O que pensam eleitores que vão votar pela primeira vez em outubro
Foto: Guilherme Santana

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O que pensam eleitores que vão votar pela primeira vez em outubro

Falamos com jovens de 16 a 20 anos que moram em São Paulo para saber quais os seus candidatos e o que eles esperam da política do país.

Mais de 144 milhões de brasileiros vão escolher os candidatos aos cargos de prefeito e vereador no primeiro domingo de outubro, naquela ocasião que sempre termina com as ruas sujas de santinhos e panfletos políticos. A maioria dos eleitores tem de 30 a 34 anos (11%), ensino fundamental incompleto (28,5%) e é do sexo feminino (52%), mostram dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Lá na ponta de baixo da pirâmide etária estão os menores de idade. São 2,3 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos que tiraram o título de eleitor para participar deste pleito. O número, porém, é menor em relação ao da eleição municipal anterior, de 2012, quando 2,9 milhões jovens estavam aptos a votar.

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2,3 milhões de adolescentes de 16 e 17 anos que tiraram o título de eleitor para participar deste pleito.

O desinteresse dos mais jovens pela política, acredita o doutor em Ciência Política e professor da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política) Humberto Dantas, é anterior à atual crise política e econômica. "Desde 2013 existe uma crise de legitimidade e desinteresse crescente dos jovens em validar o papel de eleitor. Essa crise de legitimidade não tem nada a ver com crise econômica, com a Dilma Rousseff ou Michel Temer. É muito maior", acredita ele.

Os jovens de 16, 17, 18 e 19 anos, que vão votar pela primeira vez, somam 7,6 milhões de eleitores. A quantidade representa pouco mais de 5% do total do eleitorado, que se soma a outros grupos. "Daria para falar em voto de classe se você partisse da ideia que a juventude é homogênea no Brasil — e isso não é assim nem aqui e nem em lugar nenhum. A escolha do voto varia muito, vai desde questões familiares, valores e leituras diferentes de mundo. Isso, inclusive, é muito bom para a sociedade", completa Dantas.

Falamos com alguns novinhos e novinhas que vão votar pela primeira vez em São Paulo para saber como eles escolheram os candidatos e o que esperam da política no país.

Estudante Thaíse Vallesca Queiróz, 16: "Se você não vota, você não tem por que discutir". Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

Aluna do terceiro ano do ensino médio, Thaíse Vallesca Queiróz, 16, estudante aprova as ações do prefeito Fernando Haddad (PT) e votará pela reeleição dele. "Gostei muito da questão do passe livre (estudantil) e das ciclofaixas, acho que ele fez por muitas partes da cidade. Para vereador eu vou votar no Eduardo Suplicy, acho as propostas dele incríveis, sempre vejo vídeos dele na internet, Facebook", falou. Ela, porém, não fecha 100% com o Partido dos Trabalhadores. "Discordância do PT totalmente eu não tenho, mas em alguns pontos acho que eles estão errados." A adolescente considera que Educação deveria ser uma das prioridades dos políticos. "Eu tirei o título agora com 16 anos pois sempre fui muito interessada em política. Se você não vota, você não tem por que discutir", comentou.

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A área da segurança é a principal preocupação do estudante Leonardo Ribeiro, 17. Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

Incentivado a tirar o título de eleitor antes dos 18 anos por um colega que votará em Marta Suplicy (PMDB), o estudante Leonardo Ribeiro, 17, optará por outro político, mas ainda não tem certeza qual. "Estou na dúvida entre o Celso Russomanno (PRB) e o João Dória (PSDB). As ideias deles me atraem, mas são parecidas. Para vereador eu prefiro votar nulo porque eu não confio em nenhum candidato", disse o estudante que costuma se informar sobre as propostas dos políticos pela televisão. Segurança, contou, é uma das suas grandes preocupações.

Estudante Marimel Santana, 17: "O governo que temos agora não é o ideal". Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

A aluna do terceiro ano do ensino médio até queria votar neste pleito, mas perdeu o prazo para tirar o título. Moradora de Mauá, na Grande São Paulo, a estudante Marimel Santana, 17, costuma debater política dentro de casa. "Não converso muito com meus amigos sobre esses assuntos, falo mais com meus pais sobre o que está acontecendo no Brasil hoje. Concordamos em alguns pontos, como que o governo que temos agora não é o ideal", disse. Matriculada em uma escola pública, ela acredita que a educação ainda é muito precária no país e que deveria ter muito mais atenção das autoridades.

A estudante Ana Beatriz Santos, 18, acompanha as propostas políticas pelo Facebook. Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

A presença de dois políticos das antigas nesta campanha à prefeitura de São Paulo foi essencial para que a estudante Ana Beatriz Santos, 18, que tirou o título em 2015, conhecesse seus dois candidatos. "Vou votar na Luiza Erundina. Eu a conheci pelo Facebook e gostei das propostas, além disso, o PSOL me interessa. Votarei nela, apesar de achar que ela não vai para o segundo turno", comentou. O número do ex-senador Eduardo Suplicy (PT), que aparece em vídeos cantando de Bob Dylan a Racionais MC's, varrendo a calçada e sendo carregado por policiais, também será digitado pela estudante na urna eletrônica. "Ele se mostra muito pró-ativo para o povo e não só em época de eleição. Você o vê em Virada Cultural, nas periferias, quando tem reintegração de posse… ele tá lá em frente defendendo o povo", falou lembrando que Suplicy, inclusive, vira meme vez ou outra.

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Para a estudante Bruna Nicolaci Silva, 18, "as campanhas políticas que passam na televisão mostram só a parte boa dos candidatos". Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

A estudante Bruna Nicolaci Silva, 18, não pensa em ampliar o mandato do prefeito Fernando Haddad por mais quatro anos. Para ela, as ações de mobilidade urbana promovidas pelo petista não são tão boas quanto anunciadas e a cidade sofre com a falta de investimento em outras áreas. "Eu mesma estou esperando quase quatro meses para passar em uma consulta e não tem médico lá no posto de saúde perto da minha casa, na Vila Guarani [no Jabaquara, zona sul da capital paulista]. Muitos candidatos ficam falando em aumentar as áreas de lazer por aí, mas acho que a cidade já tem vários parques. Eu acho que a prioridade do próximo prefeito teria que ser com a saúde", disse. Ela vai optar por João Dória por recomendação da mãe. "As campanhas políticas que passam na televisão mostram só a parte boa dos candidatos, mas se você for aprofundar muito, nenhum deles é muito bom", falou. Ela ainda estuda o candidato para vereador.

A vestibulanda Camila Borche, 18, defende a reforma política. Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

A vestibulanda Camila Borche, 18, tirou o título aos 17 anos por insistência da mãe — preocupada com a papelada da vida adulta que a filha terá que apresentar daqui para frente. Camila, porém, vai faltar na eleição e justificar a ausência quando não tiver nada melhor para fazer. "Depois que eu comecei a pesquisar muito sobre política, reparei que os políticos não são tudo isso que eles falam", considera a jovem que defende uma reforma política e tem um pé atrás com o partido da ex-presidente Dilma Rousseff. "A minha família sempre apoiou o PT. Era sempre 'se o Lula está [na eleição], vota nele e se ele não está, vota em quem está com ele'", revelou. Apesar de torcer o nariz para todos os 11 candidatos à prefeitura de São Paulo, Camila acompanha o noticiário nacional e é crítica a algumas ações do presidente Michel Temer, como a redução de investimentos na Educação. "Eu não coloco confiança em ninguém e prefiro não me envolver senão passo raiva, muita raiva por sinal."

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O assistente administrativo Lucas Salgado, 18, não acredita no cargo de vereador: "acho que é um cargo que tem uma função de mudar o nome de rua". Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

O assistente administrativo Lucas Salgado, 18, considera difícil que seu candidato favorito passe para o segundo turno, mas vai votar nele mesmo assim. "No primeiro turno eu vou votar no Ricardo Young da Rede, no segundo [turno] em quem estiver competindo com o Russomanno para não deixar ele ganhar", falou. O estudante e assistente administrativo elencou uma série de motivos para detestar o ativista de Direito do Consumidor. "Russomanno no programa dele é um babaca, tratava atendente de supermercado com tom ridículo, ignorante, tonto. Praticava direito sem carteira da OAB, diploma, é financiado pela (igreja) Universal, enfim, são vários motivos para votar em qualquer um que esteja concorrendo com ele", falou em referência a um controverso vídeo em que o político aparece humilhando uma trabalhadora. Para vereador, o assistente administrativo pode escolher alguém indicado por Young, mas é crítico quanto ao Legislativo. "Não gosto de vereador, acho que é um cargo que tem uma função de mudar o nome de rua e fazer um toma lá dá cá com dinheiro público", disse.

A estudante Rafaela Costa, 19, vai votar nulo: "vou chegar lá na urna, colocar 000 e acabou". Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

A estudante Rafaela Costa, 19, odeia todo e qualquer político desde criancinha e vai meter o voto nulo no dia das eleições municipais. "Vou chegar lá na urna, colocar 00 e acabou. Nenhum candidato me atrai, acho que são todos corruptos", protestou a moradora de Itaquera. Apesar da desilusão, ela acompanha o debate eleitoral e elenca que educação e saúde deveriam ser prioridades do próximo gestor da cidade."Eles falam que trabalham por estas áreas, mas quem é do povo sabe que isso não acontece. Os políticos não fazem tudo que prometem durante a campanha", disse a jovem que se considera "nem de esquerda, nem de direita e nem de centro". "Não vou nas manifestações por medo e é engraçado porque a gente acha que vive numa democracia, mas se for lá, apanha", reclamou.

Mesário pela segunda vez, Gabriel Ammirati, 20, acredita que a edução tem que melhorar: "o ensino hoje é muito precário e elitista". Foto: Guilherme Santana/VICE Brasil

Apesar de ter apenas 20 anos, o músico Gabriel Ammirati vai ser mesário pela segunda vez. "Eu ainda estou em dúvida e analisando as propostas, mas pretendo votar em alguém, sim. Eu me identifico mais com a esquerda porque, historicamente, a esquerda sempre esteve mais voltada para o povo enquanto a direita para a elite, muito embora no Brasil não tenha uma diferença tão grande entre os lados", acredita. Para ele, a prioridade do próximo prefeito de São Paulo deve ser a educação. "Se você resolver isso, você resolve outros problemas como segurança, saúde, emprego. Serão pessoas mais capacitadas para tudo. O ensino hoje é muito precário e elitista. Para você chegar numa faculdade pública, como USP e Unesp, acaba sendo as pessoas com acesso ao ensino privado de qualidade", disse o jovem que também estuda para ser aprovado em um vestibular para o curso de Música.

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