Investigação aponta que os ursinhos de goma da Haribo são feitos com trabalho escravo no Brasil

Matéria originalmente publicada no Munchies US .

Na última segunda-feira (23), o canal alemão ARD levou ao ar uma investigação bastante triste sobre a empresa de doces Haribo, a fabricante global dos ursinhos de goma e outros doces. O documentário exibido na rede alemã alega que a empresa depende de trabalho escravo para fabricação das balas de goma. A investigação revelou como a otimização da cadeia produtiva de abastecimento da Haribo mantém trabalhadores em condições precárias no Nordeste brasileiro, região onde a empresa consegue os ingredientes chave dos seus doces.

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Uma boa parte do documentário de 45 minutos intitulado Markencheck (algo como “Checando a Marca” em português) detalha a vida dos trabalhadores terceirizados da Haribo no Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, locais onde são encontradas uma grande porção das árvores de carnaúba no mundo. A cera da carnaúba é um ingrediente-chave dos produtos da Haribo — é ela que dá aos ursinhos de goma o acabamento brilhante que os impede de colarem uns nos outros. A cera é também a mesma matéria prima encontrada em óleo automotivo, cera de sapato e protetor labial.

A indústria de cera de carnaúba, por sua vez, se baseia no trabalho mal pago e com jornadas bastante questionáveis. Há registros de que menores de idade trabalham na extração. Eles ganham cerca de R$ 40 por dia, e passam longas horas coletando cera de árvores altas que não podem ser alcançadas sem a ajuda de lâminas longas em formato de gancho. Eles dormem ao relento ou em caminhões. Os trabalhadores não têm acesso à água potável além da disponível em córregos próximos. E muitas vezes esses trabalhadores sequer têm acesso a banheiros.

A partir dos 31 minutos, é possível ver imagens dos trabalhadores terceirizados da marca no Brasil.

Outra parte do documentário investiga as fazendas industriais da Haribo ao norte da Alemanha onde porcos são criados para uso da GELITA, fonte da gelatina usada pela empresa. Esses porcos, como o documentário mostra, vivem em meio às próprias fezes e vagam pelos chiqueiros com feridas abertas, às vezes entre corpos em decomposição de outros porcos.

As descobertas do documentário alarmaram a Haribo, uma empresa com sede na Alemanha mas cujos produtos são vendidos mundialmente. A companhia disse que irá abrir uma rigorosa investigação.

“Gostaríamos de enfatizar que ficamos extremamente preocupados com algumas das imagens mostradas no programa transmitido pelo canal alemão ARD”, escreveu um porta-voz da Haribo para VICE. “As condições das fazendas de porcos e das plantações brasileiras mostradas são insustentáveis.”

A empresa também informou que está trabalhando numa “auditoria” de seus fornecedores, indo de fornecedores diretos a fazendas individuais. A Haribo insistiu que será transparente a cada passo tomado, mantendo o público informado do status da auditoria.

“Atualmente, estamos investigando junto com nossos fornecedores a natureza exata das condições nas empresas que fornecem para eles”, continuou o representante. “Melhoras urgentes são necessárias nessas áreas, vamos insistir em sua implementação e não vamos descansar até que elas sejam feitas.”

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