O Armand Van Helden Quer Tocar no Churrasco do seu Pai

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

O Armand Van Helden Quer Tocar no Churrasco do seu Pai

Na hora de colaborar com a série 'Masterpiece', da Ministry of Sound', o produtor abraçou o pop que ouvia com seus pais na infância.

Eu me lembro, aos seis anos de idade, a sensação do carpete debaixo dos meus pés. Descendo lentamente as escadas da primeira casa onde minha família morou, uma mão segurando o corrimão e a outra deslizando sua palma pela parede abaixo, constantemente me levando até o reino desconhecido do 'andar de baixo depois da meia-noite'. Era um universo de taças de vinho, uma televisão intimidante e convidados com brincos enormes. Esse era um ambiente onde meus pais paravam de falar sobre os Teletubbies e de tentar me fazer comer legumes, e em vez disso se dedicavam aos seus próprios interesses enquanto comiam aperitivos estranhos e faziam palavras cruzadas.

Publicidade

Leia mais sobre o Armand van Helden

Me lembro deste lugar sagrado ressoando músicas de artistas como Fleetwood Mac, Steely Dan, ELO e Dr Hook. Isto, eu aprendi depois, era Yacht Rock. As vozes aveludadas e guitarras prateadas deslizantes dos meus pais. Sempre tive esperança de encontrar alguém que compartilhasse uma experiência parecida com essa música comovente e radiante. Só não esperava que fosse o Armand Van Helden.

No entanto, esse é o tema central da sua contribuição recém-lançada para a tão estimada série Masterpiece da label Ministry of Sound. Com deep house e uma mixtape freestyle, o disco do meio do Van Helden é puramente autêntico, completamente inesperado e o paraíso do soft-rock. Tendo feito seu nome na vida noturna de Boston no início dos anos 90, o produtor vem desfrutando desde então de uma carreira extremamente próspera como provedor de house e garage - apesar de não ter quase nada indicando que o homem por trás de "Barbara Streisand" estaria prestes a começar a tocar Doobie Brothers por aí.

"Yacht Rock é basicamente música pop", Armand explica pelo telefone. "Mas você deve estar sentado em um iate, debaixo do sol e ao lado das ondas. Essa é a pegada". Ele basicamente convidou seu pai e o churrasco dele para uma visita à Ministry of Sound em um domingo à tarde.

"Fiz uma mix de yacht rock de zueira um ano antes de terem me oferecido uma de fato. Moro em Miami hoje em dia e estou semi-aposentado, então meu dia é dividido entre pedalar e ir à praia. Essa mix, originalmente, era apenas para mim e meus amigos, uma desculpa para levar uma boombox até a praia."

Publicidade

Assim como o meu, o amor de Van Helden pelas guitarras acolhedoras do Fleetwood Mac começou na infância. "Meus pais eram grandes fãs do Steely Dan. Fleetwood, Eagles… a lista é enorme. O grande lance é, muitas dessas personalidades do Yacht Rock não entendem o que uma mixtape como essa significa, muitos deles provavelmente recebem ligações de pessoas dizendo "vamos lançar sua música mixada com as de várias outras pessoas", e os artistas ficam tipo "Não! Você não pode sobrepor a música de outras pessoas no nosso clássico! Como você ousa!".

A reputação da música pop é cíclica, o que começa como caloroso e vago pode depois de pouco tempo se tornar um nonsense açucarado. Você descobre Nirvana e o Elton John imediatamente se transforma em um personagem centenário de desenho animado, bom apenas para mijadas depois de um casamento e brechós de garagem. Como o Van Helden me explicou, isso é, em primeiro lugar, parte do motivo pelo qual ele decidiu fazer uma mixtape de Yacht Rock. "Quase fiz essa mix ser propositalmente piegas. Queria que as pessoas inicialmente reagissem com um 'hm… não', e então se ligassem que todas essas músicas são, na verdade, massa."

É uma lição que ele aprendeu em outros contextos. "Quando comecei a curtir house, o New Kids on the Block era a parada, e eu menosprezava eles. Não queria ouvir nada daquilo quando tinha 20 anos de idade. Mas agora, olhando para trás e com ouvidos frescos, sei que esses são grandes discos. A musicalidade é fantástica. Quando você é jovem e quer fazer parte do underground, você se afasta de todo o conceito pop; mas gradualmente, quando você envelhece, começa a perceber: essas músicas na verdade eram incríveis."

Publicidade

Van Helden foi de fato forçado a enfrentar seus 'demônios do pop' de forma particularmente autêntica depois de ter se tornado amigo do Jordan, do New Kids on the Block. "Falei para ele pessoalmente, 'não curto sua música', e ele disse 'eu não ligo, também não curto a minha música'. Ele só estava tentando se livrar desse assunto". A re-validação da música pop é certamente uma grande tendência, há tempos que o cenário da balada é palco de noites nostálgicas onde corretores da Bolsa desiludidos e com um humor oscilante podem se jogar na pista de dança flamejante enquanto ouvem as músicas das paradas de sucesso da sua juventude. Só que há uma versão mais apreciada desse processo. Para além do fator 'zueira', existe uma apreciação genuína que vem com o tempo, uma estranha espécie de maturação reversa que afasta todo o fingimento da música pop e deixa à mostra sua genialidade. "O engraçado é que hoje em dia - e isso já começou - nós vamos aplicar este retrospecto a Britney Spears, Backstreet Boys e N'Sync, e vamos dizer 'porra, essas músicas são boas'."

Suas outras mixtapes também são nostálgicas, embora de forma diferente. O primeiro disco, The Loft - Boston, leva Van Helden de volta à balada onde ele conquistou seu legado. The Loft in Boston era um lugar lançador de tendências que se tornou o berço da deep house, trazendo uma geração mais nova de vários lugares do Estado para Boston. Com o seu encerramento em 1995, os Estados Unidos perderam um baluarte da sua pioneira cena noturna, algo que o Van Helden espera que sua mix irá transmitir em baladas de house modernas e influentes. "Só queria mostrar isso ao mundo, foi daqui que eu saí - quando comecei o deep house era algo inovador, então isto é praticamente uma aula de história. Vai deixar a geração mais jovem no chinelo."

Publicidade

Seu terceiro disco, no entanto, aborda um outro lado esquecido de sua herança da dance music: o freestyle. Melhor descrito pelo Van Helden como "um som parecido com o de uma pessoa cantando em cima da batera do Planet Rock", se tem uma coisa que este movimento de hip-hop repleto de batidas dinâmicas não é, é ignorado pela cena dance music de hoje em dia. "Outra motivação para escolher o freestyle é a rejeição das pessoas da minha idade que costumavam curtir esse tipo de música. É por esse motivo que estou fazendo isso. Como você pode negar que fez parte disso?"

Sua insistência em defender o legado brega do freestyle é refletido em toda a sua mix, sendo sua relação com Yacht Rock o tema central. Em vez de ter uma coleção enorme de carros capengas, Van Helden escolheu representar esses gêneros e artistas preciosos do nosso passado em comum, que muitas vezes somos muito 'descolados' para curtir. Ao fazer isso, ele proporcionou uma visita ao seu passado, e ao passado de qualquer pessoa que tomava um toddynho enquanto seu pai assava carnes no quintal. "Acho que é corajoso e divertido reconhecer as partes bregas da minha juventude e fazê-lo de forma íntegra."

Você pode descolar as três mixes aqui.

Armand Van Helden está no Facebook

Para seguir o Angus no Twitter, clique aqui.

Tradução: Stefania Cannone