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Isto é o que vamos odiar depois de odiarmos o trap

Proponho-vos novos paradigmas culturais para odiarem, quando o trap desaparecer das nossas vidas.
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
La Zowie/@lazowi y Kidd Keo/@thekiddkeo; montagem por VICE.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Nestes tempos de incerteza e de modas que vão e vêm, a mente humana perde o rumo. Estamos num ponto em que, inclusive, consideramos que os que ainda odeiam esse perfil já arcaico de conduta humana a que chamámos "hipster" são ainda mais chatos que os próprios "hipsters".

Se analisássemos os últimos anos, poderíamos chegar à conclusão que esse poder de penetração na vida social e cultural que teve o "hipsterismo" podia transferir-se para todo esse emaranhado conceptual do trap. Passámos de "o trap é o novo punk" para uma propagação exacerbada do género, até chegar ao ponto em que já nos é indiferente, não é que o odiemos, é-nos, simplesmente, indiferente.

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Agora, até a malta que ouve bandas de "rock radical" tipo Mafalda, veste calças de fato de treino, gorros da Nike e bolsas de cintura nos ombros; Há algum tempo que a nossa relação de ódio e rancor com esta tendência massificada - sim, ainda estou a falar do trap e das suas condutas e estéticas - tem vindo a passar por várias fases - negação, dúvida, aceitação, cansaço, ódio, esquecimento -, coisa que me leva a pensar no seguinte: quando tudo isto se acabe de diluir, incluindo a hipertrofia filosófica do trap, o que será a próxima coisa que vamos detestar? O que há mais além do trap? Que tendências podem substituir as calças de fato de treino e o acabar todas as frases com "mano"?

Proponho abaixo uns quantos modelos de conduta que podiam expandir-se de forma detestável em todos os extractos da população e contaminar tudo, desde a música à publicidade. Isto poderá ser o que, em breve, comecemos todos a detestar. [Nota do Editor: por cá poderíamos colocar as coisas nestes termos: o que iremos odiar, depois de começarmos a odiar bolos].


Vê: "VICE Meets Nick Cave"


OS NOVOS NICK CAVE

Achava que isto já tinha sido meio abandonado, mas está a voltar com uma urgência extrema. Refiro-me a toda essa cena de vestir camisas de seda e fatos, tudo isso de parecer um ser atormentado que se desmorona ao ver o Die Toteninsel, de Arnold Böcklin, e exclamar coisas como "Desculpa, não conheço os Parquet Courts, é que estes últimos quatro anos só ouvi o 'Kind of Blue', do Miles Davis”.

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O exemplo mais claro são os Arctic Monkeys, que no seu novo disco adoptaram um perfil Nick Cave bastante potente; de qualquer maneira fica bem reivindicar a figura de Elias Bender Rønnenfelt - dos Iceage e Marhing Church, entre outros -, que já há algum tempo assumiu este estilo europeu romântico destroçado e atormentado. Saibam que, quando tentam imitar este estilo copiando instagrammers americanos, na verdade estão a ficar parecidos com o Joaquín Sabina.

OS YOUTUBERS OFENSIVOS

Essa escola de youtubers que estão acima dos seus próprios defeitos e que se metem com eles próprios e com tudo o resto, com o apoio de uma metralhadora de insultos sem qualquer filtro - coisa que me parece muito correcta. Também fazem paródias de outros youtubers e toda uma série de coisas básicas. Ago que já quase que vem por defeito nesta sociedade e que acho que se ensina no infantário. Enfim, portadores do humor que criticam o que já foi criticado mil vezes.

OS ZANGADOS

Enquanto tentam tapar as suas tatuagens a cores dos Simpsons, com uma espécie de manchas que aparentam ser umas cenas indígenas ou então umas colunas dóricas, vão inventando uma personalidade severa e enojada. São a estética do mal, com os seus pólos Fred Perry justinhos, os brincos e o cabelo curto. Têm um grupo que se chama Arcadia Negra e não põem ninguém na lista de convidados, porque "há que pagar a gasolina de alguma maneira", ainda que nunca tenham saído da sua cidade para tocar.

Há uns meses podias tê-los visto a vender os seus discos de Dan Deacon no Daily Price e agora publicam fotografias no Instagram a posar com as suas gabardines ao lado de arquitecturas futuristas. Muito zangados.

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OS EMOS DE 2018

Isto não acredito que dure muito, porque a mera ideia de um revival "emo" não faz sentido nenhum. Seria um revival muito mal compreendido e posto em prática com alguma mediocridade. Ainda assim, isto é o que acaba de fazer Princess Nokia com Look Up Kid. Suponho que o facto de ter desactivado os comentários para este vídeo já seja algo significativo. Se isto funciona, juro-vos que dou um tiro a mim próprio.

A MALTA DO TECHNO

Agora, de repente, todos esses fãs de Black Lips têm um perfil no Soundcloud com as suas "mixtapes" e adoram techno, usam calças de fato de treino à junky - já nos estamos a entender, essas às cores - e amam viver num after contínuo e dizer que "são do bairro". Grandes desenhos serigrafados a povoar a parte de trás das suas t-shirts, é horrível mas agora é o que é, "temos que nos resignar", atestam.

O bom desta malta é que, quando te levantas num domingo de ressaca às seis da tarde, podes ver as suas stories e observar com um certo medo como continuam a meter cenas numa casa qualquer, sem consciência de que se estão a dirigir de forma descontrolada em direcção ao seu próprio fim.


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