'Das Raízes às Pontas': Um Filme Sobre Identidade Negra e Cabelo Crespo
Foto: Janine Moraes

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'Das Raízes às Pontas': Um Filme Sobre Identidade Negra e Cabelo Crespo

O curta-metragem traz à tona a realidade de negras e negros pelo mundo partindo de um detalhe: suas relações com o cabelo.

"Por que eu falo que sou morena se não sou morena? Eu sou negra." A indagação, presente no documentário Das Raízes Às Pontas, lançado na última terça-feira (17) no Cine Brasília (DF), traz à tona a realidade de negras e negros pelo mundo partindo de um detalhe: suas relações com o cabelo.

Foi a roteirista Débora Tatiana, negra e professora da rede pública no Distrito Federal, quem surgiu com a ideia do curta-metragem. "A Débora dá aula pra crianças de cinco e seis anos e percebeu o impacto negativo que existia no fato de elas não conhecerem sua história. Uma história que vai além da escravidão", explica a diretora Flora Egécia. A roteirista notava a baixa autoestima e a vergonha que os pequenos possuíam do próprio cabelo – inclusive contando com a participação de algumas mães, que costumam alisar os cabelos de suas filhas ainda muito novas.

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A partir das dinâmicas propostas em sala de aula, uma evolução eclodia na vida dessas crianças. Foi assim que surgiu a ideia para realizar o filme, concebido pelo Estúdio Cajuína e produzido em parceria com a Leni Audiovisual. "A construção do ser humano é muito marcada pelo que ele aprende nessa primeira fase da vida", justifica a diretora.

Foto: Janine Moraes

Aos 12 anos de idade, Luiza é a personagem central da produção brasiliense. Com orgulho, fala de seu cabelo cacheado e de como tem construído a própria identidade. Porém, entre tantas crianças negras, Luiza é uma exceção. "É uma menina que teve uma educação muito afirmativa", destaca a diretora. "Ela é nosso modelo positivo da diferença que faz quando uma criança negra aprende a se valorizar desde pequena."


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Para completar o time de entrevistados, Das Raízes às Pontas traz também Melina Marques, neta da lendária militante negra e feminista Lélia Gonzalez. Casada com um homem branco, a antropóloga tentava se inserir no contexto das damas da alta sociedade brasileira – em sua maioria, brancas. Depois de entrar em contato com os movimentos negro e feminista, percebeu que estava indo por um caminho que jamais a poderia satisfazer. "Isso mudou o estilo de vida dela", relata Flora. "Antes, ela usava o cabelo alisado. Depois, passou a usar o cabelo de forma diferente." No filme, a neta Melina fala sobre a importância da educação afirmativa que recebeu e como isso a fez ver o mundo de outra maneira.

Foto: Janine Moraes

A atriz global Sheron Menezes também está entre os entrevistados. Para Flora, assim como para toda a equipe do filme, é importante que a produção atinja todo tipo de público. "Ela é negra, usa o cabelo natural e está na novela das oito da Globo. Além disso, sua família tem um projeto voltado pra educação, pra aplicação da Lei 10.639/03." A diretora se refere à lei que torna obrigatório o ensino da história africana e afro-brasileira tanto em escolas particulares como nas públicas pelo Brasil. "O filme também discute como seria se a lei fosse devidamente aplicada nas redes de ensino", finaliza.

_Para saber mais informações e os horários das exibições do filme Das Raízes às Pontas, visite o site e a página oficial no Facebook._

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