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Música

Esta Jibóia também mata

E faz música para espantar o mau-humor.

O título original desta entrevista incluía as palavras "falei com a jibóia mais fofa de sempre". Ontem, dia em que o EP de estreia do Jibóia ficou disponível em streaming, liguei ao Óscar para lhe fazer umas perguntas. Como ele é tímido, pediu-me que lhe enviasse um questionário via email. Foi o que fiz, até porque só quero o melhor para ele. Mas depois, ele armou-se em víbora e passou a entrevista a gozar comigo. Isso não se faz. Só o desculpo, porque o EP dele anda em loop por aqui. Apesar de Jibóia ser um engraçadinho, fiquei a saber coisas interessantes sobre o Óscar. Nomeadamente, ele gostava de se chamar "Bob, o Construtor", Que fixe para ele.

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VICE: Ei Óscar. Estás fixe? Ontem foi um dia feliz, já toda a gente ouviu o teu EP.

Óscar Silva:

Olá, Bia! Por acaso, não foi um dia muito bom. Adormeci, não tinha nada em casa para comer ao pequeno-almoço, tive de o tomar no metro, queimei a língua, apanhei uma molha, cheguei ao ateliê e o email não funcionava. Dei uma gafe lixada num trabalho, continuou a chover, o gato não me deixava comer, atirei o pau ao gato, mas o gajo não me largava, dei-lhe comida, mas o gajo não me largou. Larguei-o eu, fui embora, continuava a chover. Dia do catano. Valeu-me re-ouvir o

Mechanical Animals

enquanto ia (à chuva) no carro ter com amigos que, finalmente, me salvaram o dia. Ah, e o EP saiu não foi? Fixe! Ouviste?

Quando te conheci, há coisa de um ano, nem tu tocavas ainda. A ideia com que fiquei foi: “Ora aqui está um gajo simpático e tímido.” Mas agora andas aí a rockar. Como é que transportas agora essa timidez para o palco? Não tocava ainda?

Estou a ver que a tua pesquisa para esta entrevista não foi lá muito (nada) esforçada… Tenta o “sinto-me com sorte”. Às vezes, dá coisas engraçadas. Por acaso, conheceste-me exactamente no dia em que começou JIBÓIA. O Cláudio e o Ricardo até têm uma foto disso, tirada à socapa num fantástico hotel vimaranense.

Sabias que jibóia em inglês significa “boa constrictor”. Podes dizer às pessoas que és um gajo porreiro.

Pois é…Uma chatice. Ninguém vai querer abraços meus. Preferia que a minha alcunha fosse “Bob, o Construtor”.

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Bem, vou-te fazer umas perguntas sérias agora. Sei que gravaste o EP nos Blacksheep Studios. Porquê?

Agora é a sério? Ok. Gravar nos Blacksheep Studios foi uma coisa natural. Felizmente, tive a sorte de já lá ter gravado outras coisas, e é sempre um enorme prazer estar com o Makoto. Como o tenho encontrado pouco nos copos por aí, tive de lhe perguntar se não queria gravar as minhas músicas, para estar mais um bocadinho com ele, porque já tinha saudades. Ele foi um querido e disse que curtia gravar-me. E gravou.

Pois. Ele e os Lobster foram pessoas importantes em vestires a casca de Jibóia. Achas que são os principais responsáveis de podermos dançar ao som das tuas malhas incríveis?

Há muitos responsáveis por aí. Esses dois que falas foram e são, sem dúvida, duas pessoas muito importantes no que faço agora, não tão no "dançar" propriamente dito, mas sim na maneira de fazer as coisas. Vais crescendo com exemplos de bandas, de lugares e muito de pessoas das quais podes tirar muito e aprender muito. Até podes aprender ao mesmo tempo, ou um bocadinho depois. O Ricardo, o Bráulio, o João, o outro João, o Iuri, o Cláudio, o Filipe, o Luís, o André, o Henrique, o Miguel, o outro André, o Fábio, o Pedro, o Paulo, o do gato, o Rui, o da barba rija, o outro João, o outro Ricardo, o Diogo, o Zé, o do assobio, o loirinho, o Bruno, o Joaquim, o Manuel, o pastor, o Hugo, o outro João, o Tiago… Todos eles têm responsabilidade nisto. Por isso, qualquer coisa que achares mal [em Jibóia], é falares com eles. Eu só faço o que me mandam.

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Fala-me mais sobre o EP. Ando viciadíssima nele. Como é que tu imaginas as músicas? O que te inspira?

Camelos, macacos, chamuças, cobras, turbantes, dunas, salteadores, facas, cactos (ou será catos?), percussão no geral, percussões africanas em particular, candelabros, tapetes voadores, miúdas a dançar, cores, arco-íris, dragões, chapéus vermelhos tipo o do Abu (sempre pensei que era Apu), o Apu (pois é, o Apu é o outro), quéfrô, bebinca, gajos morenos, o Gandhi, caril, caril de gambas, tuaregs, samba, cabelos aos caracóis, kebabs, cúpulas, vacas sagradas, cítaras, cachupa, camelos (já disse?), azulejos azuis, escamas… Já chega? É isto tudo e uma boa dose de experimentação.

És muito metódico, durante o processo de criação?

Já reparaste que não, pela resposta anterior… Não mesmo. Devia ser mais. Se não gravo o que faço na altura, dali a 20 minutos já me esqueci.

Vais apresentar o EP em Lisboa, esta semana. A 16 de Março, vens tocar ao Porto, no restaurante turco. Curtes kebabs? E porquê a escolha do Turco?

Sim, em Lisboa vai ser já no dia 9, este sábado, se o São-Pedro-do-Martim-Moniz ajudar. No Porto vai ser no Turco, sim. Come-se barato, bebe-se barato e os tapetes daquela sala de cima ajustam-se na perfeição a um casamento indiano, que é o que se vai passar. Mas é só a parte do copo de água. Acho que ninguém se vai casar. Mas pensando bem… Um grande amigo meu disse que, num concerto seu, tocaria até que houvesse um coito. Eu vou ser mais romântico: adorava que alguém se casasse durante um concerto meu. Podia vir o coito a seguir, na boa também.

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Como é que consegues entender-te no meio de tantos pedais quando estás a dar concertos? Fazes distinção pelas cores, é?

Sim, e pelas pessoas que mos emprestam (os pedais são todos emprestados). Joãozinho, Ricardo, Zé Diogo, Henrique, João, Bráulio, Pedro, Gonçalo, Luís: penso muito em vocês quando estou a calcar os vossos pedais e a usar as vossas guitarras e os vossos amplificadores. Obrigado. Do fundo do coração. Sabem bem que sem vocês, eu não seria nada.

Já sei que é cedo, mas acho que cinco músicas é pouco. Por isso: quando é que pensas em lançar um LP?

Cinco músicas? Há o web-ep

carnaval surreal

, que fiz com o montanha negra que são mais duas. Depois há uma com o Rei Abutre, que está numa compilação da

bodyspace.net

. Outra, uma cover dos Lydia’s Sleep, que está

na primeira mixtape da Coronado

. Já para não falar naquelas que só se consegue ouvir ao vivo, quando o Homem Fino está com os copos. Já viste? São mais de dez! Queres um LP? Não te preocupes, não vai tardar muito.

Obrigada, pá. Comemos um kebab quando vieres ao Porto, então.