Este artigo é da autoria de Susan Rinkunas e foi originalmente publicado na nossa plataforma Tonic.
No Massachusetts, Estados Unidos da América, as autoridades estão a trabalhar com veterinários, para lidarem com um problema crescente: pessoas que roubam opióides receitados aos seus animais de estimação.
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A advogada Marian T. Ryan, do Condado de Middlesex, escreveu uma carta aberta, publicada na newsletter da Massachusetts Veterinary Medical Association, em que descreve o caso de uma mulher que não conseguia perceber porque é que o seu cão continuava com dores, apesar de lhe terem sido receitados analgésicos. Acabou por descobrir que uma pessoa da família estava a “desviar” os comprimidos.
A associação de veterinária está a trabalhar com o Departamento de Saúde Pública do Massachusetts, como com o gabinete do Ministério Público, para, numa primeira fase, criar panfletos que ensinem às pessoas onde devem guardar os opióides, bem como onde devem entregar os medicamentos que sobrem. O plano conta também com palestras com os veterinários, de forma a instrui-los sobre os sinais que demonstram que os medicamentos estão a ser incorrectamente utilizados, tais como donos que procuram produtos sem que haja evidências claras de que os animais necessitem de os tomar, ou pessoas que se recusem a levar os bichos ao consultório para serem examinados e queiram apenas que lhes seja passada uma nova receita.
Susan Curtis, directora executiva da MVMA, diz que o grupo vai ainda levar a cabo seminários para os veterinários, técnicos de veterinária e delegados de saúde animal, em que agentes das forças da ordem irão discutir o problema. Ao Boston Globe, Curtis disse recentemente que, apesar de ainda não ser uma questão demasiadamente problemática, a acção imediata impõe-se, para que não haja uma escalada. “Estamos a ser pro-activos. Estamos a tentar fechar uma porta,a ntes que seja demasiado tarde”, considerou.
“A dependência de opióides continua a ser uma autêntica praga nos Estados Unidos”.
E, aparentemente, não é só no Massachusetts que a questão começa a levantar-se. Lexi Becker, veterinária em Albany, Nova Iorque, disse à divisão local da NBC, que já teve conhecimento de casos em que as pessoas magoaram intencionalmente os seus animais de estimação, de forma a que o médico passasse uma receita de um analgésico chamado tramadol, que é frequentemente utilizado para tratar da artrite em animais, por ser mais barato que a oxycodona.
Uma lei do Estado de Nova Iorque, no entanto, limita a prescrição de tramadol a um período inicial de sete dias. Tal como o Wall Street Journal relatou em Outubro de 2016, este analgésico sintético é já muito comum em várias países em vias de desenvolvimento, sendo que, entre 2000 e 2012, o seu consumo global aumentou cerca de 200 por cento, de acordo com dados do International Narcotics Control Board.
Embora ainda seja cedo para ter uma percepção correcta dos níveis de abuso de tramadol nos Estados Unidos, há já sinais claros de que o problema está a crescer. No ano passado, por exemplo, uma clínica veterinária de Cleveland foi assaltada e o tramadol em armazém foi todo roubado. Em Novembro último, no Oregon, a polícia apreendeu 100 mil comprimidos, durante uma rusga a uma quinta de criação de cães. E, por outro lado, a US Substance Abuse and Mental Health Services Administration, refere que as idas às urgências relacionadas com consumo impróprio de tramadol, mais do que triplicaram entre 2005 e 2011, passando de 6.255, para 21.649 ocorrências.
A dependência de opióides continua a ser uma autêntica praga nos Estados Unidos. Em 2015, últimos números disponíveis, houve mais mortes causadas por medicamentos de receita médica, do que por heroína.