bilhete com ameaça para um policial
Ameaça feita a um policial assinada pela facção Guardiões do Estado (GDE). Crédito: Divulgação/PM

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O fim de semana no Ceará não foi suave pra ninguém

Entre atentados, ameaças de morte e toneladas de explosivos apreendidos, o governo tenta contornar a situação caótica de violência há mais de 10 dias.

Neste fim de semana, completaram-se 12 dias de ataques ininterruptos no Ceará. A violência continuou com criminosos derrubando antenas de transmissão de energia, ameaçando policiais e apresentadores de televisão. Uma granada de mão também foi encontrada na estação do São Miguel, na cidade de Caucaia, que fica na região metropolitana de Fortaleza.

Uma ponte na região de Chorozinho, que fica a 72 quilômetros de distância de Fortaleza, foi escorada e interditada após criminosos detonarem explosivos nela. A estrutura fica sobre o rio Choró, na BR-116.

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O governo estadual, sob a gestão Camilo Santana (PT), sancionou neste domingo (13) uma série de medidas, votadas em sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, no dia anterior, que determinam o pagamento de recompensas por informações que ajudem a identificar suspeitos, além de recolocar na ativa membros das forças de segurança que estavam na reserva (leia todas as medidas mais abaixo).

A polícia também realizou a apreensão de cinco toneladas de explosivos que seriam usados em eventuais atentados futuros contra viadutos e prédios públicos.

Os ataques, coordenados por facções criminosas que disputam território dentro e fora dos presídios, iniciaram a onda de violência após o governo cearense nomear Luís Mauro Albuquerque como secretário de Administração Penitenciária, no início deste ano.

Em um "salve" atribuído ao crime organizado, e que circulou pela capital e região metropolitana entre os dias 7 e 8, os ataques só irão terminar quando o secretário “pedir para sair”.

Segundo o governo do Ceará, “em resposta aos atos violentos”, até o momento 39 chefes de facções criminosas foram transferidos para presídios federais.

Além disso, até as 17h33 deste domingo (13), data da última atualização do governo, haviam sido presos e apreendidos 353 suspeitos de participar dos atos de violência no estado.

Apreensão de explosivos

Segundo a Polícia Civil, agentes da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apreenderam cerca de cinco toneladas de explosivos durante uma operação no bairro Jangurussu, que fica na periferia de Fortaleza.

A delegacia especializada investiga membros da facção Comando Vermelho (CV), que surgiu no Rio de Janeiro, suspeitos de assassinatos e que também estariam envolvidos nos atentados a bomba realizados no estado.

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Durante a ação, ocorrida no sábado (12), investigadores levantaram que havia explosivos em um terreno próximo às casas dos criminosos. No local indicado pela denúncia, policiais civis encontraram cerca de cinco toneladas de explosivos, munições de escopeta calibre 12 e um carregador de pistola. Cinco pessoas também foram presas.

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Os explosivos encontrados. Foto: divulgação/Polícia Civil

Ataque à torre de transmissão

Segundo a polícia do Ceará, criminosos explodiram, no sábado (12), torres de transmissão de energia, na cidade de Maracanáu, região metropolitana de Fortaleza.

Ainda foi informado pela polícia que, após as explosões, foram destruídas as bases de sustentação dos cabos de alta tensão, provocando um “efeito dominó”, em que diversas torres vieram ao chão. Por conta do ataque, alguns bairros ficaram sem eletricidade.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) classificou os ataques em seu Twitter como “terroristas”.

Um vídeo, feito com celular, mostra um suspeito afirmando que, após usar explosivos contra as antenas de transmissão, as próximas bombas serão direcionadas à emissora do deputado Vítor Valim (PROS), a TV Cidade. O político apresenta um programa com reportagens policiais no canal.
A VICE antecipou, em reportagem publicada no dia 9, que criminosos haviam enviado ameaças a um cinegrafista de uma TV local, afirmando que teriam com alvo torres de transmissão.

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Granada encontrada no metrô. Foto: divulgação/Metrô

Uma granada de mão também foi encontrada dentro da estação de metrô São Miguel, no bairro Jurema, na cidade de Caucaia.

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O artefato estava no chão, perto de uma catraca de saída da estação. Segundo a polícia, o explosivo foi encontrado por um segurança do metrô, que acionou a polícia na sequência.
O esquadrão antibombas, da Polícia Militar, usou um robô para apreender o artefato explosivo.

Ameaça a policial

Um bilhete ameaçando um cabo da PM de Tauá, que fica a 343 quilômetros de Fortaleza, foi deixado, no sábado, em frente à casa do policial.

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Ameaça feita a um policial assinada pelo GDE. Crédito: Divulgação/PM

O recado diz: “Seu policial de merda, saia do nosso caminho, senão sua mulhersinha (sic) morre”. A mensagem é assinada pela facção Guardiões do Estado (GDE), aliada do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Ceará.

No mesmo dia, segundo a polícia, um suspeito de deixar o bilhete em frente à casa do policial e um suposto mandante foram presos.

Polícia impede ataque à prefeitura

Segundo a polícia, membros da Companhia de Rondas Ostensivas com Cães (Roca), receberam informações de que membros da GDE iriam realizar, no sábado, um atentado contra a prefeitura de Pacatuba, região metropolitana de Fortaleza.

Policiais abordaram um suspeito, com o qual localizaram gasolina e materiais que seriam usados para a confecção de coquetéis molotov (bombas incendiárias caseiras).

Segundo um comandante da PM, há criminosos que são responsáveis por montar as bombas caseiras, deixando-as escondidas para que “outra equipe” de bandidos as utilize contra os alvos.

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Material para fazer coquetel molotov. Foto: divulgação/PM

Medidas contra a violência

Foi publicada no Diário Oficial do Estado do Ceará deste domingo (13) a imediata aplicação de medidas, aprovadas em sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, realizada no sábado.

O governador divulgou as medidas na sexta-feira (11), por meio de redes sociais. Ele afirma que as ações objetivam “fortalecer” o “esquema de segurança” do Ceará “no duro combate ao crime organizado, que atua nas ruas e no sistema penitenciário”.

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Ele segue afirmando não aceitar “que criminosos presos continuem dando ordem de comando de dentro das prisões, como acontece há décadas em todo o Brasil”.

Leia as medidas publicadas no Diário Oficial*

- Aumentar a jornada máxima que os policiais militares, civis e agentes penitenciários poderão prestar, a título de reforço operacional extraordinário, de 48 para 84 horas por mês
- Criação do banco de dados estadual de informações de veículos desmontados
- Dispõe sobre restrições ao uso de áreas no entorno de presídios: criação da Área de Segurança Prisional, desde o muro até o limite de 100 metros, com intuito de evitar fugas de presos e eventual contato deles com o exterior
- Lei Complementar que institui o Fundo de Defesa Social do Estado do Ceará
- Convocação de militares da reserva remunerada para o serviço ativo da Polícia Militar
- Recompensa por informações que auxiliem os órgãos de segurança estaduais nas investigações criminais
- Autorização de Convênios e Parceria com outros Entes (União e Estados) na cessão de policiais ao Estado do Ceará.

Medidas já tomadas, desde 3 de janeiro, um dia após início dos ataques*

- Nomeação imediata da turma de 220 novos agentes penitenciários, antes prevista para março
- Imediata nomeação dos 373 novos policiais militares, já formados, para atuação nas ruas
- Solicitação de apoio do Governo Federal, através do reforço de homens da Força Nacional de Segurança, Exército e Força de Intervenção Integrada (FIPI), para trabalhar em conjunto com os profissionais cearenses

*Fonte: Secretaria da Segurança Pública e de Defesa Social do Ceará

Denúncias

A população pode contribuir com as investigações repassando informações que possam ajudar na localização dos suspeitos. As denúncias podem ser feitas pelo número 181, o Disque Denúncia. O sigilo é garantido.

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