, no fundo, até não vos soube bem? Cascar no povo que foi a Fátima, saber que o Salvador Sobral ganhou a Eurovisão e, se não forem do Benfica, a coisa tornou-se ainda mais problemática.

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A nível das multidões, o Papa é uma pop star e arrasta mais malta do que um festival. Houve quem chamasse os fiéis de parolos. Mas quem, todos? A haver parolos, haverá sempre quem também o não seja. Simples. É claro que, entre uma multidão diversificada devem encontrar-se os cretinos e hipócritas do costume, que depois de saírem do Santuário voltam às suas vidas de engano, violência, insulto, avareza, entre outras malfeitorias.

Mas, não será que há também quem tenha saído de lá bem consigo próprio e para com os outros? No fundo no fundo, é uma espécie de Rock In Rio que a malta adora odiar. Agora vão lá esconder melhor as fotografias do vosso baptizado que, graças a Deus, naquele altura ainda não havia Facebook.


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Ainda as pessoas estavam a desmobilizar de Fátima, já se contavam os minutos para o jogo do Benfica. Esta mania de tratar os outros como atrasadinhos que não conseguem lidar ao mesmo tempo com sentimentos por vezes antagónicos é um clássico.

Festejar futebol? Então e os refugiados? Sim, há sempre quem se dê ao trabalho de fazer este exercício de generalização. A festa fez-se na mesma, hoje já é terça e até ao fecho desta edição não há relatos de que a humanidade tenha implodido e voltado à Idade da Pedra.

Para os adeptos do clube em causa, depois da catarse e tendo em conta as circunstâncias e crenças de cada um, há quem tenha acordado com as suas convicções intactas. Ainda não foi desta, ó profetas da desgraça.

Depois o show de bola foi outro e chegou o festival do Salvador. Antes do músico nascer, já Maria Guinot cantava sobre estas coisas do fogo de artifício. "Silêncio e tanta gente" é uma das melhores canções (opinião pessoal) de sempre dos nossos festivais e também foge aos cânones festivaleiros.

Aqui este escriba enganou-se redondamente quando afirmou não acreditar que a canção "Amar Pelos Dois" fosse longe. Mas esta é daquelas vezes em que um gajo adora mesmo estar enganado. O vento mudou, a malta não topou, e sem playback. Este grande, grande amor em volta da canção é também um addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye ao pessimismo. Certo é que, linda é linda esta balada que o Salvador nos deu. Uma espécie de lusitana paixão, um verdadeiro conquistador. Bem Bom.