Jonas Bendiksen Fotografa Países que Não Existem

NORUEGA. Vesterålen. Barraco em chamas.

Magnum é provavelmente a agência de fotógrafos mais famosa do mundo. Mesmo que você não tivesse ouvido falar dela até agora, é muito provável que já conheça suas imagens – seja a cobertura de Robert Capa da Guerra Civil Espanhola, ou as férias bem britânicas de Martin Parr. Diferente da maioria das agências, os membros da Magnum são selecionados pelos outros fotógrafos da agência e, como eles são a maior agência de fotógrafos do mundo, se tornar um membro é algo muito difícil. Como parte de uma parceria com a Magnum, vamos apresentar o perfil de alguns de seus fotógrafos nas próximas semanas.

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Ao contrário da maioria dos outros fotógrafos com quem conversamos na série A VICE Adora a Magnum, o trabalho de Jonas Bendiksen não tem seu foco em zonas de guerra ou conflitos. Jonas começou na Magnum como estagiário e percorreu todo o caminho até se tornar um membro oficial, então, sua visão de como a fotografia pode se envolver com o mundo ao redor é bastante informada. Do exame da vida nos estados marginais pós-soviéticos à exploração da transição cada vez mais rápida da humanidade do campo para a vida na cidade, conversamos com o fotógrafo a respeito de seu trabalho e os motivos pelos quais as pessoas deveriam parar de ver favelas como aberrações.

VICE: Tenho certeza que já te perguntaram isso muitas vezes: como alguém que foi avançando por todas as posições da Magnum, você deve ter uma perspectiva interessante da agência como um todo ese tivesse que resumir, na sua opinião, o que faz a Magnum ser tão importante no mundo da fotografia?
Jonas Bendiksen: Bom, acho que o que torna a Magnum interessante e ainda relevante é que ela tem essa variedade incrivelmente diversa de fotógrafos que, cada um a seu modo, cria uma fotografia que é um comentário do que eles veem ao redor. E acho que a Magnum se tornou ainda mais interessante nos últimos anos por se tornar ainda mais diversa.


NORUEGA. Vesterålen. Pátio da escola com flocos de gelo.

Como você disse, esse é um grupo de fotógrafos muito diverso. Mas você diria que há um tipo de “missão”?
A Magnum possui um objetivo em comum: usar a fotografia para ser parte de um diálogo sobre o mundo que nos rodeia. Dentro disso, cada fotógrafo pode estar interessado em coisas diferentes, mas esse objetivo é o denominador comum.

Como você descreveria a ideia por trás de seu livro Satellites? Ele examina regiões um tanto esquecidas, certo?
Sim, o livro é uma jornada através das margens da antiga União Soviética. Parei em todos esses lugares que você poderia dizer que, no papel, realmente não existem. Quer dizer, essas repúblicas separatistas como a Transnístria e a Abecásia, que existem fisicamente — elas possuem suas próprias fronteiras e governos — mas que não são reconhecidas. Pode-se dizer que esses lugares representam alguns dos negócios inacabados da queda da União Soviética. Então, isso se tornou uma jornada para mim.

NORUEGA. Vesterålen. Porto de Myre.

Quais foram suas experiências nesses lugares e como as pessoas vivem ali? Você notou alguma característica unificadora?
Pode-se dizer que essas pessoas vivem sob bastante pressão, no sentido de que a vida nesses lugares é economicamente difícil. Até hoje, eles são, de certa forma, isolados do resto do mundo. É difícil sair dali e é difícil viver ali. Ao mesmo tempo, esses lugares são todos bem diferentes e têm seu caráter único.

Places We Live foi seu livro seguinte. Ele lida com a ideia de que, pela primeira vez, mais pessoas vivem nas cidades do que fora delas. Você tratou isso como uma questão ambiental ou social?
Acho que o ponto é que as duas noções são completamente inseparáveis. Foi uma das coisas na qual esse projeto me fez pensar. Não estou tentando dizer que morar nas cidades é ruim ou bom. O que estou dizendo é que isso é um fenômeno e precisamos lidar com ele. Mais de um bilhão de pessoas vivem em favelas e esse número está sempre crescendo. Precisamos aceitar que é assim que as cidades modernas funcionam e nos envolver com o problema.

RÚSSIA. Próximo de Sergeyev Posad. 2011. Palina (6 anos) brinca na folhagem perto da dacha onde ela passa o verão.

Você se surpreendeu com a capacidade de funcionamento dessas favelas?
Acho que foi o que mais me surpreendeu durante todo o projeto, e foi por isso também que o fiz. Eu tinha lido todas as estatísticas e senti que essa era uma questão que precisava ser explorada. Mas o que realmente me fez querer expandir o alcance disso foi porque fiquei impressionado com a normalidade desses lugares. Você vê montes enormes de lixo e entre eles, pessoas normais levando vidas bem normais, lidando com as mesmas questões que as pessoas dos outros lugares. Eles ajudam os filhos com a lição de casa, tentam ganhar a vida, manter a família junta. Sabe, esse projeto foi uma exploração de como as pessoas criam normalidade nesse tipo de cenário extremo.

RÚSSIA. Vyalki, perto de Bykovo. 2011. Garotas dão banho em seus cavalos e nadam em um lago perto de uma comunidade de dachas de luxo.

Acho que você é o primeiro fotógrafo da série que não passou parte de sua carreira em uma zona de guerra. Isso é uma coisa pela qual você nunca se interessou?
É possível dizer que isso não é o tipo de coisa que realmente funcionou na minha vida. Fui pai aos 24 anos. Então, tenho sido um pai por boa parte da minha carreira, e, simplesmente, a mim nunca fez sentido ser o cara que viaja para onde estão jogando bombas. E acho que há muitas questões interessantes para ver por aí. Há tantas outras forças e pressões trabalhando nos seres humanos e criando situações complexas e fascinantes ao redor do mundo.

É claro que há sempre espaço para alguém que vai para uma zona de conflito e faz um trabalho interessante. Mas isso realmente nunca esteve na minha agenda. Não sei muito bem o porquê, mas sempre me senti mais satisfeito quando faço histórias nas quais me sinto deixado em paz, histórias que ninguém está perseguindo. O que me levou a trabalhar em projetos que ficam um pouco de fora das grandes manchetes; histórias menores. Talvez elas não sejam tão dramáticas ou atraentescomo algumas dessas outras coisas, mas, para mim, essa sempre foi a maneira mais satisfatória de trabalhar. Sinto que estou trazendo algo à mesa quando me envolvo em uma história que não receberia tanta atenção de outra maneira.

Clique abaixo para ver mais da fotografia de Jonas Bendiksen.

BANGLADESH. Ashulia. 2010. Esse tipo de forno de tijolos é onipresente em Bangladesh e uma grande fonte de poluição (já que usa carvão e é um tanto ineficaz), em termos de CO2 e qualidade do ar. Enquanto Jonas fotografava, uma tempestade chegou com muita chuva e vento. Aqui, os trabalhadores estão pegando os tijolos submersos e os jogando para a terra para depois serem levados para um barco.

BANGLADESH. Padmapukur. 2009. Na char (“ilha de lodo”) de Padmapukur, no delta do Ganges. O furacão Aila destruiu os diques, causando inundações diárias nas comunidades.

ISLÂNDIA. Reydarfjordur. 2007. Aalheiur Vilbergsdottir, 30 anos, brinca com seus dois filhos na praia de Reydarfjordur, bem na frente de sua casa, com a cidade ao fundo. Ela morou em Reydarfjordur a vida inteira juntamente com sua família.

RÚSSIA. Território Altai. 2000. Moradores da região coletam ferro-velho de uma espaçonave caída, cercados por milhares de borboletas brancas. Ambientalistas temem pelo futuro da região devido ao combustível tóxico desses foguetes.

MOLDÁVIA. Transnístria. 2004. A população da Transnístria é principalmente de etnia russa e a religião principal é o Cristianismo Ortodoxo. Aqui, o padre dá abenção antes de um batismo nas águas geladas.

GEÓRGIA. Abecásia. Sukhumi. 2005. Apesar da Abecásia estar isolada, meio abandonada e continuar sofrendo com as feridas da guerra em razão de seus status não reconhecido, tanto moradores locais como turistas russos são atraídos pelas águas mornas do Mar Negro. Esse país localizado em um trecho exuberante na costa do Mar Negro, ganhou sua independência da ex-república soviética da Geórgia em uma guerra sangrenta em 1993.

ÍNDIA. Bombaim. 2006. Uma garotinha brinca em Laxmi Chawl, um bairro de Dharavi. As luzes foram colocadas para um casamento na vizinhança.

Anteriormente – Peter van Agtmael Não Nega a Estranha Sedução da Guerra

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