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Música

Como a URSS Influenciou o Mais Brilhante Jovem Produtor da Rússia

O produtor Oleg Buyanov explica como os filmes, design e bases musicais do período soviético influenciaram sua produção.

Não é todo dia que você conversa com um artista de música eletrônica que sampleia art rock báltico dos anos 70.

O OL pode não ser um nome familiar para a maioria dos norte-americanos, mas ele é um dos jovens talentos de maior ascensão na Europa. As produções empoeiradas de house do Oleg Buyanov, recentemente contratado pelo Meda Fury, um selo subsidiário da R&S, soam como se tivessem sido criadas em Detroit ou Berlim. Profundamente atraído pelo hip hop, o soul e o jazz desde pequeno, ele tem como maior influência todos os tipos de arte e mídia da era soviética.

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"Acho que, como artista, fui influenciado principalmente pelo período soviético de fins dos anos 80, com seus filmes, design e bases musicais de jazz, funk, art rock e os primórdios da música eletrônica". Buyanov nasceu em Moscou, em 1986, e morou lá a vida inteira. O seu gosto pelo jazz e funk russos começou cedo.

Mas Oleg não se limita a escutar a música que é fundamental para ele – o período soviético tardio de que ele fala é de onde vem a maioria dos samples que ele usa em suas produções originais.

"Tem uma enorme base de dados aqui", ele disse. "A URSS nos legou um catálogo musical imenso: pop, art rock, música eletrônica underground, documentários de ficção científica, programas de TV, música de anúncios comerciais e até mesmo objetos de uso diário. Tudo isto é material local que não é muito conhecido no exterior."

Buyanov garimpa essas pérolas em lojas de disco locais. Quando acha um som que deseja samplear, pluga-o no seu MPC 1000 e sequencia a faixa a partir daí. Mas o patrimônio russo de música sampleável não se limita às lojas de discos.

"Procuro em quase todos os lugares: na TV, no YouTube, em fitas K7 e VHS, torrents e na nossa rede social local, a vkontakte. Às vezes uso um microfone para fazer algumas gravações de campo de vozes ou barulhos."

Além do gosto pela sua Rússia natal, ele tem influências internacionais.

"Quando era moleque, ouvia algumas fitas K7 do Thunderdome, Prodigy ou até de punk rock com os meus amigos – era o máximo!", ele exclamou. "Ainda me lembro daquele tempo. Embora a gente não soubesse muito sobre as culturas rave ou punk, sentia de verdade as emoções e a atmosfera da música e conseguia ter uma ideia dessas subculturas através dela."

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Oleg diz também que o pai o fez crescer ouvindo discos do Queen, Pink Floyd e Led Zeppelin. "Acho que eu só gostava do vasto leque de emoções que a música pode oferecer ou expressar para você."

Esta conexão emocional que ele tem com a música ainda é íntima. "Os russos são muito emotivos e profundamente espiritualizados. Nossa cultura é muito vasta, isolada e autêntica; também temos um legado enorme e interessante."

Esta natureza reservada da cultura russa é evidente no último EP que ele lançou pelo Meda Fury.

"Este EP é cru; os esboços foram feitos rapidamente, e depois eu só tentei manter os grooves, melodias e ritmos como vieram sem pensar demais. O principal método [de composição] foi o sampling – muitos samples – do art rock báltico e do leste europeu do início dos anos 70 ao hip hop americano de fins dos anos 2000.

Este conjunto único de samples é a essência da identidade deste lançamento.

"É por isso que o EP se chama Scape Border", disse Oleg. "Ele inclui música de lugares e períodos muito diferentes, e o clima sombrio é o ponto de convergência que conecta todas as faixas em um EP. As principais influências foram jazz, rock e vibes cruas de funk sobre ritmos house. Além disso, tem alguns filmes soviéticos raros com atmosferas únicas que assisti enquanto o produzia."

Ao longo de suas viagens pela Europa como DJ, Oleg se tornou mais apaixonado pela cena de Moscou. Com a crescente comunidade de música eletrônica, ele se envolveu profundamente nas culturas de arte e música locais.

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"Há muitos lugares, de pequenos pubs a armazéns gigantes, com lineups que ás vezes são doidos", diz Buyanov. "2014 não foi muito bom por um lado: alguns clubes conhecidos, como o Solyanka e o Arma17, foram fechados, mas agora está melhorando. Meus amigos estão trabalhando em um lugar novo chamado ???  (????? ? ?????????) — um espaço que é uma boate à noite, mas também funciona como galeria e espaço criativo durante o dia."

OL acredita que esse tipo de lugar é importante para a cena local. "Fico muito feliz com ele; este lugar é mais ligado à música. Eles são os donos, então a gente pode fazer o que quiser sem qualquer tipo de pressão para cumprir uma agenda comercial."

Em Moscou, ele se apresenta regularmente e vai lançar em fevereiro um LP por um selo local, o Gost Zvuk.

"Eu normalmente discoteco. Para mim, uma performance ao vivo é coisa rara, mas acontece ocasionalmente. Por exemplo, em fevereiro vai ter o lançamento do meu novo disco e vou tocar este material ao vivo."

Apesar do bom momento para Oleg e seus amigos, a recente turbulência econômica na Rússia cobrou seu preço.

"É triste", lamentou Buyanov. "Moscou já era uma cidade cara e, com esta situação, o preço de tudo explodiu! Alguns dos meus amigos perderam o emprego e não é culpa deles. Sinto muito pelas pessoas que continuam trabalhando duro mas estão ganhando menos agora".

Isto foi ainda mais duro para Buyanov em uma recente viagem para visitar a sua namorada em Londres. "Converti todo o meu dinheiro para libras e percebi que perdi mais de um terço em função da rápida desvalorização do rublo. Foi péssimo."

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Essas dificuldades financeiras têm sido dureza, mas Buyanov ainda arranja tempo para ajudar os amigos com seus negócios em Moscou. "De tempos em tempos, ajudo meu amigo a desenvolver a sua pequena empresa, a DAMN Apparel", ele disse. "Participo nas vendas e no processo de produção de mercadorias como camiseta e toucas."

É evidente que Oleg anda ocupado. Mas, entre a carreira musical e a ajuda que dá aos amigos, ele ainda acha tempo para relaxar.

Ele também é graduado em psicologia e ainda acompanha o assunto, lendo e assistindo a documentários informativos. Vai ser difícil para a comunidade mundial da dance music achar um sujeito mais intrigante e adequado para representá-la.

As faixas do OL estão na novíssima compilação do Med Fury, junto com o seu EP solo. Aqui você pode comprar a compilação e o EP.

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Tradução: Fernanda Botta