Quase todas as semanas há um soundbyte da figura “buçal” que emergiu nas últimas legislativas. O programa político que defende revela, entre outras concepções inclassificáveis, que “Ao Estado não compete a produção ou distribuição de bens e serviços, sejam eles serviços de Educação ou Saúde, ou sejam os bens vias de comunicação ou meios de transporte”. Privatizar tudo isto é a solução? E os mais frágeis da sociedade, “pá”?
Quando começou a ter visibilidade como comentador televisivo na área da justiça/segurança, logo dividiu essa tarefa com o seu espaço favorito: o de opinion maker desportivo. A partir daí, formou um partido divisionista, iniciou a avalanche de ruído e, de grosso modo, foi revelando a veia populista de baixo nível.
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Antes das eleições, prometeu ser deputado em regime de exclusividade. Já com lugar assente na Assembleia da República, permaneceu na TV e ainda acumulou o salário de consultor fiscal numa empresa privada. Entretanto, em boa hora, foi dispensado pelo canal que lhe dava palco.
As parcerias com forças partidárias no estrangeiro são outra nódoa a reter. Além de dar trela ao Vox, em Espanha, fala-se em eventuais conversações com Salvini e Bolsonaro. Numa reportagem da revista Visão, à semelhança do trilho percorrido pelo brasileiro, existe a “coincidência” de contar supostamente com o apoio de diversos representantes da igreja evangelista.
Um dos principais embustes passa pela corrupção existente em Portugal. A intenção de criticar é digna, mas há uma variante desse cancro que o antigo membro do PSD pouco ou nada diz: o futebol. Porque será?
O homem que acha que um dia vai vencer as eleições (mostrando o quão desfasado está da realidade em relação às migalhas que socialistas e sociais-democratas deixam aos outros), postou que “ofender polícias, magistrados ou guardas prisionais vai dar mesmo prisão. E o Twitter deixará de ser a bandalheira que é”. Antes de mais, está longe de existir um “Everest” de injúrias contra as autoridades portuguesas; quando à censura que pensa fazer na rede, nada de novo. Há gente que adorava voltar aos tempos da PIDE.
A obsessão pelos ciganos, a falta de classe num caso com Catarina Martins e a cabazada dada por RAP
É indecente o ataque que faz aos ciganos ao pedir que estes sejam confinados durante a pandemia – Gueto de Varsóvia, alguém? – ou quando julga que esta comunidade vive exclusivamente de subsídios do Estado. Ele sabe, por acaso, quantos da sua etnia recebem esse apoio e preferem, intencionalmente, não mexer uma palha?
A falta de respeito pelos adversários políticos teve dois episódios deploráveis. Primeiro pediu que a então representante do Livre, Joacine Katar Moreira, fosse devolvida a África (numa piada repugnante) e há algumas semanas perdeu completamente o pé com Catarina Martins.
A coordenadora do Bloco foi alvo de um post infeliz do jornalista Luis Osório, que presumiu que a deputada tinha proferido, entre outras declarações, o inefável “merda de país”. Sem demoras, Osório assumiu o erro de ter confundido Catarina (na altura actriz) com outra colega da representação, num programa da RTP transmitido há vinte anos. O que fez o ex-comentador da bola? Criticou duramente a elemento bloquista e, mais tarde, apagou a publicação digital sem um pedido de desculpas à visada. Esta postura é esclarecedora da falta de classe em toda a linha.
Por mais que este pseudo-político tente desmarcar-se de eventuais simpatizantes neo-nazis, tem sido notícia a vontade dos mesmos em se aproximar. Um dia ainda se vai queixar de os ver com demasiada influência no partido…
Por estes motivos, é de aplaudir o trabalho da equipa dirigida por Ricardo Araújo Pereira. Ao longo da curta existência (aos Domingos, na SIC), o programa Isto é Gozar com Quem Trabalha desmonta num registo cómico a fraude andante que só engana quem quer ser enganado. Desta vez apelidou o dito cujo de “Hitlerilas”, por este ter acusado o cantor Agir de ostentar “um corpo tatuado à gangster efeminado” (rever o momento hilariante, desde o minuto 16:37, aqui). Quem se arma em homofóbico, tem o que merece.
Numa das edições do Governo Sombra (ainda na era TVI24), RAP já tinha lembrado ao entrevistado que adora coelhos um facto indesmentível: não foram os ciganos que estiveram na patifaria que enterrou bancos privados, que levou o país à pré-bancarrota e fez os – já de si depauperados – contribuintes arcar com o prejuízo.
Obrigado Ricardo.
A tua intelectualidade dá uma cabazada ao indivíduo que devia estudar a sua árvore genealógica ou fazer um teste de ADN. Como a globalização não é algo exclusivo da contemporaneidade (Portugal e os Descobrimentos que o digam), o resultado pode ser uma surpresa do tamanho de um gigantesco acampamento…
Quem queira ficar do lado certo da História, jamais pode votar neste tesourinho deprimente.
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