FYI.

This story is over 5 years old.

Identidade

Fotos que contam histórias esquecidas de assassinato e violência contra gays

Falamos com o artista Sean Coyle sobre seu trabalho registrando locais de violência homofóbica.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK.

Um bloco de banheiros públicos, um penhasco à beira mar, uma rua iluminada por um poste. As cenas capturadas por Sean Coyle não entregam imediatamente sinais de um passado barra pesada. Mas todos esses locais foram cenários de violências horríveis contra homens gays na Austrália e Nova Zelândia dos anos 70 pra cá.

Muitos desses locais tiveram suas histórias de violência apagadas ou esquecidas, mas a nova exposição de Sean com fotografias e dioramas, Cruising Wonderland, age como um memorial de locais notórios de crimes de ódio homofóbicos na região da Australasia. Falamos com Sean sobre o projeto, seu trabalho e esperanças para o futuro.

Publicidade

VICE: Você pode falar um pouco sobre a "Wonderland" que levou ao título do seu último corpo de trabalho?
Sean Coyle: Eu estava pesquisando a história de Nova Gales do Sul na Austrália, que tem uma história horrível de violência homofóbica, especialmente nos anos 70, 80 e 90. Eu estava procurando onde esses casos aconteceram, e o penhasco de Bondi era um desses locais. Vários homens foram jogados do penhasco, e os casos eram ignorados pela polícia ou tratados como suicídio. Isso aconteceu com vários homens e eles não ligaram os pontos. Era uma época particularmente difícil para a Nova Zelândia e Austrália, por causa da epidemia de AIDS e o pânico da sociedade com a doença, e isso meio que estimulou grupos de jovens a se encarregarem de realizar essa violência contra homens e tratar isso como um esporte, "surrar bichas". Então eu estava investigando esse lugar em particular, Bondi, e pesquisando a área descobri que por uns cinco anos existiu ali um parque temático colonial chamado Wonderland. Senti que essa referência histórica ao lugar era muito pungente: Wonderland.

Penhasco Bondi, Sean Coyle.

E os outros locais que aparecem nas suas fotografias, são todos marcados historicamente por atos de violência? Quais são essas histórias?
Sim. Fotografei um bloco de banheiros públicos em Hamilton, onde um homem foi esfaqueado nas costas por outro homem. O agressor já tinha esfaqueado outro homem num banheiro diferente. No tribunal ele disse que queria limpar o mundo dos homossexuais. E a outra foto é Inverlochy Place, que é uma rua de Wellington onde Jeff Whittington, de 14 anos, foi espancado e deixado para morrer alguns anos atrás, porque estava usando esmalte de unha no caminho para casa uma noite. [Whittington morreu devido aos ferimentos.]

Publicidade

É um tema sombrio e pesado para lidar. Como tem sido para você a experiência de fazer esse trabalho e se envolver com essas histórias?
O trabalho é sombrio de propósito. Não apenas tematicamente sombrio, mas sombrio na aparência — eles meio que aparecem da escuridão e acho isso muito importante para o trabalho e para pensar nele. Para mim, iluminação significa clareza, e como não sei exatamente as razões por trás dessas coisas, a escuridão é um aspecto muito importante da obra. Destacar essa história sombria para mim, em particular a história queer sombria da Australasia, é importante. Eles se tornam memoriais e é importante nos lembrar. Lembrar nossas histórias e seguir em frente.

Imagino que esses locais não sejam marcados de nenhuma outra maneira formal, como o penhasco em Bondi e assim por diante, esse foi o seu jeito de fazer isso?
Sim. O mais difícil era encontrar maneiras de marcá-los sem sensacionalismo. O trabalho é sombrio e reflexivo em conteúdo e superfícies materiais também. A maioria dos trabalhos são impressos em metal, com uma superfície incrivelmente reflexiva: quando vê o trabalho, você também está olhando para seu reflexo nele. A natureza sombria e reflexiva do conteúdo permite a nós pensar e lembrar.

Você está expondo a série como parte do Pride Festival. Você tem alguma esperança particular para como as pessoas reajam a ela? Ou o que podem tirar dela?
Espero que as pessoas vejam além das imagens e se conscientizem da história e do lugar de onde ela vem. Na escrita que cerca os trabalhos, espero ter deixado isso claro. É uma oportunidade de refletir sobre a história sombria a que as pessoas queers na Nova Zelândia e Austrália estavam sujeitas, e continuam sujeitas ao redor do mundo, então mesmo sendo um trabalho pesado, espero que as pessoas saiam com uma sensação de esperança também, de que estamos avançando. Os trabalhos na exposição falam sobre esperança, não desespero.

A entrevista foi editada para maior clareza.

Cruising Wonderland fica em exposição até 2 de abril no TSB Wallace Arts Centre em Auckland, como parte do Pride Festival .

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.