Fotos dos Lares de Jovens Brasileiros Que Moram Sozinhos

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Fotos dos Lares de Jovens Brasileiros Que Moram Sozinhos

"Já aconteceu algumas vezes de acordar e ver um desconhecido dormindo no sofá ou um fluido estranho que você não sabia que estava lá."

Desgarrar-se da casa dos pais pode significar assumir ainda mais seus desejos e sua personalidade para além do seu quarto, além de poder (e ter de) fazer coisas que lhe foram negadas pelas normas familiares. Ao morar sozinho, você poderá finalmente manter a sua bagunça em paz. Ninguém vai reclamar. É o momento certo para o sujeito ter os animais que quiser, desde que ele esteja disposto a arcar com o custo para alimentar mais bocas e recolher a bosta que vem depois. Ou não. Entre dar festas e poder andar pelado pelos corredores, os motivos para deixar o papai e a mamãe bem longe podem variar, mas o acréscimo de liberdade é sempre um denominador comum - o que também não faz a fórmula funcionar às mil maravilhas igual ao que muita gente espera.

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Dando um rolê pela cidade de São Paulo e pela Serra do Mar para encontrar alguns amigos e até desconhecidos que seguiram pelos caminhos da vida própria, visitei casas e apartamentos montados à imagem e à semelhança de seus inquilinos, revelando tanto as excentricidades quanto as qualidades e defeitos que só a privacidade de uma pessoa nos permite enxergar. Saca só:

EDGAR BEI, 28, ARTISTA VISUAL, SALESÓPÓLIS, SP

VICE: Quando e por que você se mudou pra cá?
Edgar Bei: Eu queria gravar um filme de surrealismo com mulheres nuas; então, vim para essa casa. Os desenhos, esculturas, fotos e as outras coisas nas paredes, fiz para criar o cenário ideal para o filme. Faz seis anos que estou gravando e pretendo ficar mais quatro. Eu tenho de morar no lugar onde trabalho. Pra mim, não existe essa divisão entre trabalho e lazer, sacou?

Sim, saquei. E você costuma limpar a casa?
Não sou muito de lavar louça; então, às vezes, jogo inseticida na pia para espantar os mosquitos e acendo um incenso pra não ficar fedendo. De resto, tem uma mulher que vem aqui de vez em quando limpar a casa. Como eu gosto de ficar pelado, e minhas modelos também, no primeiro dia de trabalho da faxineira, eu pedi que ela ficasse pelada pra ver se ela ia se acostumar com o meu estilo de vida. E olha que deu certo.

Parece que recentemente rolou uma festa aqui.
Às vezes, eu vou fazer fotos de mulheres nuas, e elas trazem as amigas; depois, vai um chamando o outro, e, de repente, tem uma festa rolando. É difícil um dia sem festa aqui, e é bem provável que logo mais chegue alguém. É acordar, comer um monte de frutas, tomar LSD e fazer festa, né? E como minha casa é rodeada por pastos, a gente acaba achando uns cogumelos de vez em quando. Mas eu tenho de trabalhar também. Pensando bem, a verdade é que meu trabalho é brincar o dia todo.

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Como você faz pra se alimentar?
A base da minha alimentação é batata frita, sorvete e frutas, mas, de vez em quando, eu preciso sair pra comer. O problema é que aqui, na Serra do Mar, tem pouquíssimos restaurantes, e eu devo dinheiro pra quase todos os restaurantes da cidade. Mas o bom é que a maioria deles continua me aceitando.

Você já teve problemas com alguém da região?
Ah, quando eu e meus amigos cruzamos na rua com as beatas da cidade, elas fazem o sinal da cruz. A polícia já veio algumas vezes aqui em casa, mas hoje eles já me conhecem e alguns até apareceram nas festas. Eu também já fiz algumas exposições aqui e sempre convido as pessoas da cidade. Às vezes, elas saem assustadas, mas tudo bem: a porta continua aberta.

Ao menos pra mim, foi bem divertido conhecer sua casa. Valeu, Edgar.
Eu que agradeço pela sua visita. Volte sempre, maninho.

MARIANA MARQUES, 24, ESTUDANTE DE VETERINÁRIA, PERDIZES, SÃO PAULO

VICE: O que mais mudou na sua vida quando você começou a morar sozinha?
Mariana Marques: O principal foi poder criar os animais que eu gosto. Agora, posso ter meus cachorros, gatos, cobras e lagartos sem ninguém ficar pegando no meu pé. Quando eu trazia animais abandonados da rua pro meu apartamento, a minha mãe ficava brava comigo. Agora que eu não moro mais com ela, isso ficou mais tranquilo. Há pouco tempo, peguei seis filhotes de gato na rua.

E quantos bichos de estimação você tem atualmente?
Agora eu tenho quatro cachorros, dois gatos, três cobras e um lagarto. Sem contar os tenebrios, que são a comida do lagarto.

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E qual é o lado ruim de morar longe dos pais?
Pagar as contas e ter de cozinhar.

Você costuma receber uma galera no seu apartamento?
Eu nunca dei uma festa aqui. Normalmente, saio com meus amigos pro bar ou pra balada.

Algum dos seus animais já fugiu?
Já aconteceu de uma das minhas cobras fugir pra casa da vizinha. Ela me ligou perguntando se eu tinha perdido uma cobra, e eu achei que, quando eu fosse pegar a cobra de volta, a vizinha estaria surtando. Mas, quando cheguei lá, descobri que o filho dela criava várias tarântulas enormes e peludas.

E você já sofreu preconceito por ter cobras e lagartos?
Tem gente que não gosta, que acha estranho ou fica com medo. Mas eu sempre tento quebrar o preconceito contra os répteis. Você quer segurar alguma cobra?

É… acho melhor não. Mas foi um prazer conhecer o seu apê.
Tudo bem, eu entendo [risos]. O prazer foi meu.

FERNANDO RICK, 31, DIRETOR DE CINEMA, CONSOLAÇÃO, SÃO PAULO

VICE: Como era o seu apartamento quando você chegou aqui?
Fernando Rick: As paredes eram todas rosas. O antigo dono era gay, um cara bem exótico. Assim que eu coloquei os pés aqui, pintei tudo de preto e branco e fui deixando o apartamento do meu jeito, com coisas que fogem do comum ou que são relacionadas ao cinema independente e ao cenário trash.

Você é cuidadoso com a limpeza do lugar?
Peço para a faxineira não mexer nos bonecos da minha coleção. E também já aconteceram algumas festas brutais aqui que eu me arrependia muito no dia seguinte.

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Como eram essas festas?
Álcool, drogas, sexo e muito barulho. Antes, vinha um monte de gente bem louca, até algumas pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida. Ficava tudo sujo e bagunçado, sumiam algumas coisas. Mas agora eu estou mais sossegado, recebo alguns amigos de vez em quando, mas não na mesma pegada de antes.

Seus pais costumam visitar o seu apê?
Eles visitam, mas bem pouco.

As pessoas costumam se assustar quando entram aqui?
Isso já aconteceu várias vezes. Na minha época de solteiro, já houve mulheres que entraram aqui e saíram fora logo em seguida. Elas ficavam assustadas, e já aconteceu de uma delas chorar quando viu a decoração do meu apartamento.

Como você define o seu apartamento?
Ah, é como um museu de coisas estranhas, não é?

Sim, com certeza. Seria legal se houvesse mais museus como esse pela cidade.

FÁBIO HIRSCH, 22, PUBLICITÁRIO, VILA MARIANA, SÃO PAULO

VICE: Qual é o esquema do seu apartamento?
Fábio Hirsch: Moro com cinco amigos, e o esquema é não ter esquema nenhum. Aqui é uma república universitária que ficou conhecida como República Suvaco de Cobra. Temos até uma página humorística no Facebook que usamos pra mostrar nosso cotidiano.

Suvaco de Cobra? Por quê?
Porque é sujo e tinha uma cobra. A cobra era minha, mas um dos meus amigos esqueceu o terrário dela aberto, e ela acabou fugindo. Sinto saudades da Cassiopeia, era esse o nome dela. Estamos pensando em comprar outra.

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Vocês recebem muitas visitas?
Em um dia de semana normal, vêm entre cinco e dez pessoas. Se cada um dos moradores chama um amigo, já são 12 pessoas. Com o tempo, a galera que passou por aqui foi deixando suas marcas e manchas. Já aconteceu algumas vezes de acordar e ver um desconhecido dormindo no sofá ou um fluido estranho que você não sabia que estava lá.

Quantas vezes por semana vocês limpam o lugar?
Na teoria, é cada um arruma o seu, ou seja, ninguém limpa nada. A gente já contratou diaristas várias vezes. Algumas olhavam pro apartamento e já desistiam. Outras tentavam e não conseguiam. Mas a atual está indo.

Os móveis vieram de onde?
Muitas coisas foram trazidas da rua. A gente tem uma espécie de jogo pra ver quem traz as paradas mais legais. Começou com objetos simples e pequenos, mas depois vieram as cadeiras, placas de trânsito, cones, carrinhos de supermercado e coisas maiores. Quando você está bêbado, a rua fica diferente.

Já aconteceu algum incêndio ou algo louco?
Incêndio nunca aconteceu, mas a sujeira daqui é pior do que fogo. E houve uma vez que alguns de nós decidiram acordar os amigos que estavam dormindo e começaram a dar soco na porta e tocar violão. De repente, apareceu o vizinho, que era da Polícia Militar. Ele abriu a porta xingando todo mundo e dizendo que tinha chamado três viaturas pra levar a gente à delegacia.

E levaram?
Não, era mentira dele. A gente tomou uma advertência por escrito, mas continuamos firmes e fortes aqui. A união entre nós é muito boa, um sempre ajuda o outro.

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CAMILA ABDALLA, 22, DESIGNER, VILA MARIANA, SÃO PAULO

VICE: O que você faz aqui que você nunca faria se morasse com seus pais?
Camila Abdalla: Aqui, eu tenho mais liberdade para fazer várias coisas. Por exemplo: eu posso deixar meu quarto bagunçado e fumar maconha, coisas que eu nunca faria perto dos meus pais. Também posso trazer alguns caras e amigas pra cá e fazer festinhas quando eu quiser.

Existe algum lado negativo no meio disso tudo?
Sou muito desorganizada com minhas roupas, e, antes, minha mãe deixava tudo arrumadinho pra mim, além da comida boa que ela faz. O pior de tudo é a saudade da família.

O que você costuma fazer no seu apartamento?
Gosto de ouvir música, desenhar, fumar um baseado e ficar de boa.

Já rolou alguma confusão aqui?
Eu já tomei uma multa superalta do prédio. Foi por causa de uma amiga das minhas amigas, que chamou alguns caras para virem aqui. A gente estava esperando eles quando ouvimos uma discussão na rua. Os moleques que iam vir pro meu apartamento estavam brigando com um morador por causa do barulho na rua e jogaram uma garrafa de vidro no prédio. Eu nem conhecia eles e não deixei ninguém subir, mas a culpa sobrou pra mim. Foi um saco.

Você costuma lavar a louça?
Não, raramente. A louça já ficou até com fungo quando deixei ela parada por muito tempo na pia. Sorte que tem uma moça que vem limpar as coisas. Ela veio hoje, foi a minha salvação.

As pessoas que moram no seu prédio são tranquilas?
A maioria é, mas tem um cara, que mora sozinho no andar de baixo, que fica escutando heavy metal altíssimo o dia inteiro. Ele fica cantando e gritando com uma voz demoníaca; parece que você está escutando o diabo, de verdade.

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Você já passou por alguma situação de medo?
Uma vez, eu estava chapada e apertaram minha campainha. Quando olhei no visor da porta, eram três caras encapuzados e com uma arma. Eu fiquei muito assustada e liguei para o porteiro. Depois, descobri que eram uns amigos meus que moram no prédio e decidiram pregar um trote em mim.

Vixi! Boa sorte com esses vizinhos, e valeu pela visita.
Foi legal trocar essa ideia, deu pra relembrar várias histórias engraçadas.