Documentário retrata talentos ocultos do boxe na Zona Leste de São Paulo
Imagem: André Sanches/Divulgação

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Documentário retrata talentos ocultos do boxe na Zona Leste de São Paulo

“Boxe ZL” mostra as dificuldades de boxeadores de nível internacional que vivem e treinam com pouco ou nenhum apoio.

O que você faz quando as chances não estão a seu favor? Você é bom, mas você não tem a chance ou o espaço para mostrar o que pode realmente fazer. Isso em um contexto onde a falta de suporte faz com que seu maior adversário seja você mesmo. A resposta para essa pergunta não é simples e é justamente com ela que boa parte dos atletas brasileiros são confrontados todos os dias. Com o boxe não é diferente.

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Em toda luta você bate, se esquiva e bloqueia ao máximo os golpes do adversário, mas no final das contas você inevitavelmente apanha. A relação entre este esporte e a vida já foi retratada no cinema mais de uma vez. Talvez o mais marcante personagem seja Rocky Balboa, aquele que fez o discurso com a icônica frase sobre a vida "não se trata de bater duro". "Trata-se do quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o quanto você é capaz de apanhar e continuar tentando", diz.

Para os boxeadores da Zona Leste da cidade de São Paulo, essas frases da ficção não poderiam trazer mais realidade. Cássio da Silva, de 24 anos, é um dos cinco boxeadores apresentados no filme Boxe ZL. Ele ainda não possui títulos como profissional, luta na categoria Super Meio Médio – de até 69,85kg - e em seu cartel possui cinco lutas, com apenas uma derrota. Mesmo com dificuldades financeiras, sem apoio da família e desaconselhado mais de uma vez a desistir, ele continua a treinar e a perseguir seu sonho de ser reconhecido como boxeador profissional.

No extremo oposto da carreira de Cássio está outro Silva. Um que coleciona uma série de títulos como o Campeonato Forja de Campeões, o Sul-americano Juvenil e Campeonato Brasileiro na categoria Super Pena – de até 58,97kg. Willian Silva, 30, o "baby face", tem em seu cartel amador 140 lutas e apenas 5 derrotas. No profissional são 23 lutas e apenas uma derrota. A primeira vez que baby face não saiu do ringue vitorioso foi no ano de 2016, quando perdeu por pontos contra o porto riquenho Felix Verdejo, na disputa pelo cinturão Latino de Boxe. Mesmo com a carreira tendo atingido um patamar internacional, as coisas não são mais fáceis para Silva, que tem que dividir sua vida entre os treinos e o emprego regular como professor em uma academia de boxe, de onde tira a maior parte de sua renda.

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Willian Silva, o "baby face". Imagem: André Sanches/Divulgação

Estes são apenas dois retratos apresentados no documentário curta-metragem Boxe ZL, dirigido e produzido pelo brasileiro Weverson da Silva. Assim como os atletas apresentados, o diretor também é saído da Zona Leste da capital paulistana. Ele voltou ao local de origem depois de uma temporada de 14 anos na França. "Senti na necessidade de filmar algo, contar alguma história depois de tanto tempo fora. Na volta para cá, acabei me deparando com um amigo de infância que o irmão dele tinha se tornado boxeador, o que me fez ir atrás desse universo", contou o diretor.

As Olimpíadas realizadas no ano de 2016 foi o outro fator que motivou o diretor em sua escolha. Para ele, o fato de estar de volta ao Brasil e se aproximar da história dos cinco atletas apresentados no documentário foram como tomar vários "socos na cara". Segundo relatou, "ver atletas profissionais que têm nível de competição internacional não decolar por falta de apoio é como um soco".

Cássio da Silva. Imagem: André Sanches/Divulgação

A produção também não aconteceu sem dificuldades. Para a captação das imagens e entrevistas, Weverson e sua equipe passaram uma semana convivendo 24 horas com os atletas. "O material das entrevistas que coletamos no primeiro dia nem entrou no produto final, eles não estavam muito à vontade para falar, o que é compreensível. Uma coisa é você falar dos seus problemas para um amigo, outra é você falar pra um desconhecido que está fazendo um filme sobre a sua vida", observou o diretor.

Dentre essas dificuldades contadas na tela, conseguir marcar lutas é um dos entraves mais frequente na carreira dos atletas retratados. Em um determinado momento Michel Silva, 28, irmão de William e também boxeador, comenta que, se fosse possível, lutaria 5 ou 6 vezes por ano, mas que isso não acontece facilmente. "Mesmo o atleta sendo campeão brasileiro, sem um empresário, ele perde credibilidade. Fora isso, existe um esquema de agentes de boxe que só marcam lutas entre seus agenciados. Quem está fora desse circuito é deixado de lado. Não basta apenas ser bom", afirma o diretor.

Mesmo com todos esses problemas, apanhando dentro e fora do ringue, os atletas apresentados em Boxe ZL continuam a perseguir o sonho de uma vida inteiramente dedicada ao boxe. Querem trilhar uma carreira em que os maiores adversários sejam aqueles que estão dentro do ringue. Para conhecer um pouco mais de suas histórias, você pode acessar o link e conferir a íntegra do documentário.