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Bom dia, Julião Sarmento

Domingo é dia para dar dicas a artistas internacionais.

Domingo é um dia que possibilita a execução de uma quantidade de tarefas que, durante a semana, por vezes descuramos. Nomeadamente,  ficar colado a olhar para o tecto durante 40 minutos após o despertar, aparar unhas/pêlos púbicos, enxotar varejas do quarto e praticar a masturbação com uma relação impossível na mente.

Mas, para o Julião Sarmento — cuja obra está em exposição na Fundação de Serralves, no Porto —, o passado domingo, 25 de Novembro, foi dia de ir à RTP dar uma entrevista ao Bom Dia Portugal. Às tantas, o genial jornalista resolveu dar umas dicas artísticas a este indivíduo amador, por isso, amavelmente, presenteou-o com uma sugestão conceptual ao perguntar se ele já tinha pensado em criar “algo à volta dos números e da matemática da crise, de modo a ter uma linguagem mais reivindicativa, ou até mais política”. Confrontado com isto, o artista tentou explicar que toda a arte é reivindicativa por si só, mas isso não deve ter convencido o jornalista, nem muitas pessoas que estão fartas destes artistas fúteis e incapazes que só sabem criar instalações a fugir para o porcalhote. Portanto, já foi tarde que alguém com o discernimento vanguardista deste pivot chamou este criador aluado à razão, pois já se encontra em boa altura da sua carreira para deixar de brincar e começar a produzir algo de socialmente relevante. Como tal, preparei umas questões catártico-retóricas a cinco artistas aleatórios, que poderei utilizar caso seja contratada para desempenhar funções jornalísticas sérias a dar conselhos conceptuais numa grande cadeia de televisão. HIROSHI SUGIMOTO Seascapes: um exemplo de arte não ligada aos números da matemática da crise VICE: Depois de todos os terramotos ocorridos na sua nação, não pensa que seria relevante fazer imagens onde se visualizassem uns balancetes e, por que não, criar uma instalação constituída por uma grande fenda? AGNÈS VARDA VICE: Não considera despropositado fazer uma autobiografia a rebolar-se pela praia, quando há milhares de franceses sem possibilidades de realizar férias? Por que não criar algo à volta dos números de pessoas que foram obrigadas a ver a sua época balnear confinada a andar de sunga pelo chafariz do Louvre? ANDREI TARKOVSKI VICE: Se fosse vivo, não pensa que deveria fazer um remake do Stalker para torná-lo numa análise ao orçamento de estado russo da época? Por que razão nunca lhe ocorreu inserir uns balancetes encriptados nas árvores do filme? WOLFGANG TILLMANS VICE: Olá, alguma vez pensou criar uma ponte entre falos, que tanto aprecia fotografar, e contratos de submarinos germânicos? JOHN BALDESSARI VICE: Boa tarde, tendo em conta que na sua obra coloca círculos coloridos a tapar a cabeça de pessoas, já pensou em aprofundar-se conceptualmente e inserir, por exemplo, antes a imagem de um ministro das finanças? Parece que o Royal College of Art é uma coisa do passado, os artistas do futuro precisam é de umas aulas de cálculo e finanças. Pelo menos em Portugal, onde o melhor povo do mundo ainda exige os melhores artistas do mundo.