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Entretenimento

Porque é que os millennials estão a largar as redes sociais?

Depois de 10 anos de socialização esmagadora das nossas vidas, há uma geração que está a pouco e pouco a fugir do universo digital.
Fotografia de Harry Carr

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataformai-D.

Como muitas outras pessoas, Lena Dunham abandonou o seu perfil do Twitter. Há tempos, a feminista mais polémica da televisão disse à apresentadora do programa americanoRe/code Decode,Kara Swisher, que tinha deixado esta rede social porque estava a afectá-la de forma "cancerígena". Por outras palavras, estava farta de lidar com ostrollsda Internet.

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Dunham esclareceu que continuaria a escrever tweets, mas as interacções seriam geridas pela sua equipa. À medida que cada vez mais famosos confiam aos seus assistentes a responsabilidade desses 140 caracteres (e das fotografias de Instagram, ou dos concisos posts de Facebook), muitos jovens, em todo o Mundo, estão a começar a apagar os seus perfis nas redes sociais.

Mas porque é que depois de 10 anos de uma socialização esmagadora das nossas vidas, os millennials estão a fugir do universo digital? É importante assinalar que algumas pessoas desenvolvem dependências doentias com as redes sociais, enquanto que outras podem desfrutar delas de forma recreativa e sem consequências.

Talvez esta relação de amor-ódio que muitos geraram com estas plataformas instantâneas de comunicação não tenha a ver com a tecnologia em si, mas sim com a maneira como muitos abusam delas. À medida que as nossas vidas florescem nas redes sociais, também cresce o assédio doentio, o compromisso, o medo de ser excluído e os ataques de ciúmes.

Pensemos, por exemplo, em Ali Segel - conhecida como Online Alison - uma escritora de 29 anos que deixou o Facebook, mas que, pouco tempo depois, voltou a criar um perfil. "Apaguei-o quando me transformei numa stalker, mas acabei por reactivá-lo", admite. O que é que a mantinha tão viciada?

Para muitos pode ser uma ferramenta muito útil para se autopromoverem profissionalmente.. "Em termos profissionais senti que devia manter-me conectada. Conheci o meu agente porque o meu estado de Facebook lhe chamou a atenção. Mas também sou consciente de que tenho uma dependência. Quando me acontece qualquer coisa vou logo ao Facebook, ao Instagram, ou ao Twitter para publicar uma imagem, ou um estado. Tento interagir com estranhos em vez de sentir o que é suposto sentir. É uma maneira maravilhosa de não estar presente, de alimentar o meu ego, de sabotar-me a mim mesma e de ser masoquista", confessa Segel.

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No Reddit, os jovens partilham as suas experiências sobre renunciar às redes sociais num fórum chamado People who deleted their social media accounts, how did that work out for you?. Uma utilizadora escreve: "É agradável não ter que navegar por entre uma tonelada de parvoíces, notícias sensacionalistas, publicidade descarada de ambos os lados do espectro político/religioso, ou tentar manter uma conversa inteligente com outras pessoas, apenas para que te dêem razão, como se faz aos malucos. Isso, ou que comentem um estado teu com um meme condescendente do Willy Wonka, em vez de agirem como adultos e apoiarem a tua postura".

Outro utilizador, que mantém a sua conta de Facebook como uma maneira de gerir eventos - mas que tenta não passar daí - acrescenta: "Regra geral, sou muito mais feliz quando não estou a navegar pelas páginas dos meus amigos, ou a ler as suas últimas mensagens no meu mural".

Este utilizador em particular fala sobre a cultura dos ciúmes e da inveja gerada por estes sites: "O que começou como uma maneira de as pessoas se manterem em contacto, transformou-se, pouco a pouco, numa 'montra' das nossas vidas, aparentemente perfeitas. As páginas costumam estar cheias de anéis de noivado, bebés recém-nascidos, viagens exóticas, saídas nocturnas e maratonas. Depois, sem pensar, começas a comparar a tua vida com as dos outros e começas a perguntar-te onde é que erraste, enquanto os outros vivem os seus sonhos. O Facebook transformou-se num antro inesperado de desespero e ódio contra ti próprio. E quanto mais lá te metes, mais difícil é sair".

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Não é nenhuma novidade que as redes sociais - especialmente o Instagram - permitem às pessoas apresentarem-se ao Mundo numa versão melhorada e idealizada por elas próprias. Uma vida que se mantém num estado perpétuo de vie en rose, fora da desordem e do mundano.

Mesmo os momentos "honestos" são artificiais, como essas pessoas perfeitas que posam com frascos de creme para o acne, com legendas ridículas. No ano passado, uma mulher chegou a uma excursão de cinco semanas no Sudeste asiático, com a ideia de fazer uma experiência onde expunha a capacidade que as redes sociais têm de manipular a realidade.

Quando Jaden Smith apagou o seu perfil de Twitter, em Maio de 2015, toda a gente se escandalizou. A sua decisão repentina inspirou inúmeros artigos de opinião sobre um mundo sem "tweets", mas há pouco tempo voltou a reactivar a sua conta. Segue apenas cinco pessoas.

Porque é que tanta gente está a abandonar as redes sociais? Para a geração Z, uma razão importante é o desejo de privacidade. De acordo com o The New York Times, os protagonistas das novas gerações são mais conscientes da sua pegada digital e não querem ser fotografados em situações comprometedoras sem o seu conhecimento ou autorização.

Fotografia de Tyrone Lebon. Céline Resort 2015

A criadora de Céline, Phoebe Philo, assegura: "O melhor é não existir no Google. Adorava ser esse tipo de pessoa!". Era de esperar. A satisfação e emoção associadas às redes sociais desvaneceram-se substancialmente, porque existem demasiadas vozes e imagens que competem pela nossa atenção, levando a que milhares de jovens falem uns sobre os outros e digam, ao mesmo tempo, tudo e nada.

Muitos de nós ainda passeamos pelos nossos murais em piloto automático, mas regra geral abandonamos as redes sociais para "arrumar a casa" e arejar as ideias. Procuramos ligações significativas e autênticas e rejeitamos as opiniões dos outros em prol da dos especialistas. Acabou-se a era do: "Se não está na Internet é porque não aconteceu".