Q&A: MIROSLAVA DUMA

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Sustainability Week

Q&A: MIROSLAVA DUMA

A ex-editora de moda da Harper's Bazaar russa, Miroslava Duma​, é co-fundadora do Buro247.com, TheTot.come do fundo de caridade Peace Planet. A empreendedora conversou conosco sobre o impacto ambiental da moda e o futuro.

A ex-editora de moda da Harper's Bazaar russa, Miroslava Duma, é co-fundadora do Buro247.com, TheTot.come do fundo de caridade Peace Planet. A empreendedora conversou conosco sobre o impacto ambiental da moda e o futuro.

Por que você acha que a moda deve se preocupar com a sustentabilidade?
A moda é a segunda maior poluidora do mundo, perdendo apenas para o petróleo. A produção de roupas aumentou mais de 400% nos últimos 20 anos sem qualquer sinal de que vai parar. Considere que são necessários 7 mil litros de água para se confeccionar uma calça jeans e até 3.500 produtos químicos são usados para transformar matérias-primas em produtos têxteis. 10% dessas substâncias químicas são danosas para os seres humanos e para o meio ambiente. Os produtos são despejados em nossas hidrovias e mais da metade de todas as roupas produzidas acabam indo parar em aterros e levam décadas para se decompor. Não é sustentável continuar com a mesma forma de produção de roupas, os recursos do nosso planeta não são infinitos.

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Na sua opinião, como a indústria da moda pode se tornar mais sustentável?Ela precisa se concentrar em toda a cadeia de produção.

- 75% do impacto ambiental de uma peça de roupa vem das escolhas que o estilista ou designer faz. Precisamos aumentar nossa dependência de tecidos mais sustentáveis – produzidos de forma orgânica, sustentável ou com materiais reciclados.

- Obrigar as empresas que escolhemos a serem aquiescentes e responsáveis – pedir para que divulguem informações sobre suas emissões e ter certeza de que os produtos químicos que usam são aprovados por organizações como a Cradle to Cradle. O processo deve ser feito com o mínimo possível de produtos químicos tóxicos.

- Pensar em opções de transporte. O transporte aéreo tem um impacto 10 vezes maior sobre o meio ambiente; utilizar redes ferroviárias ou marítimas.

- A lavagem a seco deve se tornar orientação padrão nas etiquetas. Necessidade de aumentar a promoção de lavagem à mão sempre que possível. Se a sustentabilidade fosse definida como um indicador chave de desempenho para todos os tomadores de decisões da indústria, começaríamos a ver mudanças mais rápidas.

Você acredita que nossas ações como consumidores – consumindo menos, pressionando por mudanças positivas – podem levar a uma transformação de mão dupla na indústria também?
Com certeza! O poder das pessoas, unido em um objetivo de fazer uma moda bonita e mais sustentável, já está tendo um impacto imenso. Veja a campanha "Detox My Fashion" do Greenpeace. Depois de quatro anos, 18 empresas que representam 10% da indústria global no varejo, incluindo Valentino, Burberry e H&M, começaram a eliminar produtos químicos na cadeia produtiva. Isso tem um efeito de onda em toda a cadeia global. O escrutínio público impulsiona grandes marcas a pressionarem essas mesmas fábricas poluidoras a se tornarem responsáveis e divulgarem suas informações. Uma vez públicas, elas se abrem para agir contra qualquer um que não esteja fazendo a coisa certa.

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Você acredita que os pequenos negócios podem trazer novas abordagens para a sustentabilidade? Como eles estão mudando o cenário?
Acredito muito. Na verdade, são eles que guiam o caminho. Eles estão na posição privilegiada de conseguir liderar tendo metas de sustentabilidade como parte de sua cultura e de toda sua existência. Não precisam mudar a forma como trabalham, mudar as metas de lucro de curto prazo ou ter a aprovação dos investidores. São ágeis e podem inovar rápido, sem serem atrasados por processos internos defasados ou excesso de burocracia. Eles não têm o orçamento publicitário de grandes corporações, mas com as mídias sociais, petições e campanhas online, sua voz está sendo ouvida e grandes empresas estão tendo que correr atrás.

As pequenas empresas estão mudando a forma como as roupas são feitas, fazendo com que durem mais e produzindo menos. O foco delas é em coleções que podem ser usadas o ano todo, utilizando fibras recicladas e menos algodão, que tem muitos impactos ambientais. Elas estão fazendo roupas perto de suas lojas, reduzindo os impactos do transporte na poluição. No entanto, precisamos de uma abordagem unida da indústria para mudar a mentalidade atual de rápido, prático e barato.

De que tipo de mudança você espera fazer parte na sua vida e no trabalho na indústria da moda?
Ser um catalisador de mudanças. De uma forma singela, espero poder oferecer uma voz para as empresas que estão promovendo métodos sustentáveis através da nossa plataforma de mídia Buro 247. Trabalhando com as marcas líderes no setor de luxo, continuamos a promover esse debate e a entender o que estão fazendo para estimular uma mudança positiva. Ao dar a elas uma plataforma para discutir uma mudança sustentável com clientes, elas se tornam mais responsáveis para que façam melhorias de longo prazo, e não campanhas de curto prazo que funcionam só como marketing "ecológico" para riscar um item da lista para os clientes bem-informados.

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Além disso, uso meu fundo de investimento para contribuir financeiramente com empresas que tem a sustentabilidade no DNA.

Um exemplo de que tenho muito orgulho é uma empresa chamada Reformation, cujo mantra é arrasar nas roupas sem arrasar o meio ambiente. Eles criaram a primeira fábrica sustentável dos Estados Unidos, em Los Angeles. A arma secreta da marca está no fornecimento. Eles fazem roupas com materiais supersustentáveis, como Tencel, tecidos resgatados de estoques obsoletos, e roupas vintage revisitadas. Eles produzem nas próprias fábricas em Los Angeles, garantindo qualidade, sustentabilidade e ética, além de reduzir as emissões do transporte decorrentes da produção em outros países.

Sob o mesmo teto, desenham, produzem, fotografam e executam pedidos. A fábrica utiliza as tecnologias mais ambientalmente corretas que a marca encontrou; investe em infraestrutura verde para o prédio para minimizar a pegada ecológica da produção de resíduos e do consumo de energia.

A energia deles vem de fontes renováveis, e tem um jardim sustentável que é abastecido pela água residual da fábrica.

Tudo, até mesmo os produtos de limpeza ou o café, deve atender aos padrões ambientais de compras da empresa.

No ano passado, a Reformation economizou quase 950 milhões de litros de água! E no ano que vem, eles preveem que o número passará de 3,5 bilhões de litros. Eles também têm uma série de ferramentas e painéis de consumo que permitem ver o impacto que a empresa tem sobre o meio ambiente ao fazer compras sustentáveis.

Recentemente, também ajudei a fundar a Tot, plataforma de comércio eletrônico para bebês, mamães e futuras mamães. Estamos comprometidos com a compra e venda de produtos sustentáveis, duradouros e ambientalmente corretos. Testamos tudo em nossos filhos antes de colocar à venda. Sempre que possível, os produtos são livres de toxinas, de produtos químicos prejudiciais, respeitando os animais, com sustentabilidade e produção consciente. Ainda é possível fazer produtos bonitos que não prejudicam o meio ambiente e o seu corpo.