Música

Passei 48 horas só ouvindo happy hardcore

Matéria originalmente publicada na VICE UK.

No meio dos anos 90, a grande rave britânica estava se fragmentando. Na capital e arredores, o dance estava se desenvolvendo para algo mais sombrio e exigente: beats quebrados do UK hardcore estavam virando o jungle, logo se tornando o garage e o drum ‘n’ bass inglês. E como se estivesse torcendo as cores do fundo do país como uma flanela, o pessoal ao norte de Londres foi na direção oposta. Um novo som surgiu dando uma voadora nas tendências convencionais, um som na periferia da aceitabilidade: o happy hardcore.

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Por alguns anos, em algum lugar além do arco-íris e embaixo de um viaduto, o Reino Unido vibrou a 180 BPM, samples de vocais agudos e grunhidos de MCs. Ravers, de Birkenhead a Bolton, enchiam festas de escala industrial como a Bonkers ou Helter Skelter, cruzando o país para ver grandes nomes da cena como Slipmatt, DJ Sy e Force & Styles. Aeródromos se encheram de corpos brilhantes e jaquetas aviador: multidões de até 10 mil pessoas fritando e assoprando apitos nas intermináveis noites do meio do verão.

Happy hardcore é um gênero tão violentamente extravagante que sua menção já faz a maioria das pessoas fazer careta ou rir. Essa reação é meio compreensível — o que começou como uma resposta ao drum ‘n’ bass rapidamente se desvalorizou com remixes de música pop ou a influência do euro-trance. Mas eu digo que, no cerne, o gênero continua sendo um dos capítulos mais emocionantes e unicamente britânicos da história da música eletrônica. Incrivelmente ingênuo e otimista, aquela era a música para sonhos grandes demais para se tornarem realidade.

No auge do estilo eu tinha apenas seis anos, mas mesmo assim me sinto estranhamente ligado ao happy hardcore — e ao hardcore inglês no geral. Minha fascinação não é só com a música, mas com sua comunidade devota; viajando do outro lado do país e até fazendo zines incríveis em sua honra quando a imprensa musical se recusou a prestar atenção.

Baseado nessa curiosidade — e numa conversa que tive bêbado com meu editor — um plano surgiu. Quando vi no Facebook que um dos progenitores da cena original, Billy “Daniel” Bunter, estava organizando uma rave em Milton Keynes com o icônico colega DJ Sy, percebi que as estrelas tinham se alinhado para tentar o impensável. Eu iria ouvir happy hardcore por 48 horas.

Os eventos a seguir foram documentados em tempo real.

REGRAS

Das 4 da manhã da quinta-feira, acabando às 4h do sábado, não vou parar de ouvir happy hardcore, ou UK hardcore de algum tipo. Pode ser com fone de ouvido ou alto-falantes. Happy hardcore no banheiro, happy hardcore no jantar, happy hardcore enquanto converso. Na cama, o som precisa estar saindo do notebook com num nível audível. Sem pausas, sem enrolação: 180 BPM sem parar.

4h, HORA 1: Meu despertador toca e por um momento não lembro por que estou acordando tão cedo. Está tudo escuro e silencioso lá fora. Meu apartamento está quieto. Aí lembro por quê, e alcanço meu notebook na cabeceira da cama. A playlist do YouTube já está aberta, clico e um set do Force & Styles de 1997 começa a tocar. Os teclados ítalo e batidas violentas se chocam na minha cabeça. É cedo demais para levantar, então tento voltar a dormir enquanto a música toca.

O que se segue são quatro horas de sono meio desperto confuso, onde pairo entre as entranhas de uma festa de armazém e sonhos bizarros.

8h, HORA 4: Acordo com um MC gritando: “´Gente, vocês não podem ficar subindo no palco porque os discos estão pulando”. Meu rádio-relógio também desperta. Lutando com a mistura nauseante de Force & Styles e o Today Programme, decido levantar e levar meu notebook pro banheiro. Estranhamente, não estou odiando a experiência. Bocejo e estralo minha coluna no chuveiro enquanto meu computador grita “hold tight Terry Turbo”. Sim, é um pouco cansativo, mas no momento tem uma novidade na coisa toda. As batidas estão me ajudando a acordar.

De volta ao meu quarto, meu colega de apê estica a cabeça pela porta e pergunta que barulho é esse. Ele me pega ouvindo “Somewhere Over the Rainbow” da Marusha, de cueca. Ele dá uma risada nervosa e vai embora.

9h, HORA 5: Tem alguma coisa muito satisfatória em ouvir hardcore no trem pro trabalho. Me sinto como todo cyber gótico que você já viu no busão às 5 da manhã. Enquanto todo mundo folheia suas cópias do Swing Time, estou no Aeródromo Brafield jogando a mão pro alto. Isso vai ser incrível.

10h30, HORA 6,5: Estou no trabalho agora. Não consigo escrever nada com 180 BPM ricocheteando nas paredes da minha cabeça como uma bolinha de gude descendo pela privada. Acabei de assistir um vídeo do Philip Hammond falando sobre as regras da Organização Mundial de Comércio, que — junto com hardcore — me deixou bastante excitado com a perspectiva de um Brexit difícil.

13h30, HORA 9,5: “Pacific Sun” do Force & Styles é minha música favorita de happy hardcore. É brega, sim, mas também tem uma tristeza com sacarina. Isso com certeza é o mais perto que o Reino Unido chegou de fazer EDM, e é uma tomada muito britânica da euforia. Sincero e exagerado, mas tosco e irônico — incapaz de se levar muito a sério. Estou comendo meu almoço muito rápido hoje.

16h, HORA 12: Teclando realmente forte no meu computador, a tela até treme enquanto digito. É uma experiência bastante revigorante; parece que estou martelando um romance importante quando na verdade só estou escrevendo esta sentença banal sobre ouvir happy hardcore. Também estou começando a apresentar sintomas de gripe. Mãos suando. Estou tremendo.

17h, HORA 13: Coisas em que penso quando ouço happy hardcore: brinquedos de parque de diversão, sonhos lúcidos, a banda Steps, radares, luz estroboscópica, desenhos do sistema solar, doces fervidos, a M6, rabos de cavalo, projeção astral, Astras Vauxhall. Acabei de me pegar socando o punho na palma da mão no ritmo da música.

18h, HORA 14: Fui jantar com meu tio outro dia. Não vejo ele com muita frequência, e na metade da terceira taça de vinho tinto, ele perguntou “Qual é exatamente seu trabalho?” Ele disse que nunca soube como explicar quando alguém perguntava. Eu não era médico, professor ou policial. Ele disse que não tinha certeza nem se eu era jornalista. “O que você faz?”

19h, HORA 15: A parte final do dia foi gasta basicamente balançando minha perna e rangendo os dentes. Me sinto muito cansado; exausto bem no centro do meu ser. Às vezes as ondas quebram e eu aprecio a música de novo, mas parece que estou sendo repetidamente socado por um personagem de desenho animado. Saio cambaleando do trabalho direto para o pub mais próximo para tentar relaxar. Não consigo ler, não consigo pensar. Não há espaço para mais nada no meu cérebro.

20h, HORA 16: Esqueci que tinha prometido sair para jantar com a minha namorada hoje. Merda.

21h, HORA 17: Sentamos em relativo silêncio enquanto transformo meus rolinhos primavera numa papa e deixo meu olhar se perder na distância. Por um lado estou feliz que ela tenha uma chance de ver do que meu trabalho se trata e ter um vislumbre do meu processo criativo. Por outro, só trocamos umas três palavras cada um. Ela decide que não quer dormir em casa. Estamos falando em morar juntos. Espero que isso não mude as coisas.

23h, HORA 19: Vou dar uma volta depois disso. Vou para uma floresta. Vou andar entre as árvores e ficar na companhia delas um pouco. Vou deitar na grama e sentir o cheiro da terra. Vou encontrar a paz.

8h, HORA 28: Deixei a música rolando durante a noite. Pelo que sei, consegui umas quatro horas de sono quebrado, interrompido por samples péssimos ou MCs perguntando cadê a turma do apito. O plano para hoje à noite é pegar um trem para uma rave hardcore em Milton Keynes com Billy Bunter, mas não quero mais ir. Estou com medo que meu cérebro possa escorrer pelos meus ouvidos.

10h, HORA 30: Tive problemas tentando comprar café no caminho para o trabalho. A pessoa que me serviu ficava perguntando “dinheiro ou cartão”, mas eu só conseguia ouvir hardcore, então respondia “Desculpe, como?” O cara acabou ficando puto e me disse para desligar a música quando estiver falando com alguém. Gaguejei por um segundo e só respondi “não posso”, como se tivesse visto um fantasma.

Ninguém no trabalho parece impressionado com meu progresso. Acho que vou me demitir na hora do almoço. É um trabalho idiota mesmo.

12h30, HORA 32,5: Decido aumentar o volume. Estou ouvindo música no último e adorando, cara. Eu superei. Isso é incrível pra caralho. Estou voado, gente. Sim, como um pássaro. Voando como um grande pássaro.

Fotos daqui em diante por Chris Bethell.

15h, HORA 35: Decidi ir para um fliperama agora. Não tenho certeza do porquê. O Chris (fotógrafo da VICE) queria um lugar legal para tirar umas fotos, e como fliperamas se tornaram o lar espiritual do happy hardcore nos anos de hibernação pós-rave, estamos aqui. O máximo que consegui achar foram uns caça-níqueis perto da estação de trem. Agora só consigo responder em uma palavra. Um filme em technicolor desceu sobre o mundo e minhas juntas doem.

Dou uma chance para a máquina de dança. Só consigo bater os pés como um nenê sem coordenação motora. Estou com uma vontade repreensível de tirar a camisa. O gerente do lugar chega e pergunta por que estamos tirando fotos. Desmorono completamente; foi como se eu estivesse sendo preso. Só consigo repetir “jornalista” até o Chris se aproximar e lidar com a situação.

16h, HORA 36: Recebo mensagem do correspondente da nite de longa data da VICE, Josh Baines, que vai se juntar a mim para a festa de hoje. Hora de ir pro pub. A sensação que estou experimentando agora é muito difícil de explicar. É um medo vívido que oscila para psicose completa antes de voltar para a catatonia. Estou muito longe de casa.

18h, HORA 38: O Old King’s Head não é o tipo de pub que você pode elogiar. É muito cheio, caro e com uma localização estranha. Mas é literalmente a um pulo do escritório da VICE, então é aqui que me junto a Angus para sua odisseia.

Enquanto desço o beco que leva para uma parte perturbadoramente movimentada de Shoreditch, vejo nosso homem. O Angus geralmente me recebe com um “Oiiii, cara”. Isso já se tornou meio que um chamado social; ouço isso, relaxo e sei que pelas próximas duas ou quatro cervejas vou me divertir. Geralmente é um oi acompanhado de um abraço forte. Hoje não teve abraço. Mal teve um oi.

Entro no pub e depois saio, segurando dois pints gelados. Mesmo sob as luzes da rua e o céu escurecido, o Angus parece pálido. Cinzento eu diria. Seu maxilar está travado. Noto os tendões dos fones descendo até o bolso dele, e ouço os baixos e o zumbido do hardcore. Ele está claramente, e compreensivelmente, ansioso. JB

20h, HORA 40: A jornada até a rave não ajuda. Alguns pints seguidos por uma correria até o trem lotado não são a melhor maneira de começar uma noite de balada. Com os fones firmemente posicionados, o Angus parece um homem à deriva. Não consigo deixar de pensar o que exatamente está passando pela cabeça dele neste ponto — onde o hardcore o está levando, mentalmente.

Fisicamente, o hardcore trouxe ele, eu e o Chris à estação de trem de Milton Keynes. Fazemos um estoque de ibuprofeno, cigarros e cerveja, admirando a escala pouco britânica da estação. Parece uma versão em Lego de uma construção imaginária do leste europeu: quadrada, bulbosa e lindamente sem graça.

Enquanto embarcamos às 20h54 para Wolverton, nosso destino final, sinto que bem no fundo de sua exaustão, o Angus está pegando um certo gás. Duas horas atrás, palavras não eram algo que ele podia desperdiçar, sua comunicação era tipo um cara bêbado tentando traduzir farsi para o francês para o finlandês numa rua de Farringdon. Talvez seja toda a atmosfera da noite de sexta, talvez seja só a ideia de passar seis horas na companhia de Billy Bunter. Seja o que for, a cor voltou às suas bochechas. Bem a tempo. JB

21h, HORA 42: A jornada nos trouxe até aqui: para uma instalação industrial nos arredores de Milton Keynes. Consigo sentir o baixo na placa do meu esterno e sei que é hora de finalmente tirar os fones. Pela primeira vez em dois dias, todo mundo está ouvindo happy hardcore, não só eu. De repente percebo como estive isolado nos últimos dois dias — quão distante do resto do mundo. Entrar no espaço me faz sentir como cair na meleca do meu próprio cérebro. Um sorriso selvagem se espalha pelo meu rosto.

Ao nosso redor na fila, ravers de meia idade estão explodindo de empolgação. A conversa logo se volta para 1996, a Helter Skelter, o Bonkers, memórias de festas passadas. Billy Bunter vem nos receber na porta. Ele é cercado por devotos gritando “é o Bunter!” assim que aparece. Ele nos leva até uma sala atrás do palco para um papo rápido com ele e o DJ Sy.

21h30, HORA 42,5: Sentamos em cadeiras de plástico numa sala verde, uma porta de madeira abafando o som da música lá fora. Bunter nos conta por que essa noite significa tanto para as pessoas na fila. “Para o tipo de música que estamos tocando esta noite, Milton Keynes era o epicentro”, ele diz. “Tem gente que veio de Leicester, da Escócia e até de Bristol pra isso.”

Começando como DJ em 1990, a carreira de Bunter acompanhou a rave através de seus vários picos e permutações, começando com o house, passando pelo hardcore old school, o jungle e até o happy hardcore. Como ele coloca: “Quando comecei eram 118 BPM, em 1994 eram 160 BPM, em 1998 eram 180 BPM.”

Quando a música foi ficando mais rápida e o happy hardcore emergiu, me conta Billy, os formadores de opinião não quiseram saber. ” Mixmag, DJ Mag — todo mundo estava zoando com a nossa cara, eles não davam a mínima. A gente vinha para a Sanctuary, em Milton Keynes, e tocávamos para 10 mil pessoas num armazém. A Fusion na Arena Wembley, 10 mil pessoas vieram nos ouvir. As modas vão e vêm. Não éramos uma moda. Éramos um estilo de vida.”

22h, HORA 43: Você sempre ouve as pessoas dizerem coisas assim sobre os dias da rave — “era um estilo de vida, éramos uma família” — mas é difícil saber exatamente o que elas querem dizer até ver a cena reunida. Tem algo quase histérico aqui: como sobreviventes de uma grande guerra revivendo traumas juntos. Como os dias de muito MDMA das raves de estádio eram hiperreais e eufóricas, eles só conseguem entender mesmo uns aos outros. Você não esteve lá. Você não viu.

Estranho — bolas no fundo das minhas pálpebras pulsam no ritmo da música, indo e voltando entre exaustão e exaltação — acho que cheguei muito perto. Me refestelei em duas décadas de decadência hardcore por dois dias, e agora, delirante mas socando o ar, tenho mais em comum com os veteranos shellshock da Geração Rave do que tenho com qualquer outra pessoa no mundo.

23h, HORA 44: O burburinho no lugar é surreal. Não lembro a última vez que experimentei esse tipo de atmosfera numa noite de sexta-feira. O que meio que faz sentido. Para muita gente aqui, essa é uma chance de ignorar a existência ordinária em que eles caíram em algum momento depois de 2003 e retornar aos seus dias alucinados. De dois em dois minutos alguém entra correndo e grita “Eu amo hardcore, porra!” Buzinas tocam e apitos soam com a mesma intensidade, apesar de não no mesmo número, como faziam em 1997.

0h, HORA 45: Continuo aqui. Esqueça a história de me sentir revigorado, tenho 20 anos de novo, mas minha psique estraçalhada pelo hardcore está conseguindo se manter. No fumódromo, encontro pessoas que vieram para cá da Suíça e da Austrália — sim, também para visitar a família, mas é óbvio por que eles realmente fizeram a jornada. Depois somos apresentados a pai e filha, os mais velhos introduzindo a nova geração às emoções do hardcore e Billy Bunter.

Perto dos banheiros químicos somos encurralados por um jovem raver empolgadíssimo com o hardcore. “É muito foda, cara, demais. Adoro UK hardcore, happy hardcore, breakbeat, powerstomp, amo tudo isso. Pedi minha namorada em casamento logo antes da festa. Eu ia fazer o pedido na rave, mas fiquei com medo de perder o anel.”

Paramos no meio do caminho. Logo ele a chama. Ela colocou uma massinha azul em volta do dedo para o anel não escorregar, mas a história do noivado é legítima. Ela nunca foi fã de harcore, mas agora o casal sempre vai para a rave junto.

“Ela é espanhola… e até ela adora!”

1h, HORA 46: Quanto mais nos afundamos na noite, mais a mania se firma. É difícil saber se todo mundo já tomou uns cinco doces ou se os olhares selvagens são a ressaca de uma década de fechamento dos anos 90. A maioria das pessoas com quem falamos garantem que estão sóbrias há anos.

Um cínico pode achar algo triste nesse anseio pelo passado, e há momentos — quando um MC grita “É 1996 DE NOVO!”, por exemplo — onde a nostalgia vira melancolia, mas a música salva. Essa não é uma noite Melhores da Rave, uma festa oportunista para arrancar dinheiro de gente crédula buscando uma viagem ao passado.

Essa é uma cena — a mesma cena no nome e com as mesmas pessoas de 20 anos atrás — que se manteve viva contra todas as possibilidades e contra a maré da opinião pública. Tudo no hardcore é um desafio: da exuberância da música à paixão de seus seguidores. Claro que isso nunca vai morrer. Como poderia, com tanta gente disposta a reviver sua memória para o resto da vida?

Enquanto a noite passa, os sorrisos vão se esticando e distorcendo num embaralhado de dentes e lasers. Perco a conta de quantas vezes alguém bateu no meu ombro e gritou “old school”. Os apitos se misturam num grito constante. Estou começando a perder a razão.


2h, HORA 47: Depois de abrirmos caminho até o palco, conseguimos a atenção do Billy tempo suficiente para fazer uma foto e ver a multidão de cima. Não é Arena Wembley, mas apertando os olhos e mantendo a fé bem que poderia ser.

Hora de chamar um táxi. Não falta muito. Já posso ver o fim do túnel. Embarcamos no táxi e voltamos para o centro de Milton Keynes através de um McDonalds. Os fones voltam para os meus ouvidos e vou direto para As 100 Melhores de Happy Hardcore da Apple Music. Combinado com o tinitus do clube, e o pico de glicose de mil Jägerbombs, acredito que meu cérebro possa implodir.

3h, HORA 48: As luzes estão apagadas em Milton Keynes. Nosso trem sai da plataforma e começamos nosso lento retorno para Londres. Confiro o relógio e percebo que chegamos à hora final. Não vou forçar a barra e tentar dar um arco emocional para esta matéria: Estou muito feliz que acabou. Happy hardcore não é música para ouvir 48 horas seguidas. No geral, essa foi uma péssima ideia.

Ainda assim, nada pode desmentir quanto sentido isso fez esta noite. Esse não é o tipo de música para ouvir tomando café da manhã, mas quando ela faz brilhar os olhos das pessoas que se formaram com ela, sob o manto úmido de uma noite de outubro, é mágico.

5h, HORA 50: Estou em casa, deitado na minha cama, olhando para o teto. Acho que, dado um tempo, saí dessa via crucis com uma afeição ainda maior pelo gênero mais vilipendiado da rave britânica. Por enquanto, vou tentar dormir enquanto as batidas de “Heart of Gold” do Force & Styles fazem cócegas no meu cérebro.

O que seria legal, mas tirei meus fones duas horas atrás.

@a_n_g_u_s

Com a colaboração de @bain3z