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Tecnologia

Razões pelas quais a Uber pode não ser assim tão fixe

Ainda que tente identificar-se como uma empresa essencialmente democrática, que oferece oportunidades empresariais e elimina a burocracia reguladora da indústria de táxis, têm surgido dúvidas quanto aos métodos que utiliza e a forma como lida com as...

Travis Kalanick é o homem responsável pela Uber, uma empresa que gerou um império de quase 20 biliões de dólares desde o seu lançamento em 2009. Além disso, tem a mania. Isso torna-se óbvio para qualquer um que leia o seu perfil na GQ de Março (2014), no qual usou "hashtag winning" para substituir uma frase e deixou implícito a um jornalista que estava a comer tantas gajas que poderia usar-se a expressão "Boob-er" para descrever o seu estilo de vida.

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Mas os executivos da Uber são verdadeiramente diferentes do resto dos alfa-machos e mega-ricos nerds dos computadores. Eles estão num outro nível de estupidez e esse facto foi confirmado por um relatório da BuzzFeed, que citou o vice-presidente sénior Emil Michael, que sugeria que a empresa procurasse informação nociva sobre jornalistas que criticaram a empresa. A ideia era dar-nos um sabor do nosso próprio "veneno".

Embora a Uber tente identificar-se como uma empresa essencialmente democrática, que oferece oportunidades empresariais a motoristas e elimina a burocracia reguladora da indústria de táxis, este tal de Emil Michael realmente não me parece que valorize a ideia de uma imprensa livre e democrática.

Mas, embora os comentários de Michael tenham feito manchetes em todo o Mundo, esta está longe de ser a primeira vez que os ideias duvidosos da Uber tenham sido postos em prática. Vamos fazer uma retrospectiva.

Eles estão a tentar levar 50.000 Veteranos a passear

Em Setembro de 2014, a empresa lançou o programa UberMILITARY, que visava a contratação de 50 mil veteranos, o que equivale a cerca de um quarto de todos os veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão no desemprego. Embora o objectivo possa parecer suficientemente louvável, os "trabalhos" que a Uber oferece não são bem a oportunidade que a empresa prometeu. Como um membro disse ao The Verge, "a Uber promete um bom trabalho, mas, na realidade, é uma maneira muito precária de ganhar a vida. Estou à procura de um novo emprego e não vou, de maneira nenhuma, recomendar este estilo de vida a outros veteranos".

Quanto muito, o UberMILITARY parece mais um movimento de relações públicas encharcado em patriotismo à custa de uma população vulnerável e carente. Na verdade, Kalanick já disse que está ansioso que chegue o momento em que se possa livrar do "outro gajo do carro" (ou seja, o condutor) e substituí-lo por um robot. O que nos deve dar uma noção de quanto a empresa valoriza os seus recém-contratados veteranos.

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E enquanto a empresa afirma que cada um de seus motoristas é o proprietário de um pequeno negócio, reserva-se o direito de alterar as percentagens a que têm direito e de despedir as pessoas por infrações aparentemente arbitrárias. E continuam a não permitir que se saiba o rendimento médio destes "empresários". Por isso, algumas pessoas confirmaram que chegam a ganhar uns míseros 12 dólares à hora, enquanto convivem com o medo de perder o seu meio de subsistência por causa de uma classificação negativa dada por algum passageiro. Obrigado pelo teu serviço, sê bem-vindo de volta à América.

Quando compararam as suas motoristas femininas a prostitutas

Em Outubro de 2014, a Uber lançou uma aplicação que prometia emparelhar clientes do sexo masculino com motoristas femininas sensuais. "Quem disse que as mulheres não sabem conduzir?", perguntavam os anúncios desta promoção, que foi lançada pelo escritório da empresa em Lyon, França. Os passeios fantásticos tinham um limite de tempo de 20 minutos e ainda não se sabe por que razão.

Graças à rápida reacção de alguns meios de comunicação, esta promoção não chegou a ser realmente lançada. "Eles não anteciparam a reacção da Uber US", disse Pierre Garonnaire, co-fundador da Avions de Chasse, o serviço de acompanhantes que co-patrocinava esta ideia. "Nos EUA, são mais puritanos. Para mim e para a maior parte dos franceses, era uma boa [ideia]. Foi divertido".

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Julgo que esse ponto de vista é discutível, mas a promoção não ajudou a acabar com a reputação de que a Uber se está a cagar para a segurança das mulheres dentro dos seus carros. Por outro lado, as clientes do sexo feminino ainda reclamam frequentemente que os motoristas do sexo masculino tentam assediá-las e descobrir as suas identidades.

Esconder tácticas agressivas atrás de ideais liberais

Entre os Technorati, a Uber foi elogiada pela sua tecnologia "disruptiva" e pela sua busca incessante para se insurgir contra os políticos e os reguladores da indústria de táxis que se interpõem no seu caminho. Mas também tem usado essas ideias para mascarar as tácticas mais venenosas que utiliza para destruir a concorrência. Como, por exemplo, dando aos "embaixadores da marca" telefones descartáveis para solicitarem e, de seguida, cancelarem pedidos feitos ao seu principal concorrente, a LYFT. Não nos parece que assim ganhe o melhor, nem que se deixe a selecção natural do mercado livre eliminar o elemento mais fraco.

Existe também a questão da Uber deixar os motoristas sem o seu ganha-pão. Em Miami, e outros locais onde os serviços de partilha de boleias são ilegais, os membros dos sindicatos de táxi estão a tentar em vão preservar os seus meios de subsistência, nos quais investiram muito dinheiro para pagar as suas licenças. Em Londres, os motoristas de táxi estudaram durante anos para o que algumas pessoas consideram ser o teste mais difícil do Mundo e agora têm de enfrentar a possível extinção por culpa destes recém-chegados não qualificados.

Actualmente estão a atacar os jornalistas que os criticam

Não é novidade que a Uber tem enfrentado uma tonelada de criticas dos meios de comunicação. Uma das vozes mais severas foi a de Sarah Lacy, a editora do site PandoDaily. Através de um artigo amplamente partilhado, Lacy escreveu que iria desinstalar a aplicação da Uber, porque promovia a "cultura do imbecil." Durante um jantar organizado por Emil Michael este afirmou ter Lacy no seu ponto de mira, em particular, deixando no ar a ideia de poder contratar investigadores para descobrirem detalhes da sua vida pessoal. Chegou ao ponto de dizer que qualquer mulher que, por ter lido a sua coluna, apanhasse um táxi normal em vez de usar o Uber e depois fosse agredida sexualmente, deveria colocar-lhe as culpas em cima.

Depois deste pesadelo, Kalanick, assim como a empresa em geral, tentaram distanciar-se das observações feitas por Michael. Não demorou muito a que o próprio Kalanick emitisse um pedido de desculpas. "Os comentários de Emil feitos num jantar foram terríveis e não representam a empresa", escreveu ele no seu Twitter. "Farei tudo em meu poder para voltar a ganhar a vossa confiança", concluiu.