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Tudo o que precisas de saber sobre o que se passa na Venezuela

Um político de 35 anos auto-proclamou-se presidente interino.
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Juan Guaido, declara-se presidente da Venezuela, num comício perante apoiantes.(Boris Vergara/picture alliance via Getty Images)

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma VICE News.

O presidente venezuelano, Nicolas Maduro, manteve a postura desafiante ontem, quarta-feira, 23 de janeiro, apesar de um ataque político interno à presidência e da denúncia ao seu regime "ilegítimo" por parte dos Estados Unidos. "Já tivemos intervencionismo suficiente, aqui temos dignidade!", disse Maduro num comunicado filmado no palácio presidencial, em que criticou a Casa Branca.

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Maduro anunciou que iria cortar todos os laços diplomáticos com Washington e avisou os embaixadores norte-americanos na Venezuela que tinham 72 horas para saírem do país. O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, respondeu, dizendo que Maduro já não tinha autoridade para tomar tal decisão, enquanto Trump avançou aos jornalistas que uma intervenção militar norte-americana era uma opção.

O discurso de Maduro foi feito horas depois de o político Juan Guaidó, de 35 anos, se ter declarado presidente interino. Guaidó é o líder da Assembleia Nacional controlada pela oposição, mas cujos poderes Maduro anulou em 2015.

Dirigindo-se aos milhares de manifestantes em Caracas, Guaidó disse "jurar formalmente assumir o poder executivo nacional e agir como presidente". Os muitos opositores de Maduro, dentro e fora da Venezuela, esperam agora que Guaidó - que até ontem era praticamente desconhecido fora do país - una a oposição e acabe com o estrangulamento do poder imposto por Maduro.

O que aconteceu?

Depois de vários dias de protestos em Caracas - que resultaram em pelo menos 14 mortos e dezenas de detidos - Guaidó agiu ontem, quarta-feira, à tarde. Horas depois, Trump declarou que os EUA apoiavam Guaidó e já não reconheciam Maduro como Presidente da Venezuela.

Guaidó disse que as manifestações iriam continuar até "a Venezuela ser libertada" e serem convocadas eleições justas.

Mas, Maduro não mostrou intenções de se retirar, dizendo ao país que "ninguém aqui se vai render". Apesar da oposição, tanto interna como externa, Maduro, por agora, comanda o exército e muitas das instituições principais do país.

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Quem é Juan Guaidó?

Guaidó era um político discreto na Venezuela até ter sido, surpreendentemente, eleito há três semanas como líder da Assembleia Nacional controlada pela oposição.

Supostamente, terá sido "levado" para a política depois da resposta ineficaz às inundações súbitas da cidade portuária de La Guaira, de onde Guaidó é natural. As cheias mataram dezenas de milhares de pessoas.

Como tem sido a reacção internacional?

A par dos Estados Unidos e do Canadá, a maioria dos vizinhos da Venezuela apoia a reivindicação de Guaidó, incluíndo Brasil, Colômbia, Chile, Peru, Equador, Argentina e Paraguai.

A União Europeia afirmou que a voz do povo venezuelano "não pode ser ignorada" e apelou à realização de "eleições livres e credíveis".

[Já em Portugal, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse esperar que Maduro perceba que "o seu tempo acabou". Em resposta, o PCP condenou a “operação golpista” dos EUA, bem como o “seguidismo” do Governo português]

O presidente do Concelho Europeu, Donald Tusk, acrescentou que Guaidó “tem o mandato democrático do povo".

Até o Instagram - que nos últimos dias esteve temporariamente bloqueado, bem como o Twitter e o Youtube - parece ter escolhido um lado e alterou o seu símbolo de verificação, de Maduro para Guaidó.

Todavia, Maduro ainda conta com apoio internacional.

A Rússia, o maior aliado da Venezuela, afirmou que considera a tentativa de derrube de Maduro como um acto ilegal. "Penso que não podemos reconhecer isto - na sua essência é um golpe", afirmou Vladimir Dzhabrailov, jurista e membro do comité de negócios estrangeiros russo.

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Maduro recebeu também um telefonema do presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, como demonstração de apoio. “ O nosso presidente garantiu o apoio Our president extended Turkey’s support to Venezuelan President Nicolas Maduro and said ‘My brother Maduro! Stand tall, we stand by you!’,” Erdogan’s spokesman Ibrahim Kalin said on Twitter.

México, Irão, Cuba e Uruguai continuam a reconhecer a presidência de Maduro. A China, que na última década emprestou à Venezuela cerca de 62 mil milhões de dólares, já disse que se opõe "a qualquer intervenção externa no país".

Como é que se chegou a este ponto?

A Venezuela é uma nação rica em Petróleo, mas que sofre há anos com a gestão ruinosa de Maduro e que foi duramente atingida pelo colapso dos preços do "ouro negro" em 2014. Isto levou à hiperinflação, a cortes de energia, à escassez de comida e medicamentos e à fuga de milhões de venezuelanos para fora do país.

A oposição venezuelana, apesar de unida no ódio a Maduro e ao seu antecessor, Hugo Chávez, há muito que é ineficaz devido às divisões internas e a uma recorrente incapacidade de apresentar um programa político concreto.

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O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, discursa perante uma multidão de apoiantes, em Caracas. 23 de Janeiro, 2019. (Lokman Ilhan/Anadolu Agency/Getty Images)

Maduro e o seu partido têm conseguido manter o controlo de todos os níveis da governação, em parte devido ao facto de a oposição boicotar as eleições há anos e porque o governo exilou ou prendeu a maior parte dos seus líderes mais viáveis.

O que vai acontecer?

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou hoje, quinta-feira, 24, ao diálogo, na esperança de "evitar um agravamento da situação, que levaria a um conflito desastroso para o povo da Venezuela e para toda a região".

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No entanto, muitos temem que a ameça norte-americana pode levar exactamente a esse agravamento. "A ameaça de acção militar por parte da administração de Trump é incrívelmente inútil", alerta o responsável do programa para as Américas do think tank londrino Chatham House, Jacob Parakilas, à VICE News. E acrescenta: "Em jeito de balanço, julgo que a ameaça de acção militaré tão pouco útil, que pode mesmo impedir qualquer impacto positivo de uma ofensiva diplomática contra Maduro".

A Venezuela já e um dos países mais violentos do Mundo e está numa região - entre os semelhantemente violentos Brasil e Colômbia - que pode explodir a qualquer momento. "A Colômbia, em particular, está a tentar cimentar um frágil processo de paz, depois de décadas de guerra civil, que foi alimentada por milhares de milhões de dólares de ajuda dos EUA em forma de armas e pelo dinheiro do tráfico de droga. É um barril de pólvora e qualquer intervenção pode ser uma grande acendalha", salienta à VICE News Asa Cusack, investigador do Centro da América Latina e Caraíbas, da London School of Economics.


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