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Tecnologia

O Estúdio Ghibli inspirou este maravilhoso filme de animação paquistanês

"The Glassworker" é a primeira obra a sair dos Mano Animation Studios e o resultado é surpreendente.
Imagem cortesia Mano Animation Studios

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

A cerca de 11 mil quilómetros da oficina onde Hayao Miyazaki está a acabar a sua carreira de 40 anos, no Paquistão um criador está a injectar nova vida na indústria ao abrir o primeiro estúdio no país de animação desenhada à mão. Abaixo, tens um acesso exclusivo ao filme de estreia da Mano Animation Studio, The Glassworker, que conta a historia da amizade entre o pobre aprendiz Vincent e o aristocrata Alliz, um amante da arte de moldar vidro, durante a guerra e o conflito politico.

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Os primeiros quatro minutos do filme são definitivamente ao estilo do Studio Ghibli, o que faz sentido se se perguntar a Usman Riaz, o fundador do Mano e um completo entusiasta dos desenhos animados, que bebe referências em filmes de Miyazaki, mas também de Isao Takahata, Takeyuki Kanda e Disney. Riaz queria que o seu filme tivesse como cenário central uma cidade ficcional vagamente europeia (com aeronaves!), tal como Miyazaki fez em Howl's Moving Castle e em Castle in the Sky. "Adoro o que o Japão faz com settings e personagens ocidentais, pondo-os a falar e a comportar-se como japoneses", diz o animador à VICE em conversa via Skype.

Em 2016, numa campanha da Kickstarter, Riaz prometeu um filme autêntico, desenhado à mão, imbuído de cultura paquistanesa. Angariou cerca de 100 mil euros, o dobro do seu objectivo inicial de 50 mil euros. Se tudo correr como planeado, acabará a sua primeira longa-metragem em 2020, o mesmo ano em que Miyazaki prevê acabar o seu último filme, Boro the Caterpillar. Dá uma espreitadela a The Glassworker aqui em baixo (também há uma versão de oito minutos disponível para backers do Kickstarter).

Antes de fundar a Mano, Riaz tinha toda uma outra vida. Aos 21 anos, ganhou reconhecimento viral com um vídeo no YouTube a tocar guitarra de percussão. Foi o Senior TED Fellow mais novo de sempre e usou a influência da sua actuação, com 3.8 milhões de visualizações, para entrar no Berklee College of Music. Não liga muito a títulos como "prodígio da guitarra", ou "whiz kid" - julga a sua TED talk e o seu Tiny Desk Concert por ti próprio -, mas estudar nos EUA ajudou-o a perceber que a animação é que é a sua verdadeira paixão. "Andei três anos na escola de música constantemente a perguntar-me, Porque é que estou aqui?", sublinha.

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Riaz usou os connects da TED para conseguir visitar Tóquio, onde deu uma palestra sobre o seu amor pela animação, depois da qual teve a sorte de conseguir uma visita exclusiva ao Studio Ghibli. "Comecei a chorar à entrada", recorda Riaz. The Wind Rises, que na altura se pensava ser o último filme de Miyazaki, já tinha saído, por isso teve a sorte de ver as máquinas por detrás de My Neighbor Totoro, Princess Mononoke e Spirited Away numa altura crítica.

De volta a Karachi, teve que criar uma indústria de animação desenhada à mão a partir do zero. Aprendeu o básico antes de ir para a América, estudou design gráfico e ilustração na Indus Valley School of Art. Antes disso, já tinha aprendido sozinho a fazer flipbooks, com uma cópia dos Looney Tunes do seu pai, Bugs Bunny: 50 Years and Only One Gray Hare.

Não há CalArts no Paquistão. Não há Pixar, nem Disney, nem Studio Ghibli. Existem alguns estúdios de animação, mas que fazem maioritariamente anúncios, curtas em 3D ou efeitos em computador para filmes de acção. Riaz chegou a levar a ideia de The Glassworker a uma empresa, mas os artistas "desataram a rir e disseram que devia estar maluco", conta. E acrescenta: "Quando digo que no Paquistão não há uma indústria de animação desenhada à mão, digo-o porque não existe mesmo".

Chegou mesmo a mostrar filmes antigos da Disney e anime japonês a esses artistas, mas eles não percebiam o encanto. Houve um estúdio que se mostrou interessado na história, mas que queria fazer o filme em CGI (Computer Generated Image). "Disse-lhes, esqueçam! Faço isto por mim. Hei-de encontrar quem queira fazer parte disto. Tem que ser desenhado à mão".

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Fazer The Grassworker começou por ser uma caminhada difícil. O filme final terá cerca de 900 a 1000 cenas e, nos primeiros dois anos, Riaz só tinha acabado cerca de 85. O estúdio Mano começou por ser uma dupla, ele e a sua mulher, Mariam Riaz Paracha.

Desde então, cresceu e tornou-se uma equipa de já 20 animadores, storyboarders, produtores, designers de personagens e de cenários, artistas de background e mixers de som. Muitos deles foram pessoalmente ensinados por Riaz. Os atrasos ficaram, muitas vezes, a dever-se a esta curva de aprendizagem sempre a subir. Agora, no entanto, a Mano já entrou na rotina.

Apesar dos enormes obstáculos que tem pela frente, Riaz mantém-se cautelosamente optimista. "Sinto que é tudo fumo e espelhos", diz ele sobre toda a experiência. E salienta: "Só quando o filme estiver acabado é que vou ter a sensação de que consegui concretizar alguma coisa".


Segue o Mano Animation Studios e "The Glassworker" no website oficial.

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