Ver porno não era assim tão fácil antes da Internet

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Ver porno não era assim tão fácil antes da Internet

Saudades das páginas coladas?

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

Durante o tempo em que andei na escola, guardei toda a minha pornografia numa caixa branca. Dentro dessa caixa tinha uma pilha de revistas - na sua grande maioria Playboys, (sim, eu prefiro um porno limpo) - e também uma pasta cheia com as imagens que eu mais curtia e que depois espalhava pelo chão do meu quarto. Sentava-me no meio delas. Era uma espécie de primórdios do Tumblr. A Internet mudou a forma como nos masturbamos. Actualmente, se quisermos ver pornografia, basta pressionar um botão e pronto, temos um par de mamas. Mas, eu lembro-me de quando era adolescente e as páginas de revistas com mulheres nuas eram como uma relíquia secreta, algo que tínhamos de procurar, encontrar e apreciar. A primeira vez que vi uma revista pornográfica estava no quarto ano da primária. Alguns colegas da minha turma passaram-ma por debaixo da mesa, em pleno refeitório. Lembro-me de sentir uma sensação estranha assim que toquei na revista, como se alguém pudesse apanhar-me, todos os meus amigos se riram da situação. Não sei que revista era, mas as imagens eram de mulheres nuas com armas automáticas, vestidas como militares.

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"Algumas vezes ia para o trabalho com o meu pai. A meio do caminho parávamos numa loja de conveniência. Quando estava a ver a estante de revistas, sentia uma cena estranha".

O dono da revista era um rapaz que mais tarde começou um negócio. Por um dólar, podia-se comprar uma página da revista. Toda a escola perseguia a mochila dele. Na altura, ele disse-nos que aquelas eram as revistas do pai dele e que, caso houvesse mais dinheiro, haveria muitas mais. Nunca lhe comprei nada. Talvez o negócio dele tenha acabado no dia em que foi apanhado e suspenso. Algumas vezes ia para o trabalho com o meu pai. A meio do caminho parávamos numa loja de conveniência. Quando estava a ver a estante de revistas, sentia uma cena estranha. Mesmo assim, sempre que podia, aproveitava para dar uma vista de olhos nessas revistas. Apenas o suficiente para registar pequenos flashes e tentar mantê-los na minha memória futura. Tenho uma memória curta, mas vívida, de uma altura em que tinha quatro ou cinco anos e fiquei com a revista pornográfica de um amigo do meu pai num acampamento. Recordo-me que todos os meus amigos se riram de mim quando o meu pai me tirou a revista. O meu tio disse algo como: "Um dia poderás tê-la". Não me lembro de muitas mais coisas dessa fase da minha vida. A primeira nudez "a sério" que vi foi numa versão de DOOM. O vizinho mais velho de um amigo meu tinha editado o programa para substituir as paredes do jogo por uma foto de Pamela Anderson. Para ele, não significava nada, mas eu não conseguia desviar o olhar da imagem. Depois daquele dia, passei semanas a pedir uma cópia do jogo ao meu amigo. Esperei e esperei por esse momento. Quando finalmente chegou a disquete, vi que era apenas a versão normal do DOOM. Não tinha Pamela, apenas armas e sangue. De qualquer forma, acabei por jogar o jogo.

A determinada altura, encontrei uma pequena colecção de revistas adultas do meu pai. O esconderijo dele era numa das gavetas do armário, que eram depois cobertas com uma camisa. Provavelmente esta foi a forma mais fácil de encontrar pornografia. O meu pai tinha Playboys, principalmente, mas também tinha um par de Penthouses. Esperava que os meus pais saíssem de casa, para depois as ir buscar e observar, sempre preocupado em não deixar vestígios. Havia sempre lojas que vendiam pornografia sem perguntar a idade. Quando tirei a carta de condução, dirigi-me a uma dessas lojas a tremer, literalmente. Nas primeiras vezes andei às voltas na loja e só comprei uns doces. Decidi pagar 15 euros a um rapaz que parecia mais velho do que eu para me comprar uma Playboy. Muito estúpido. Voltei para a minha casa, fechei a porta do meu quarto e tranquei-a. Pela primeira vez tinha nas minhas mãos a minha própria revista. Olhei para cada página com cuidado, examinei todas as imagens antes de folhear a seguinte. Era um número com a Jenny McCarthy. Nas fotos ela aparecia a tomar um duche e posso garantir que cheguei a masturbar-me umas 50 vezes e que todas as vezes foram especiais.

A certa altura ganhei coragem para comprar a revista sem recorrer a outras pessoas. Fui até a loja de conveniência (ainda me lembro que o gerente era um homem de 50 anos). Comprei a revista e senti-me como se tivesse acabado de sair da prisão. Fui para o meu carro, passei um sinal vermelho e a seguir fui mandado parar pela polícia. Estava a tremer porque tinha a Playboy num saco, debaixo do meu assento. Não me perguntem porquê, mas era como se transportasse drogas comigo. Tenho a certeza de que a ideia de ter pornografia comigo era muito mais excitante do que o próprio porno. Existem algumas imagens assim na minha mente, mas que se irão manter até morrer. Agora, com a internet, não há imagem que guarde na minha memória por mais de 10 segundos - até clicar noutra coisa. Recentemente encontrei essa minha pasta. Passei uma vista de olhos e foi tudo muito estranho, como se entrasse num museu. Dentro dele estão pequenas histórias que só eu conheço. Não tenho ideia porque é que achei que a foto da Pamela Anderson vestida de Cowgirl e a lavar o rabo era digna de se guardar. Depois de anos de porno fácil, vejo estas relíquias como BDs, ou roupas que costumava usar, só minhas. Apesar da circulação da revista, parecia algo feito apenas para mim. O primeiro dia em que tive net em casa, fui logo procurar fotos da Jenny McCarthy. As fotos em si não eram muito diferentes das que andavam pelas revistas, mas agora podia vê-las a toda a hora. Ela estava ali, para sempre. Guardei a pasta na caixa e nunca mais lhe toquei. Troquei esta caixa mágica por um mundo em que é tão fácil ter acesso à cópia de algo que já ninguém sabe o que quer ao certo.