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Entretenimento

Por dentro do mundo triste do namoro online para racistas

Nacionalistas brancos dizem que é difícil encontrar mulheres para relacionamentos sérios.
skinhead love

A coisa não está sendo fácil pros racistas.

Mesmo que odiar pessoas que não parecem com você sempre tenha existido, 2016 parece ter sido o ano do retorno triunfal do racismo. A eleição de Trump, a ascensão da "direita alternativa", notícias falsas e perfis abertamente intolerantes encorajaram as piores pessoas da nossa sociedade a mais uma vez terem orgulho de suas visões escrotas.

Tipo o que Pulp Fiction fez por John Travolta no começo dos anos 90, 2016 içou o nacionalismo branco de volta para nossa psique coletiva, obrigando a sociedade a – também como Travolta – encarar seus olhos loucos e vazios.

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Felizmente, o movimento parece, pelo menos por enquanto, estar contido principalmente em ovinhos no Twitter e postagens em fóruns anônimos de gente que raramente se encontra. Mas a verdade é que por trás de cada conta guinchando "cuck", "SIONISTA" e "refujihad!!!" existe uma pessoa real (quase sempre um cara) fisicamente digitando esses xingamentos. Pensar no lado humano desse ódio virtual é assustador, né? E levanta várias questões. Principalmente, como é a vida dessas pessoas? É divertida? É normal? Alguém consegue aguentar esses caras no mundo real num sentido romântico? Todos eles, como eu imagino, respiram muito alto pela boca?

Para responder a pelo menos uma dessas perguntas eu, como qualquer pessoa sã do mundo, decidi ver se a popularidade passageira da direita alternativa online se traduzia em sucesso no amor para seus seguidores. Então fui até a fonte e falei com uma pessoa, que se descreve como nacionalista branca e membro da direita alternativa, que começou um site de namoro para que seus camaradas encontrem o amor.

"Nossa sociedade, o sistema educacional e a mídia criaram uma ideologia antibranca entre as pessoas. As pessoas que querem estar com seu próprio tipo, isso é visto como algo negativo", disse o homem que pediu para ser chamado de Stonewall a VICE.

"Então quando você encontra alguém e começa a expressar algumas dessas ideias, sabe, ela pode achar que você é racista e uma pessoa horrível, e pode terminar com você porque você está expressando essas ideias.

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Então como diabos os racistas dos EUA paqueram? Bom, para muitos deles, encontrar alguém online é o canal.

Muitos deles usam sites como Plenty of Fish, Ok Cupid e assim por diante, declarando no perfil que "Se você não é branca, nem mande mensagem", mas para muitos isso não é suficiente. É aí que sites como WASP Love, Where White People Meet e Stormfront (um infame fórum neonazi) entram – sites que, querendo ou não, atendem racistas que querem encontrar o amor.

Comecei essa jornada bizarra com uma simples busca no Google por "namoro alt-right". Ela me levou ao WASP Love, que se vende como um site de namoro para cristãos tradicionais, nacionalistas brancos, quiverfulls, confederados, nacionalistas do sul dos EUA e a direita alternativa.

"Os patriarcas do Velho Testamento sempre alertaram sobre casar com esposas estranhas porque isso levava a idolatria", diz uma postagem de Stonewall, o fundador. "Devemos obedecer a sabedoria dos nossos pais casando apenas dentro da nossa própria raça."

A página de Stonewall no WASP Love. (Para quem notou, sim eu criei uma conta baseada no 10º primeiro-ministro do Canadá.) Foto via screenshot.

Stonewall, um cristão carola do Alabama, disse a VICE que criou o site no começo de 2016 e que ele já tem cerca de 300 membros ativos. Ele diz que esse não é um conceito novo e que sites de namoro para supremacistas brancos já apareceram antes, mas logo perderam o fôlego.

Stonewall explicou que suas visões nunca resultaram no final de um relacionamento, mas que ele conhece várias pessoas que passaram por isso, e conhece muitos nacionalistas brancos que têm dificuldades para encontrar mulheres. Mas ele acrescentou que o mercado para um site de namoro online para supremacistas brancos e neonazistas está maduro.

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"Vendo o ranqueamento do Daily Stormer [um site neonazi] no Alexa, eles são o site número 5 mil nos EUA, o que é enorme", ele disse. "Há um mercado para essas visões, a direita alternativa está estourando agora e acho que isso só vai crescer."

Stonewall disse que está feliz com o crescimento que seu site vem mostrando em sua breve existência, mas tem um pequeno problema.

"O que temos que fazer é aumentar o número de mulheres no site", disse Stonewall. "Claro, como você deve imaginar, a direita alternativa é formada predominantemente por homens, mas tem muitas mulheres por aí e vamos alcançá-las."

O site permite que os usuários entrem em contato uns com os outros, se juntem a grupos e compartilhem atualizações, basicamente como uma versão simplificada do Facebook.

Um bate-papo entre o 10º primeiro-ministro do Canadá e um usuário do WASP Love.

Stonewall disse que está fazendo networking com vários sites, páginas no Facebook e fóruns de nacionalismo branco e da direita alternativa. Por um tempo ele fez propaganda no Twitter, mas sua conta foi derrubada por violar a política de discurso de ódio.

Ele disse que enfrentou reações negativas em vários sites neonazi, incluindo o Stormfront, onde os membros reclamaram que anunciar o WASP Love como um site de namoro racista para cristãos era uma discriminação contra os ateus e pagãos do grupo – sim, incrível.

"Um grande problema que tenho com o nacionalismo branco é que muita gente se foca em paganismo", ele disse. "Você posta uma coisa assim em alguns fóruns e tem gente que diz que você só precisa encontrar uma garota e dar a pílula vermelha para ela."

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A questão da pílula vermelha não existe somente no namoro online ou apenas na comunidade neonazista. Com vários nomes, você encontra o processo em todo tipo de site escroto.

A pílula vermelha (também chamada de "despertar") tira o nome da famosa cena do filme Matrix onde Neo tem que escolher entre uma pílula vermelha e uma azul, mas o processo é mais antigo que isso. É uma forma old school de lavagem cerebral onde você isola a vítima (sua parceira romântica no caso) de visões opostas e, usando literatura que combina com sua ideologia, a convence a adotar suas crenças. Segundo Stonewall, esse é um método muito usado no mundo dos namoros neonazi.

O que me levou ao Stormfront, a base online dos fascistas, que tem a honra duvidosa de ser chamado de "o maior site de ódio racial da internet" pela Wikipédia. Fundado em 1996 por um ex-líder da KKK para pregar o movimento de orgulho branco, o site tem milhões de acesso por mês e está vendo um pico de popularidade com a eleição de Trump. Os acessos supostamente teriam aumentado para um milhão entre 15 de setembro e 30 de novembro. E nas entranhas desse site você encontra uma seção estranha, mas hilária, para "solteiros brancos". Essa parte é composta principalmente de supremacistas brancos postando respostas para perguntas colocadas pelo site numa tentativa desesperada de encontrar sua alma gêmea racista.

Veja essa postagem de um usuário chamado Boeck. Ele se descreve como um cara bombado de 25 anos, que planeja se casar e "ter muitos filhos". Boeck se interessa por "cultura alemã, nacional-socialismo, Hitler, golfe, química, genealogia" e quer uma mulher de "1 a 7 anos mais nova que eu… 100% branca MAS com menos sangue alemão que eu… atlética, racista, nazista, respeitadora e que me ache o melhor homem da Terra".

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Outro usuário chamado Joshua83 escreveu uma postagem de quase 600 palavras, dizendo que queria "casar e ter lindas crianças arianas" e que gosta de "racionalismo, história… preservação e defesa da Raça Branca, e os valores da família tradicional". Em "um fato interessante sobre você" Josh admite que é um virgem casto.

Quatrocentas palavras da postagem épica de Josh são os atributos que ele quer numa mulher, incluindo ser "virgem, preferencialmente escocesa ou alemã mas desde que seja 100% branca, que é o mais importante", e "limpa, honesta, fiel (tanto a nossa raça, a mim e aos nossos filhos)".

Finalmente, abrangendo os três maiores, temos o Where White People Meet, que se descreve como um site "não racista" para pessoas brancas, como o nome diz, encontrarem outras pessoas brancas. Paradoxalmente, o fundador do site afirma que qualquer pessoa pode se juntar e que raça não importa. Estranho.

O site é frequentemente mencionado no Stormfront, onde foi abraçado inicialmente, mas logo rechaçado por razões que vou mencionar daqui a pouco. O fundador disse que teve a ideia depois de ver sites como o JDate e BlackPeopleMeet.com. A URL é gerenciado por um casal de Utah e o filho deles monitora o site para manter os diálogos limpos e o menos racistas possível.

"É uma questão de oportunidades iguais", disse o fundador do site Sam Russell ao Washington Post. "Racista é a última coisa que sou no mundo. Namorei uma mulher negra uma vez. Ajudei a criar um jovem negro… Só acho hipócrita dizer que um grupo pode fazer isso e outro não."

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Mesmo que isso talvez não fosse o objetivo deles, o Where White People Meet é frequentemente recomendado em fóruns racistas, mas ironicamente muitos dizem que minorias demais entraram no site.

"O site já está enchendo de hispânicos, indianos querendo o green card, e aquela pessoa negra que sempre aparece para estragar a festa", um usuário do Stormfront disse logo depois do lançamento do WWPM.

Agora, não é porque esses sites existem que eles realmente funcionam. Como Stonewall aludiu, o principal problema do cupido racista é que as comunidades da direita alternativa e de nacionalismo branco são formadas principalmente por homens. Há algumas mulheres, mas são poucas e difíceis de encontrar.

Resumindo, esses sites são uma grande festa da salsicha skinhead.

Uma das áreas mais ativas do Stormfront é o fórum de conselhos amorosos que, pasmem, está cheio de homens tentando encontrar uma moça branca decente. Alguns estão tão decepcionados com a situação que ameaçam deixar de ser racistas (o horror!) ou aderir ao celibato.

"Sou um homem bonito, inteligente, trabalhador e tenho dinheiro, o problema é que não consigo achar uma mulher branca decente", escreveu um usuário solitário. "Não vou aceitar nada menos que isso.

"Prefiro morrer sozinho a aceitar menos."

Bom, esperamos que sim, cara. Então mesmo que os racistas estejam desfrutando de um retorno agora, pelo menos podemos nos consolar com o fato de que eles não estão transando.

Não é grandes coisas, mas, pô, em 2016 a gente aceita o que vier.

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Tradução: Marina Schnoor

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