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Música

O que Houve com o Zouk Bass?

Kalaf do Buraka Som Sistema se pergunta o que é preciso para uma cena musical marginal se transformar num fenômeno mundial.

Nota do Editor: Em Fevereiro de 2013, o Buraka Som Sistema levou a primeira edição do Boiler Room para sua cidade natal de Lisboa. "Nós vamos apresentar a vocês algo novo. Nós chamamos isso de zouk bass," disse Kalaf o MC do grupo como forma de apresentação e pronto, um novo gênero surgiu. Esse mês, o selo lisboeta Enchufada celebra este som hipnoticamente tropical com a compilação We Call It zouk bass Vol. 2. e um mix que a acompanha, que você pode ouvir abaixo. Agora, Kalaf se pergunta o que houve (ou o que não houve) nos anos desde o seminal show no Boiler Room. Ele faz uma pergunta importante: o que é preciso para transformar essas cenas marginais em fenônemos globais?

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A explosão global do zouk bass aconteceu há dois anos, em fevereiro de 2013, quando o primeiro Boiler Room foi transmitido de Lisboa. Por não haver melhor plataforma ou cidade para servir de ponto inicial, podemos dizer que o timing do Buraka Som Sistema não poderia ter sido melhor. Quem diria que era necessário apenas uma frase de efeito -"nós chamamos isso de zouk bass"- e uma canção intitulada "Tarraxo na Parede" para fazer o gênero explodir praticamente da noite para o dia?

Então, em 2014, o selo lisboeta Enchufada cimentou o movimento com uma compilação chamada We Call It Zouk Bass Volume I. Durante um tempo, parecia que estávamos presenciando uma revolução musical. Havia um sentimento de esperança no ar: talvez aquelas dez faixas feitas pelos novos arquitetos do zouk bass pudessem resgatar a música de pista com um apelo global das periferias às quais elas foram relegadas, voltando ao brilho inicial quando o baile funk ou o kuduro apareceram pela primeira vez.

Empolgados com essa possibilidade, apreciadores se apressaram em tomar posições, consagrar heróis e vilões, messias e impostores de um gênero que mal havia nascido mas já se tornava tão divisivo. "O que é zouk bass?" jornalistas se perguntavam, questão nascida tanto da curiosidade quanto do desejo de não ser deixado de fora do hype.

Hype, esse perfume inebriante que contamina o julgamento de todos. Hoje, existem muitos países com cenas de música de pista interessantes, da África do Sul à Venezuela. Você pode encontrar estes sons com apenas dois cliques no seu site de busca preferido. Mas a pergunta de verdade é: o que é necessário para transformar essas cenas marginais em fenômenos globais?

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Existem muitos jeitos de responder a isso. Alguns apontam questões de mobilidade e contextos socioeconômicos, sem o sistema de suporte de uma indústria de música próspera e uma economia local, é dificil para artistas se lançarem sozinhos no palco internacional. Alguns acreditam que a solução está nas mãos dos fazedores de gosto e formadores de opinião (olá, Diplo!). Outros deixam para os jornalistas, para que estejam mais conscientes e dispostos a deixar suas zonas de conforto.

Mas vamos voltar a nossa questão inicial: o que aconteceu com o zouk bass, afinal de contas? Ou se você prefere, o que não aconteceu com o zouk bass?

Observando a popularidade de estilos como zouk e kizomba, foi perplexante ver o tempo que levou para o zouk bass começar a ser ouvido de verdade dentro de baladas que já consumiam música tropical, do reggaeton à cumbia além do moombahton.

De acordo com o que pudemos observar nesses dois anos, duas coisa estavam faltando. Não havia uma ou mais faixas do gênero que pudessem conquistar o mainstream, o que não é absolutamente necessário para consolidar uma cena, mas que certamente ajuda. Segundo, não havia nenhuma cena local dinâmica o bastante para consumir as centenas de faixas com o hashtag #zoukbass que os produtores caseiros sobem para o SoundCloud diariamente.

A experiência nos mostra que para o zouk bass realmente carregar a tocha da música global, ele precisa mais que o resto do mundo esteja com ele. O gênero precisa encontrar aliados em outras cenas que compartilhem a meta comum de deixar as pistas de dança mais lentinhas. O que começou como uma exploração dos ritmos do kizomba para as pistas do século 21, agora divide DNA com a cumbia peruana, moombahton porto-riquenho e o baile funk brasileiro -Todos eles respostas tropicais à crença de "mais pesado, mais rápido, mais alto" que domina a cena atual do EDM. Em outras palavras, o zouk bass precisa ser menos um gênero musical e mais um porto seguro tropical de batidas mais lentas para fazer o corpo mexer.

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Faixas que pretendem fazer exatamente isso estão inclusas no segundo da volume coletânea We Call It Zouk Bass do selo Enchufafa - que você ouve no player aí em cima - mostrando que mesmo que o estilo não apareça mais com tanta frequência, ele segue bem vivo e vibrando, buscando seu lugar nos sets dos DJs e playlists do iTunes do mundo todo.

We Call It Zouk Bass Vol. 2 Mixtape Tracklist:

Branko - Lost Arps
Bison & Squareffekt - Voyager
Mala Noche - Pa Bô
Lechuga Zafiro - Sexo Con Ropa
DJ Paparazzi - The Dreamer
Dotorado - African Scream (Kizomba)
KKing Kong - Tarraxo da Meia Noite
Poté - Zhoukoudian
Castro - Twitch (feat. Branko & Poté)
Riot - Bounce
DJ Blass - Traga Trak
Dance Kill Move - Threepeat
JSTJR & Mala Noche - Catena
Stonn - Rompimento

We Call It Zouk Bass Vol. 2 já foi lançado agora pelo selo Enchufada

Tradução: Pedro Moreira