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Catalunha

"Vai haver violência". Falámos com jovens em Barcelona sobre a detenção de Puigdemont

"Sempre disse, em conversa com amigos, que isto é uma guerra".
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Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

O Processo chegou ao fim, ou será que acaba de começar? Esta pergunta ressoa na cabeça da grande maioria dos espanhóis que, no domingo, 25 de Março, viram o grande arquitecto do 1 de Outubro, Carles Puigdemont, ser detido pela polícia alemã no momento em que cruzava a fronteira com a Dinamarca de carro.

Uns consideram que foi estratégia, outros que foi uma trapalhada, alguns acham que já estava na hora e outros tantos saíram à rua e provocaram confusões por aquilo que consideram ser um acto contra a liberdade política.

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Enquanto não se conhece a sentença do país alemão em relação à possibilidade de extradição para Espanha, onde se diz que pode incorrer numa pena entre 10 anos a prisão perpétua, saí à rua para conhecer a opinião das pessoas sobre a pergunta com que comecei este texto: Estamos a chegar ao fim do Processo, ou acaba de começar uma nova etapa em direcção à independência?

Joan, 28 anos

VICE: Isto é o fim ou o começo do Processo?
Joan: Não é nem o fim nem o principio, é só mais um episódio. Sempre disse, em conversa com os meus amigos, que isto é uma guerra. O que aconteceu na sexta-feira com a detenção de um dos membros do antigo governo e com a detenção de Puigdemont é mais uma batalha judicial dentro desta guerra política. O que aconteceu no 1 de Outubro foi outra batalha.

Do que não estava à espera era que a reação popular fosse tão maioritária na sexta-feira e no domingo. Isto mostra-me que, o que aconteceu em Outubro e em Novembro, se está a repetir e que estamos noutra batalha do Processo. Pensava que O Processo se ia alargar três, quatro ou cinco anos, mas não. Os últimos acontecimentos têm-me mostrado que a guerra ainda está muito viva e que qualquer coisa pode inflamar o povo, que foi o que aconteceu este domingo.

Mas quem é que vai presidir à Generalitat? Todos os candidatos estão ou presos ou na iminência de serem presos.
O problema vai mais além do jogo parlamentar. Esta "guerra" é um conflito político em que o parlamento está de mãos atadas. No final de contas o povo é quem vai decidir até onde quer levar este conflito. À demonstração de segunda-feira, quando Torrent veio dizer para as pessoas se acalmarem e para agirem pacificamente, a rua disse que o que quer são respostas e que o juiz Llarena não actue como actua. E o mesmo vale para o Estado espanhol.

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Na verdade acho que seja quem for o presidente da Generalitat isso terá pouca importância, porque já se viu nos últimos dias que os líderes políticos não estão à altura do povo e as pessoas fazem o que querem, o que é bonito numa sociedade articulada.

Então, porque é que não propõem um presidente que não tenha estado metido na essência do 1 de Outubro, para que possa ser investido com normalidade?
Faz parte do jogo político. Se propuseres um personagem político que não está vinculado com os acontecimentos de Outubro estás a rebaixar ou a assumir que o que aconteceu não é legítimo, legal ou que não foi o que o povo queria.

Os partidos políticos têm todo o direito de propor quem queiram. O que é triste é que o partido político maioritário que preside ao Estado Espanhol e tem quatro deputados no parlamento da Catalunha, continue a dizer que tem que se propor uma pessoa que não esteja vinculada aos acontecimentos de Outubro, quando o que ocorreu foi o que os partidos políticos maioritários deste pais [Catalunha] continuam a ser os maioritários agora, por isso… Ao fim e ao cabo, o interessante acontece quando a política sai à rua. É o nosso papel, tanto dos independentistas como dos unionistas, que é o mais divertido.

Marie, 32 anos

VICE: Como é que viveste o 1 de Outubro e como vês a questão catalã agora?
Marie: No 1 de Outubro passei mal, porque não acredito na independência e parecia-me que se estava a forçar o lado contrário. Diziam que os defensores da Catalunha independente eram obrigados a calarem-se, mas eu senti o oposto. Passei bastante mal, porque não sou daqui e fez-me pensar que não sou bem-vinda porque vim para Espanha, não para a Catalunha.

No domingo, Puigdemont foi detido e parece que se acaba um ciclo. Será uma nova etapa ou mais do mesmo?
Não acredito que se vão render, nem de um lado nem de outro. Como não há diálogo, estão os dois a lutar sem se ouvirem. Não vai haver solução.

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E que conselho darias a Rajoy para mediar tudo isto?
Se não se souber dialogar e se estão só a forçar as suas opiniões uns aos outros, é complicado conseguir fazer alguma coisa. Acho que é preciso mudar toda esta casta, como lhe chamam, para que se possa mudar alguma coisa.

Romulo, 32 anos

VICE: Qual é a tua opinião sobre a detenção de Puigdemont?
Romulo: Acho que ele não devia ter viajado se estava sob investigação. Acho que sabia que o iam deter e que isto foi premeditado. Tudo aponta para que haja um motivo por detrás, para que as pessoas reajam. Não sei, é a sensação que me dá.

E como é que vão reagir as pessoas se extraditarem Puigdemont?
Por exemplo, no 1 de Outubro estive em casa, mas o meu sogro foi a uma escola proteger as urnas e gritar por liberdade e tentar bloquear a polícia. Eu estou a favor da independência, porque se demonstrou que era o que a maioria queria (o de votar). Estão no seu direito. Se a maioria vota sim, devia ser respeitada a opinião do povo. Não podem ser perseguidos.

Tu nasceste no Brasil. Que diferenças vês a nível político entre os dois países?
Estamos um pouco mais atrasados em muitas coisas, mas também temos outro tipo de problemas. Por exemplo, no Brasil sou de direita, mas aqui sou de centro, porque simpatizo com um lado e com outro. Por isso é que me parece bem que as pessoas peçam que se cumpra aquilo em que votaram.

Judith, 32 anos

VICE: O tema é quente. Parece-te bem ou mal a detenção de Puigdemont?
Judith: Parece-me mal, mas logo veremos como acaba. Agora dizem que lhe podem dar entre 10 anos a prisão perpétua, mas o delito que os alemães têm como equivalente inclui violência, que é o que se tem tentado evitar.

E o que é que vai acontecer se o extraditarem e as pessoas virem imagens dele, algemado, a ir para a prisão?
A nível político não tenho certezas, mas a nível da sociedade catalã acho que se vão chatear. O que se passou no domingo foi só o princípio. Eu mobilizei-me com o 1 de Outubro e voltarei a manifestar-me, porque e o deixaram apresentar-se às eleições no dia 21 de Dezembro, têm de deixar que se apresente como vencedor. Seguramente acharam que não iria sair e agora olha. Agora prendem todos os candidatos à presidencia, ou não os deixam sair da prisão. Estão a esgotar todas as opções para que saia alguém do PSC ou do Ciutadans. A eliminar a concorrência, vá.

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Bem, agora um exercício de reflexão. O que é que dirias a Rajoy se o tivesses à frente?
Ui, muitas coisas e não muito agradáveis. Em primeiro lugar, aconselhava-o a cultivar-se um pouco e a aprender línguas, que em qualquer trabalho é requisito e, quem sabe, para se ser presidente de um país se calhar dá jeito.

Francesc, 31 años

VICE: Chamaram ao que aconteceu no domingo a "Primavera Catalã". Não sei se consideras comparável ou o que pensas disto.
Francesc: Não acho que seja comparável, mas acho sim, que estamos a chegar a um ponto crítico, em que, ou acaba tudo, ou começa algo muito pior do que temos vivido até agora.

Não sei se saíste à rua em Outubro pelo referendo e se te vês a sair estes dias por Puigdemont.
Sim saí, ainda que não todas as vezes e acho que voltarei a sair. Se o extraditarem, por exemplo. Além disso, não acho que isto seja o fim. Tudo aponta que ainda falta muito.

Comenta-se que pode apanhar entre 10 anos a prisão perpétua. Se o julgam na Alemanha e o extraditam, o que é que achas que vai acontecer aqui?

Vai haver violência. O que aconteceu domingo mostra que já alguma coisa se está a passar. E não pode ser que o líder do governo central não fale sobre tudo isto. Só manda juízes e a polícia e não mostra o mínimo de interesse sobre o que pensamos aqui.


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