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Saúde

Pessoas nos contaram suas visitas mais estranhas ao ginecologista

“Sabia que a Selena Gomez tem lúpus?”, disse a médica enquanto explorava minha fauna e flora.
Foto por @jasmom1 via Twenty20.

Se você é uma pessoa adulta que tem vagina, é muito provável que um estranho já examinou partes suas que, mesmo com muito contorcionismo com um espelhinho, você provavelmente nunca viu. Esses encontros são suportáveis na melhor das hipóteses e traumatizantes na pior. Ninguém curte um bico de pato gelado de metal enfiado no seu cérvix.

Eu mesma já tive minha dose de consultas de “saúde da mulher” bizarras, a mais notável envolvendo um papanicolau dando meio errado quando a lanterna da minha médica morreu no começo do exame. Frustrada, ela foi buscar um carregador em outra sala (parece que a lanterna dela era tipo um iPhone velho que descarrega rápido), mas o negócio ainda não funcionou quando ela ligou na tomada. Com as pernas abertas, assisti a médica chacoalhar e estapear sua lanterna (o melhor jeito de consertar equipamentos médicos). Desistindo, ela saiu da sala uma segunda vez mas esqueceu de FECHAR A PORRA DA PORTA. Ficou só uma fresta aberta, assim como minha vagina na hora, então eu rapidamente protegi (toscamente) minhas partes com aqueles lençóis de papel que eles te dão no começo da consulta. Não sei por que simplesmente não tirei o pé dos estribos. Me senti paralisada, como uma tartaruga de cabeça pra baixo, depois de dar à luz.

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Quando voltou, a médica estava carregando uma luminária de chão de 1,5 metro, que ela ligou bruscamente na tomada e mirou para minhas partes sem reconhecer que aquilo era bem pouco ortodoxo. Ela mexeu ali por alguns minutos, inseriu o espéculo, abriu e aí anunciou que eu tinha acabado de menstruar.

“Não posso terminar o exame”, falou, incomodada com meu útero sangrando e claramente irritada. “Volte daqui uma semana ou mais”, acrescentou.

Mas não voltei. Porque eu precisava de tempo para processar a história ou algo assim? Não sei. Mas vou voltar. Prometo. Acho.

Gays desenham vaginas

Num impulso de comiseração, a VICE pediu a mulheres e pessoas não-binárias histórias reais de seus encontros mais constrangedores com um ginecologista. Nota: esta matéria não quer desencorajar ninguém a procurar um “médico de mulher”. É importante e você deve ser examinada regularmente. Mas esteja pronta.

Mallory, 25 anos

Eu estava menstruando aos poucos e irregularmente, o que sempre me deixou paranóica, então procurei uma ginecologista numa clínica gratuita. A médica era um pouco mais velha que eu e tinha uma vibe muito entusiasmada. Sempre fico um pouco nervosa em expôr minha flora e fauna para médicos, mas ela estava focada, foi direto ao assunto e disse que meu DIU estava na posição correta. “Parece tudo bem aí. Bom trabalho”, falou, como se fosse minha mãe elogiando a faxina que fiz no meu quarto.

O que se seguiu foi um silêncio constrangedor enquanto ela inseria uma bola de algodão para o papanicolau. Fiquei olhando para o teto. “Sabia que a Selena Gomez tem lúpus?”, ela disse do nada, enquanto ainda estava mexendo lá dentro. “Ela parece legal, né. Pena que está saindo com aquele Justin Bieber.”

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Eu queria dizer que ela estar pensando no Justin Bieber enquanto olhava dentro da minha vagina era meio estranho, mas respondi apenas: “É, ele mijou num balde uma vez e foi preso”.

“A Selena Gomez não vem tanto pro Canadá quanto deveria”, a médica continuou. “Não é o suficiente. OK, isso vai doer um pouquinho. Você ouviu a música nova dela?”


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Doeu um pouco mesmo. “'Fetish'? Ainda não.”

“Não é tão boa. 'Come and Get It' é a melhor dela.”

“Concordo.”

“OK, tudo certo. Você deveria ouvir 'Fetish' no caminho pra casa. Ver o que você acha, e tal.”

Aí ela tirou as luvas de látex, limpou as mãos com álcool gel e me deixou lá, seminua, pensando na Selena e no Justin num tapete vermelho em algum lugar. E é isso – a vez em que mais discuti sobre Selena Gomez em toda minha vida foi nessa ginecologista.

E ouvi mesmo 'Fetish' no caminho pra casa. A médica tinha razão. "Come and Get It" é bem melhor.

Tin, 24 anos

Por segurança e simplicidade, eu não revelava minha identidade não binária em minhas interações com profissionais de saúde naquela época. Eu tinha 21 anos e me preocupava com endometriose, já que tinha cólicas debilitantes que estava piorando cada vez mais.

Além de analgésicos de farmácia, a médica da minha faculdade não conseguia entender minhas desconfianças com anticoncepcionais orais. Ela me indicou um ginecologista homem, no que não pensei muito na minha primeira visita, mas lembro de me sentir aliviada em ver as avaliações de 4,5/5 estrelas dele no RateMDs.com.

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Na mesa de exames, meu corpo desassociou para testemunhar um homem de meia idade branco fazendo uma palestrinha sobre como a ovulação funciona e como o DIU Mirena ajudava a diminuir a dor, gesticulando para um cartaz sobre o sistema reprodutor com uma caneta laser, enquanto pronunciava lentamente cada palavra. Aí o ginecologista muito bem avaliado fez os exames apressadamente como um médico de clínica pública, e eu sabia que não podia pagar pelo DIU e nunca olhei de novo para o panfleto que ele me deu.

No caminho para a aula meses depois, de repente eu não consegui mais andar por causa de uma dor forte e chamei um táxi para me levar para a emergência. Eu estava muito ocupada com a rotina da faculdade para cuidar da dor desde que meu ciclo tinha começado.

No hospital, exames pélvicos foram feitos, primeiro por uma enfermeira da triagem, o que incluiu pressionar “gentilmente” meu abdômen, o que determinou que eu provavelmente tinha um cisto no ovário. Momentos depois, um residente entrou na sala de exames junto com um estagiário magricela. O residente repetiu o exame pélvico que a enfermeira tinha acabado de fazer para “confirmar” se era mesmo um cisto, e aí perguntou se tudo bem o estagiário repetir o exame vaginal invasivo. Era a primeira vez do cara na emergência, será? Eu podia dizer não, mas em vez disso concordei educadamente com esse momento de aprendizado, enquanto passava por uma dor 9 de 10.

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O mini-me cuidadosamente colocou as luvas e passou o lubrificante médico nelas. Os movimentos imprecisos dele na minha vagina me deram calafrios, e ele ficava fazendo contato visual comigo rapidamente, como se não soubesse o quanto disso era apropriado, ou talvez ele estivesse pensando que poderia acidentalmente me excitar, ou se excitar.

No corredor, eu conseguia ouvir vagamente o residente avaliando o exame que o estagiário tinha feito enquanto eu estava sentada, perplexa e nauseada, na sala de tratamento. O cisto acabou rompendo enquanto eu esperava pelos analgésicos bons.

Kerri, 32 anos

Uma colega de quarto me falou sobre um centro de saúde da mulher perto de casa e disse que tinha tido uma ótima experiência lá. Parecia a coisa ideal para minha caverna feminina. Liguei e marquei os exames, já que fazia anos que tinha feito da última vez. Chegando lá, não tive que esperar muito e já me chamaram, aí sentei na maca sempre muito alta do consultório, olhando para os estribos enquanto esperava e tentava lembrar que calcinha tinha vestido naquele dia.

A médica entrou e, para minha surpresa, ela não era uma enfermeira da Segunda Guerra com o rosto marcado pela Grande Depressão, mas uma mulher jovem e descolada que devia ter minha idade. Ela era muito simpática e legal, o que me acalmou. Eu avisei que fazia um tempo que não me consultava e ela disse que o melhor é fazer os exames a cada três anos mesmo, então tudo bem. Era muito fácil falar com ela, e logo parecia que a gente estava conversando num brunch. Ela me disse para deitar e abrir as pernas, e sem pensar eu respondi “você tem que me levar pra jantar antes”. Rimos e compartilhamos uma amizade que parecia ser antiga, mas que na verdade só tinha uns sete minutos. Sete minutos no paraíso com a minha melhor amiga. O lado ruim foi ter minhas partes invadidas por uma pinça gelada de exterminador do futuro, mas isso acabou bem rápido. Ela me disse que tinha acabado de chegar na cidade e eu disse que também tinha me mudado fazia pouco tempo. Fiquei até um pouco triste quando nossa consulta acabou, mas fui para casa me sentindo bem, como se pudesse riscar uma coisa na minha lista de tarefas.

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Alguns dias depois, recebi uma solicitação de amizade da miga gineco no Facebook. Eu não tinha certeza se era ela, mas parecia e o nome era familiar. Não aceitei a solicitação porque achei que seria estranho, e até hoje não sei se era ela mesmo. Nunca voltei para aquela clínica (porque inda não faz três anos que fiz os exames), mas vou te dizer que foi a solicitação de amizade mais estranha que já recebi. Tina Fey considera sua ginecologista parte da sua gangue, e eu me arrependo de não ter incluído a minha!

K.C., 31 anos

Eu morava em Cincinnati e estava no OkCupid. Por razões estranhas que não vou especificar, eu estava compartilhando meu histórico médico com estranhos na internet. Eu estava conversando com um estudante de medicina sobre uma descoberta que eu tinha feito no meu assoalho pélvico. Descrevi para ele o que estava acontecendo. E ele respondeu: “Não sou especializado em ginecologia, mas você definitivamente tem sífilis!!!”

Então, no dia seguinte, fui direto para a emergência porque nunca soube onde levar minha vagina ou em quem confiar para tratar dela. Na sala de exames, um médico velho de mãos cor de mapa me examinou. Ele foi para a entrada, leu o braile do meu corpo, se levantou e disse: “Sou médico há 35 anos… e nunca vi isso antes”.

Então marquei uma consulta com o pessoal do Planned Parenthood para fazer todos os exames. Eles te levam para uma sala de reunião para perguntar aquelas coisas de “Como chegamos aqui?”. Minha enfermeira entrou e perguntou: “Por que você pediu o cardápio completo?”, já que eu tinha pedido todos os exames.

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“Porque esse cara na internet me disse que eu tinha sífilis. Olha.” Peguei meu celular, porque como uma boa millennial eu tinha tirado uma foto da minha vagina. O que eu queria mostrar pra ela era tipo aquelas imagens do rover em Marte, então comecei a passar pelas fotos: um cappuccino, outro cappuccino, uma foto de cima do meu torso nu – legal. Essa não ficou muito boa. Uma com um filtro meio Bruxa de Blair. “Desculpe”, eu disse.

“Não se preocupe, já vi de tudo”, ela deu de ombros.

“Não, estou me desculpando comigo.”

Chegando a Marte, ela reconheceu o que estava acontecendo na hora. “Ah, isso? Não é sífilis, não. É uma coisa normal que aparece, depois some e provavelmente não vai aparecer de novo.” Fiquei tão aliviada que esqueci as palavras exatas que ela usou. Era só um cisto pequeno.

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