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Relato

É assim que uma prostituta vive o sexo com os seus clientes

"Para mim é igual a forma do corpo, a firmeza da pele, a quantidade de cabelo ou o tamanho do pénis. A conexão entre duas pessoas é determinada pelo carácter e pela atracção sexual".
Natalia trabalha na indústria do sexo
Todas as fotos pela autora.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Esta tarde estive com dois clientes. Nunca os tinha visto na minha vida. Nos primeiros meses teria ficado preocupada por não saber quem iria encontrar ao abrir a porta, mas há já algum tempo que essa incerteza é uma das partes excitantes inerentes ao meu trabalho.

Quando és prostituta tornas-te uma especialista em descobrir como são as pessoas pela maneira como falam ao telefone. A forma de se expressarem e aquilo que dizem é suficiente para teres uma imagem bastante clara de quem está do outro lado e o que procura. Depois de alguns minutos de conversa com D, sei que tem pouca (ou nenhuma) experiência com prostitutas, sente-se só e quando eu chegar vai estar visivelmente nervoso. Ele diz que viu o meu anúncio há uns meses, mas que lhe custou telefonar. "não sou o típico putanheiro", diz. Pergunto-me quem o é. Que a prostituição movimente tanto dinheiro é um indicador claro de que os putanheiros são os nossos primos, pais, avós, irmãos, amigos, colegas de trabalho, ou ex-sócios e parceiros actuais. Qualquer um deles. Todos eles.

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À uma da tarde, D telefona-me para avisar de que está à frente da minha casa. Estou relaxada e animada. Ganhei o hábito de masturbar-me alguns minutos antes de cada encontro. As hormonas libertadas pelos orgasmos fazem maravilhas e depois de ter o primeiro, o meu corpo pede sempre mais. Pela sua voz tinha quase a certeza de que seria um miúdo. Mas D tem o dobro da minha idade. Obviamente nervoso, olha para mim com um sorriso tímido e espera que dê os primeiros passos.

Simpatizo com ele desde o início. É fácil fazê-lo quando um estranho se mostra vulnerável e confia em ti a este nível. Depois dos cumprimentos vamos para o meu quarto. Enquanto tira o casaco paga-me o que estava acordado e senta-se na cama. Pergunto-lhe várias coisas. As pessoas gostam de falar sobre elas próprias. A cada resposta vou-lhe fazendo carícias. Custa-lhe estabelecer contacto visual. Noto que tem as mãos suadas e o ritmo cardíaco cada vez mais acelerado. Ameaço várias vezes que o vou beijar. Adoro provocar. Normalmente, após dez minutos de amassos, as inseguranças começam a desvanecer e a agitação que têm no corpo advém de me quererem comer. Digo-lhe que está na hora de passar pelo chuveiro. Pouco depois regressa ao meu quarto, somente com uma toalha à volta da cintura.

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É muito delicado e suave. Passamos a maior parte do tempo a tocar-nos. A maior parte das vezes, os homens com mais de 40 anos, preferem desfrutar de um sexo mais tranquilo e a penetração não é o principal, é apenas uma parte do jogo. Depois de me despir dedica-se a percorrer com as mãos e com a boca todos os cantos do meu corpo até se deitar de costas para que eu faça com ele o que me apetecer.

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Gosto da facilidade com que se entregam para desfrutarem da minha presença. Quando um cliente e uma prostituta se comem, não há tempo para parvoíces. Pede-me várias vezes para que me mexa mais lentamente, porque ainda não se quer vir. No momento em que está dentro de mim posso ver como se esquece de tudo. D está completamente desinibido. Às vezes gostava de poder gravar as expressões faciais dos meus clientes quando estão a ter um orgasmo para as poder comparar com as dos outros parceiros sexuais da minha vida. Será que se deixam levar da mesma maneira?

Com o tempo que nos sobra praticamente não falamos, não sabemos quase nada um sobre o outro e também não é necessário. Estamos com as pernas entrelaçadas e partilhamos carinhos. D tem um sorriso de satisfação permanente e eu estou com a pele tão sensível que fico arrepiada quando me toca em qualquer parte do corpo. O alarme do meu telefone avisa-me que o encontro terminou. Ele vai à casa de banho e, ao voltar, enquanto se veste, falamos sobre coisas das quais já não me lembro. Agradece-me mais de uma vez, damos um abraço e com o fechar da porta cada um volta à sua vida. Daqui a quatro horas, tenho um compromisso com J.

J tem vinte e poucos anos de idade e uma atitude muito mais segura e despreocupada. Não quer ter relacionamentos sérios nem perder tempo com engates. Eu também não. Vantagem número 300 de ser uma prostituta: vida sexual activa e variada ao domicílio. O número 301 é que, ainda por cima, sou paga. Depois do protocolo inicial, conversa, pagamento e chuveiro, J pode começar a fazer comigo aquilo que lhe apeteça. É engraçado que, mesmo nos dias em que o cliente é mais dominante, eu continuo a controlar a situação. Podemos fingir que ele tem o poder, mas, na verdade, estamos a fazer aquilo que eu quero.

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Ele vem na minha direcção e empurra-me com o seu corpo contra a parede. Ponho-me de costas e peço-lhe que me morda o pescoço, durante um bom bocado ele morde-me e põe as minhas mãos nos sítios que deseja. Os homens que sabem o que querem excitam-me e, quando não lhe estou a tocar entre as pernas, toco-me entre as minhas. Suamos muito, estamos molhados nas partes mais sensíveis e não deixamos de nos olhar. Quem acha que os homens não estão preocupados com o prazer da prostituta, sabe pouco sobre sexo. J fica mais excitado ao ver-me masturbar-me quando está dentro de mim e vem-se ao som dos meus gemidos.

Durante os 10 minutos seguintes falamos de coisas parvas e partilhamos gargalhadas. Reparem que as informações que vos dou sobre os meus clientes nada têm a ver com o seu físico. Para mim, é igual a forma do corpo, a firmeza da pele, a quantidade de cabelo, ou o tamanho do pénis. A conexão entre duas pessoas é determinada pelo carácter e pela atracção sexual, eu encontro-a no contexto. J tem muito sentido de humor e poucas coisas me excitam mais do que alguém saber rir-se de si mesmo.

Não passa muito tempo até querer comer-me novamente. Mais do mesmo; às voltas na cama, mudando de posições enquanto nos olhamos desafiantes e nos divertimos com as nossas perversões. Se lhe agarro no pescoço, puxo-lhe o cabelo e lhe meto os dedos na boca, ele, em seguida, faz o mesmo comigo. Ficamos nisto até que ele se vem outra vez. Como em todos os encontros, quando o meu alarme toca, é hora de terminar. À minha porta despedimo-nos com um longo beijo. Ele diz que me quer voltar a ver. Eu tiro os lençóis da cama, apanho os preservativos do chão, tomo um banho e janto a ver o último capitulo de Game of Thrones.

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Amanhã encontro-me com P pela quarta vez. Neste momento sinto que já se criou uma confiança e que ele pode contar-me qualquer coisa. Sei tudo sobre a sua família, o seu trabalho e as suas ambições. Às vezes é-me difícil ser íntima com tantas pessoas. Quando isso acontece, deixo de trabalhar até ter saudades de sexo, aí ligo o telefone novamente. Aqui está a vantagem número 302.

Se quiseres saber mais sobre Natalia entra na sua página.


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