Um Cara Está Emputecendo seus Vizinhos no Interior da Inglaterra com seus Encontros de Fetiche ao Ar Livre

Um grupo de fetiche baseado na tradição britânica conhecido como Tawsingham Society foi notícia na semana passada por enraivecer seus vizinhos. "Estamos nas férias escolares e queremos tirar nossos filhos da frente do computador para aproveitar a natureza", disse um morador de Bancyffordd, País de Gales. "Por favor, não permita que estranhos tragam seus hábitos nojentos para cá e tentem nossos jovens."

Mas, longe de Bancyffordd, as reações foram menos negativas. Muitos pediram o contato dos organizadores em comentários online: assim, o incidente rendeu mais 50 seguidores para o perfil da Tawsingham Society no Facebook.

O líder da sociedade é Guy Masterleigh, que vem comandando a diversão no País de Gales há seis anos. O lema do grupo é "Traga a fantasia para a realidade", e os encontros são abertos para maiores de 18 anos. Por apenas £ 10 (R$ 55) por dia, os convidados podem se juntar a Guy e seu grupo de "pôneis, filhotes e porquinhos" numa propriedade particular na zona rural do País de Gales. Apesar de remotos, os eventos atraem dezenas de entusiastas, enquanto o perfil da Tawsingham, tanto no Facebook como no FetLife, é relativamente popular na cena.

Falei com Guy sobre os eventos realizados pela Tawsingham, a temática de herança britânica do grupo e o ultraje que eles vêm atraindo recentemente.

VICE: Oi, Guy. Por que você começou a organizar esses eventos de fetiche?
Guy Masterleigh: Porque é mais divertido fazer isso com amigos do que sozinho!

Justo. E o cenário rural? O que isso oferece?
Espaço, privacidade, uma chance de ver as estrelas e sentir a grama sob seus pés. Isso também significa que podemos acampar, o que é muito mais barato do que ficar num hotel.

A Tawsingham combina tradição britânica com fetiche extremo – essa é uma combinação comum?
É algo único, acho – apesar de haver alguns paralelos em outros lugares. O mais próximo talvez seja o Other World Kingdom, que existia na República Checa há alguns anos; no entanto, isso era binário, de femdom e muito caro. O apelo aqui é que podemos escapar para um novo papel, seja numa classe social acima ou abaixo, adotar outro gênero ou outro papel por um tempo.

Uma forma de escapismo baseada em culpa de classe e unicamente britânica?
Sim. Uma chance de escapar das responsabilidades, tarefas e inibições da nossa vida mundana.

Entendi. Você pode explicar o aspecto da interpretação de papéis de animais?
"Férias da humanidade." As razões variam, raramente são as mesmas. Mas há dicas no tipo de animal que a pessoa escolhe ser: "pôneis" geralmente adoram servir, estar sob controle, ser cuidados, exibidos; "filhotes" querem a liberdade de agradar seus mestres, nus e sem vergonha; e "porcos" só querem "ser".

Onde você encontra os convidados?
Através de redes sociais de fetiche: listas do Yahoo, FetLife e no meu próprio site; alguns eu conheço há anos, décadas. Os grupos são pequenos, dez a 20 pessoas normalmente, a maioria participantes regulares.

Você acha que o grupo vai expandir? Qual seria um bom número de participantes para o evento?
Isso varia de acordo com o local, o formato do evento, o preço, o clima, etc. Há eventos de uma tarde com pôneis que contam com 50 ou mais pessoas, porém gosto de manter as coisas íntimas e fazer uma semana ou final de semana inteiro de evento. Assim, podemos nos conhecer melhor. Você pode escolher seu status social, seu nível de liberdade, seu gênero, até sua espécie. E aí viver essa vida por um tempo.

Ouvi dizer que você acha Larissa Lewis, que foi citada como uma moradora ultrajada no Wales Online, uma "sabotadora". Por quê?
Porque houve uma longa história de antipatia de descontentes ligados ao site, tanto contra mim como contra o proprietário. Publicar essa história é inteiramente consistente com o modus operandi deles. Eles vão usar quaisquer meios para chegar até nós. Haters gonna hate. Não estamos fazendo nada imoral. Não quero entrar em detalhes, já que isso seria difamatório.

OK. Vândalos atacaram o local recentemente, certo? Eles incendiaram coisas?
Sim. Se o vandalismo não tivesse acontecido, o evento citado no Wales Online pareceria muito diferente. Tínhamos um trailer lá que funcionava como minha base; galpões de ferramentas; uma garagem para nossos veículos; um celeiro para os materiais; um celeiro que funcionava como estábulo, canil e chiqueiro para as criaturas humanas; mais chuveiros e banheiros apropriados – uma ótima instalação.

Quais foram as motivações do vandalismo na sua opinião? Você disse que foi um "gang bang de drogados"?
Sim, houve uma festa de gang bang. Imagino que os motivos dos organizadores foram lucro e/ou malícia. Havia garrafas de cerveja, vinho e cidra por todo lado, agulhas no chão, acessórios de fumar crack numa mesa…. não sei dizer se o incêndio foi premeditado ou acidental; então, não vou especular.

Você acha que a marca da Tawsingham atrai interesse especial?
A maioria da cena de fetiche não entende o apelo, o conceito deles é algo que acontece num clube numa noite – eles veem isso como desnecessariamente complicado. Entrei na cena quase 30 anos atrás, antes da internet. Isso era organizado principalmente através de revistas. O único clube disso ficava em Londres, o Der Putsch. Nos anos 90, o movimento cresceu lentamente, e a maioria se conhecia diretamente ou através de amigos.

Aí surgiu a internet e inundou a cena com gente nova. No começo, dividíamos um clube com góticos, gays, lésbicas, crossdressers, swingers, etc. para haver pessoas suficientes para tornar isso viável. Depois, a cena se fragmentou porque os novatos geralmente não "sacavam" a necessidade de aceitação e tolerância.

O que seus filhos acham desse fetiche? Eles sabem o que você faz?
Eles ficaram sabendo quando eram bem novos, graças a um chantagista. Aí nossos eventos apareceram num tabloide, [algo] muito parecido com essa história agora. Hoje, eles são adultos e nunca tiveram problema com isso porque viram por si próprios que isso acontece entre adultos educados, respeitosos e que deram seu consentimento para estarem ali.

Obrigada, Guy.

@becky_lamming

Tradução: Marina Schnoor