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Conselhos para quem entrega pizza em Guimarães

Entregar pizza nesta cidade é mais complicado do que parece.

Estava eu descansado no outro dia no Milenário a ler o Jornal de Letras e a contemplar as potencialidades do varandim do Toural (confirmando in loco algumas das sugestões de um artigo recentemente publicado aqui na VICE), quando, de repente, um entregador de pizzas na sua mota parou e me perguntou onde era a Rua Gravador Molarinho. Meio surpreso, lá atirei: “É a rua dos Arautos…” Ao que o tipo responde: “De quem?!?” “Dos Arautos!”, insisti eu com toda a calma. A coisa já estava a ficar meio estranha quando, em boa hora, interveio um simpático e prestável senhor que estava na mesa ao lado e esclareceu o desorientado entregador de pizzas.

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Apesar de resolvido, o episódio não deixou de me provocar algum espanto e reflexão. Após uma exaustiva pesquisa na Wikipédia Biblioteca Municipal Raul Brandão, defini uma precisa metodologia científica de trabalho e parti para o terreno para estudar este estudo de caso dos entregadores de pizzas. Ao fim de alguns telefonas, e de andar a comer pizza ao pequeno-almoço, almoço e jantar durante três dias, o meu mundo ruiu. Pensava eu que os entregadores de pizzas eram sujeitos a uma rigorosa e exigentíssima preparação, seguindo o saudoso modelo de treino das ginastas da ex-RDA ou da ex-URSS. Pensava eu que ser entregador de pizzas não era para qualquer um, mas apenas para os “escolhidos”, aqueles que nascem com um dom especial que alia a rapidez motora à destreza intelectual para tomar decisões importantes em centésimos de segundos… Afinal, pelo que vi e constatei, cientificamente, parece que qualquer um pode entregar pizzas.

Posto isto, decidi elaborar uma lista de recomendações a qualquer entregador de pizzas que trabalhe ou ambicione trabalhar em Guimarães nos tempos que correm:

1. Em Guimarães, existe uma quantidade de lugares que tem mais que um nome para além do oficial e normalmente são mais conhecidos pelas designações populares. Exemplos: a Feira do Pão ou a Feira do Leite são designações mais populares para o Largo Condessa do Juncal; o Campo da Feira é o Largo República do Brasil; a Rua Nova é a actual Rua Egas Moniz. Para evitar surpresas, aconselho vivamente a lerem o recém-lançado livro do Sr. Domingos Ferreira, especialista toponímico cá do burgo.

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2. Se te mandarem entregar pizzas para a Rua da Arrochela, Rua Cesil de Baixo, Viela do Teibão, Rua do Souto de Minotes, Rua Pegada ou Rua da Barroca da Pereira, podes ir em paz, porque essas ruas e vielas existem mesmo e não te estão a preparar um moto-jacking, nem a mandar-te para um lugar ermo e perigoso onde te podem sodomizar…  Por outro lado, se te mandaram entregar pizzas para o Castelo depois das 22h00, é melhor teres cuidado e procederes com toda a precaução.

3. Se estiveres engarrafado na Rua Gil Vicente sim, também se fica parado no trânsito de mota e precisares urgentemente de entregar uma pizza média quatro queijos com rúcula e dois pãezinhos de alho na Rua da Caldeirôa, tens dois atalhos que podem ser muito úteis: podes atravessar a mítica Estação Gil Vicente e sair directamente na Paio Galvão evitando semáforos e rotundas indesejáveis, ou, se fores mesmo radical e não te importares de cometer umas ilegalidades insignificantes, podes atravessar o Centro Comercial Santo António e sair na rua homónima.

4. A propósito da dica anterior: cuidado ao passar em frente a certos estabelecimentos como a Dois Arcos, Porta Larga, Adega dos Caquinhos ou Tasca Expresso, porque alguns clientes menos preparados podem, por vezes, vomitar ou defecar (sabe-se lá porquê) na entrada desses míticos locais de repasto ou, em último caso, adormecer na via pública e criar obstáculos chatos para quem conduz uma motoreta.

5. Se te quiserem pagar as pizzas com “Afonsos” ou “Mumadonas” e te tentarem convencer que Guimarães tem um banco próprio que cunha a sua própria moeda   mesmo que definas as suas próprias taxas de juro e qualquer coisa do Euribor ou uma merda assim  , não acredites! Isso são esquemas desonestos de pessoal caloteiro e burlão, certamente oriundos de Vizela ou Braga, que estão a tentar complicar-te as contas para pagar aquela lap dance no início do mês na danceteria Paris.

6. Recusa-te a trabalhar em dias de jogos do grande Vitória. É pouco provável que aconteça, mas o Vitorinha pode perder o jogo e a coisa pode tornar-se explosiva. Ainda mais perigoso pode tornar-se a coisa se trabalhares para uma empresa com uniformes vermelhos…

7. Entregadores de pizzas de todo o mundo, unam-se e sindicalizem-se! Mas, tenham cuidado, criem um sindicato só vosso, de forma a que tipos como os entregadores de comida indiana ou chinesa não vos lixem a luta pelas vossas justas reivindicações. Sugestões de eventuais nomes a adoptar: RÚCULA Associação dos Livres e Universais Condutores de Pizzas Únicos e Responsáveis; FAMEL Fundação Autónoma de Motoqueiros Entregadores de Pizzas Lindas; ANCHOVA Associação Nacional de Condutores de Pizzas Humanos, Omnívoros, Vimaranenses e Albi-Castrenses (esta designação só serve na eventualidade dos entregadores de pizzas de Castelo Branco alinharem).