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racismo

A marcha 'Unite the Right 2' foi mais uma incrível flopada racista

O que não era tão difícil de prever.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Jason Kessler liderando a "marcha" Unite the Right 2. Todas as fotos por Byron Smith.

Praticamente ninguém apareceu para a marcha Unite the Right 2, realizada no aniversário de um ano da notória manifestação em Charlottesville que acabou em caos e com uma mulher morta. Apesar do site do evento ser até que bem produzido, sugerindo a possibilidade de aptidão organizacional do grupo, menos de 20 pessoas compareceram na vida real, pelas minhas contas. E mesmo que antes do evento relatórios já sugerissem que os manifestantes estariam em menor número que seus oponentes, em quatro para um, a porcentagem acabou se mostrando bem maior. Entre centenas de contramanifestantes antifas, membros do Black Lives Matter e outros grupos antirracistas, a falta de comparecimento do lado dos “direitos civis brancos” foi, francamente, um baita vexame para eles.

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E pensando agora, isso não era muito difícil de prever.

“Muitos supremacistas brancos estão falando para as pessoas não comparecerem”, me disse Mark Pitcavage, pesquisador sênior do Centro de Extremismo da Liga Antidifamação, antes do evento. “Parte disso é uma tentativa de evitar a reação negativa pós-Charlottesville, mas também porque eles não aguentam mais o organizador Jason Kessler.”

É verdade: algumas pessoas da mídia da direita começaram a lançar a ideia que Kessler é um infiltrado do estado profundo, que quer dividir os EUA e fazer Trump sair mal na foto. Também é verdade que grandes nomes do movimento como Richard Spencer ficaram em casa, e Andrew Anglin do Daily Stormer disse a seus seguidores que participar da marcha não valia a pena ser publicamente ostracizado.

Mas outro fator que contribuiu para o UTR2 ser um não-evento foi a quantidade de policiais separando os grupos bem antes da marcha começar à tarde. O site do UTR2 dizia que o plano era que os racistas chegassem num comboio numa estação de metrô em Vienna, Virgínia, e fossem para a capital Washinton dali. Mas contramanifestantes (e a imprensa) foram proibidos de entrar na estação em Vienna, e também foram impedidos de ficar perto da parada Foggy Botton onde o contingente da extrema-direita desembarcaria na cidade. Enquanto isso, um pequeno exército de policiais flanqueava o grupo racista no momento em que Kessler emergiu do metrô, sorrindo num terno azul e segurando uma bandeira americana.

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Não que o evento tenha sido para os fracos de coração. Alguns ativistas antirracistas usando tocas de gatinho rosas se aproximaram da contramanifestação mas foram embora logo depois, aparentemente porque a coisa era mais tensa do que eles pensavam. E em certo ponto parecia que a violência estava prestes a estourar.

Apesar da UTR2 ter conseguido permissão para marchar pela Lafayette Square, perto da Casa Branca, o pessoal da oposição foi barrado lá também. Em resposta, manifestantes do black bloc construíram uma barreira improvisada com carrinhos de supermercado para impedir Kessler e sua turma de sair da região. Fogos de artifício e ovos foram lançados contra os policiais, mas eles não responderam com gás lacrimogêneo.

Eventualmente, as autoridades avisaram para o pessoal tentando interceptar Kessler que ele tinha sido escoltado discretamente para fora da área, e mesmo os antirracistas mais empolgado foram embora antes das 18 horas.

Dizer que as coisas foram melhores que ano passado em Charlottesville é ter as expectativas muito baixas. Mas tendo comparecido ao primeiro evento trágico, posso dizer que a comoção em Washington foi dez vezes menos extrema que aquele dia na Virgínia, em 2017.

Ainda assim, o fato de que gente comum não viu problema em ficar no Peet's Coffee na Pennsylvania Avenue e 17th Street – bem na frente de um grande impasse entre policiais e antifas que ameaçava virar pancadaria, apenas a última batalha maior entre a direita supremacista branca e o resto dos EUA – já era um fato perturbador.

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Em outras palavras, mesmo que a maioria das pessoas não esteja disposta a comparecer a “marchas pelos direitos civis brancos” em 2018, muita gente parece já aceitá-las como um fato da vida hoje.

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