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Tecnologia

A morte do Paint é a vitória dos softwares profissionais sobre os programinhas toscos

É triste, mas o futuro da computação não reserva espaço para garranchos, manchas e formas mal cuidadas.

Se você é usuário do Windows 10, deve ter se surpreendido quando, em abril deste ano, rolou o update que botava o "Paint 3D" entre a lista dos aplicativos novos. Embora o nome fosse quase igual, o app não era uma atualização, e sim uma coisa completamente diferente. Em vez de deixar a tela pronta para aventuras toscas na arte digital, seu propósito era focar na modelagem 3D. Era um falso complemento, afinal, o Paint das antigas era deixado ainda mais de canto, triste e solitário, ao lado da lixeira. Era questão de tempo para que fosse engolido de vez pelas ferramentas mais avançadas.

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E foi o que aconteceu. Hoje tivemos a notícia que pode significar o adeus para o programinha que fez história na arte digital com desenhos simplões. O Paint aparece na melancólica lista de aplicativos descontinuados da próxima atualização do Windows 10, o "Creators Update Fall" e não receberá mais suporte da Microsoft. Isso não significa que ele será desinstalado ou desaparecerá do seu computador da noite para o dia, e sim que sua dona não liga mais para ele. Ele se tornou, a bem dizer, uma espécie de tio que era descolado quando jovem e que agora ninguém dá mais muita bola.

Aos mais novos pode não parecer grande coisa, já que é possível achar aplicativos com mais recursos que rodam nos próprios navegadores. Ainda assim, o fim do suporte ao Paint não deixa de ser um marco da computação. Estamos nos desfazendo do que talvez seja o único laço que nos une à navegação sem refinamentos dos anos 90. Não foram poucos os artistas (profissionais e amadores) que, em momento de absoluto tédio, usaram daquela tela branca virtual para usar baldes, elipses e pincéis para criar retratos rústicos enquanto a conexão discada não entrava.

Nos últimos anos, como tem ocorrido com os games, vivemos uma grande nostalgia em relação àquela aura tosca dos PCs quadradões. Muitos caras se aplicaram em projetos ambiciosos com as ferramentas do Paint, o que nos faz pensar que nem tudo é sobre gráficos espetaculares e técnicas mirabolantes. Claro que a tecnologia sempre avançará em direção ao ultrarealismo e à imersão completa, mas, ao mesmo tempo, mergulharemos com frequência nas memórias do passado de linhas mais simples. E esse talvez seja o lado bom da coisa: independentemente da Microsoft descontinuar, sempre daremos um jeito de usar e aprimorar a experiência do fácil, do inteligível e do descompromissado. Usar o Paint agora ficará quase tão legal quanto era na época em que o chamávamos de Paintbrush.

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Pensando no caráter imortal do programinha, separamos aqui alguns projetos que marcaram época e que podem servir de inspiração para vindouras empreitadas.

O cara que recriou cenas do Blade Runner

O mundo cyberpunk de Ridley Scott por si só já é um espetáculo visual, mas esta obra saída inexplicavelmente do tédio de uma pessoa que decidiu recriar as cenas do filme é arte em sua forma mais primal. Uma releitura que com certeza será estudada pelos melhores arqueólogos digitais.

Crédito: David MacGowan

O principio dos scanlators

Quando ler um mangá ainda era algo reservado a poucas pessoas, um grupo de pessoas começou a fazer a tradução das histórias e substituir os as falas originais em japonês nas páginas escaneadas dos quadrinhos. E qual era o software usado nessa tarefa? Pois é, meus caros, o MS Paint.

O concurso de retratos de Fidel Castro

Há uns anos o Joven Club de Computación y Electrónica Santiago de Cuba promoveu um concurso de retratos do falecido líder da ilha no programa. Um dos exemplos de arte criado pode ser conferido abaixo. Repare todo o sentimento dessa obra.

Crédito: JovenClub Facebook

Fan arts de poucos bits

Assim como a fanfic, a fanart é o fã tomando para si o poder de criação de sua obra favorita. A plataforma favorita, claro, é o Paint. Faça um teste: digite qualquer assunto, escreva fanart e busque no Google grandes obras amadoras. Abaixo, um belo exemplo não-pornográfico de Sonic.

Capas de discos que emocionam

Quando as pessoas ainda usavam lápis e canetas, um dos hobbies mais populares era desenhar logotipois de bandas e capas de discos famosos. O americano Marc Fisher compilou em seu site capas de discos famosos desenhadas no paint. Os resultados, além de incríveis, mostram que nosso querido editor de imagens ainda tem muito potencial a ser explorado.

Caso queira se inspirar ainda mais para começar o seu projeto de Paint que mudará o mundo, dê uma lida nesses depoimentos que a VICE colheu de artistas, designers e ilustradores.