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quadrinhos

Tarja Preta #7

Se tem uma coisa pra qual a maconha funcionou no Brasil, foi pra HQ. Prova disso é a sétima edição da Tarja Preta.

Se tem uma coisa pra qual a maconha funcionou no Brasil, foi pra HQ. Prova disso é a sétima edição da Tarja Preta, que acabou de sair juntando vários quadrinhos chapados e dois anos depois da #6. Mas pressa pra quê, não é mesmo, pessoal? Na brochura de lombada tipo livro e capa mais resistente vem o garoto-propaganda Capitão Presença e montes de histórias inéditas de quadrinistas do Rio Grande do Sul ao Maranhão, além da matéria póstuma mais legal jamais feita sobre o Speed Freaks. E sequelas -- afinal… A seguir o que o Matias Maxx, um dos editores, tem a falar sobre esse presente que acaba de coroar um ano bem do esquisito. A saber: graças a essa chiqueza toda agora ele tá devendo R$ 10 mil pra gráfica.

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VICE: Que ano foi esse, hein? Passeata da Maconha dixavada, primaveras, cânceres, assassinatos de ambientalistas, homofobia brasileira trincando no UFC, polícia, nazis… Mas aí a boa notícia: LANÇOU A TARJA PRETA 7! O que falta agora, nessa reta final pro brasileiro 2011?
Matias Maxx: A Tarja Preta é o grande monolito dos quadrinhos brasileiros. Ela está presente em todos os grandes avanços ou retrocessos recentes da humanidade. Sei lá, quando a gente começou em 2004, a gente não tinha quadrinhos nem na banca, nem na livrarias, nem em lugar nenhum. A parada rolava praticamente só na Internet, e na época não tinha nem iPad pra galera poder ler cagando. Hoje em dia você tem uma porrada de publicações e um monte de quadrinhista sendo publicados por editoras grandes, e também um monte de novas editoras. Mas acho que no geral o povo tá mais careta e bunda mole do que nunca. E acho que mais do que nunca é importante a Tarja Preta estar na pista pra provar que não existe limite pro humor, e que independente da posição política de cada um, temos que militar contra a caretice e pela liberdade de expressão.

Mas por que tanta demora da sexta pra sétima? Tudo bem que ela tá mais bonita e tal, impressão mais chique…
Então, quando começamos a colocar a marca Tarja Preta na pista, em 2003, éramos jovens, solteiros e desempregados. Daí fizemos duas animações e um curtinha nesse ano. Em 2004 lançamos três revistas, no intervalo de dois meses cada… Daí em 2005 saiu mais uma e em 2006 eu abri a La Cucaracha — e aí fudeu, as revistas passaram de bimestrais para bienais. Porque apesar de alguns babacas acharem que eu estou rico, estou é enrolado pra cacete com essa vida de pequeno empresário… Enfim, voltando à Tarja Preta, o lance é que ela envolve muita gente, muitos colaboradores, ninguém entrega no prazo… Aí eu praticamente tenho que esperar todo mundo entregar suas histórias para começar a vender os anúncios e orquestrar os lançamentos. Antigamente eu que fazia praticamente a porra toda sozinho, mas desde a última edição o Juca e o Daniel Paiva, que são os outros editores, começaram a me ajudar com a diagramação, porque nesses 8 anos o malandro do Juca fez DUAS faculdades (Jornalismo e Design) e não tinha escapatória pra diagramar a parada. Mas é foda, anteontem eu tava folheando a revista no lugar mais adequado (o trono) e percebi que nesse atraso todo a gente acabou esquecendo uma HQ inédita do Adão Iturrusgarai, na qual ele conta uma história em que o Otto Guerra vai num peep show e enfia a mão na porra. Puta sequela dos três!!!

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A tiragem continuam em “5 mil porque você é louco”? [ele disse isso na última vez que falou com a VICE]
Nessa aqui a gente deu uma maneirada — imprimimos 2 mil só. Mas numa qualidade super melhor, num formato de livrinho, mais durável e competitivo, para fazer bonito nas livrarias. Mas o que vi nesta última Comicon é que apesar de todas as outras publicações também estarem com uma alta excelência gráfica — Golden Shower, Prego, Kowaslski, a maioria imprime menos de mil exemplares. Então a gente continua sendo os visionários loucos e endividados.

Fora que tem uma página + duas histórias inteiras repetidas, entre as folhas 99 e 114. E história do Schiavon recomeçando do meio, achei isso genial, a sensação de dejavú sentida mesmo que sóbrio. Parabéns!
Acho que você foi premiado com uma revista cagada da gráfica, porque a 99 é uma HQ do Schiavon, depois vem a do MZK e a do Guazelli que termina na 114. Guarda essa edição que daqui a uma década pode valer mais que as outras no eBay! [Risos] Sequela, sequela mesmo nesta edição foi a gente ter esqeucido a HQ do Adão. Vacilo nosso que estou revelando com exclusividade para a VICE. Ainda nem contei pro Adão, mas ele tá na Patagônia mesmo e vai demorar pra ver a revista [Risos]

É impressão minha ou a revista é quase inteira composta por trabalhos de cariocas e gaúchos, com poucos paulistas? Puta sacada também!
Cara, a gente sempre teve a maioria dos nossos colaboradores baseados no Rio, Sampa e Porto Alegre. Mas nesta edição tem o Bruno Azevêdo, do Maranhão, o Luiz Guerreiro, de Portugal (que faz quadrinhos em azulejos, dá pra acreditar???), o Pablo Carranza, que também é do Nordeste, o Rômolo, de Curitiba, e o Gomez e o Evandro, que são do Planalto Central. De Sampa tem o MZK e o Schiavon, que são o nosso time de ouro, mais o ETE — que na real é de Campinas. Podes crer, nunca tinha pensado por esse lado, na real tem um monte de gente que colabora pra Tarja que mora ou morou em Sampa, mas poucos que são de lá de verdade. Faz sentido, se você for ligar na MTV em qualquer época, você vê um monte de bandas que se mudaram pra Sampa pra fazer a carreira, mas que na real são de outras partes do país. Aliás, qual a última banda legal que saiu de São Paulo mesmo??? O IRA?? [Muitos risos]

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E esse elenco todo, é tudo na broderagem?
Tudo na broderagem. Se eu tivesse pago os colaboradores nas primeiras edições, infelizmente jamais poderíamos ter vendido a R$2 ou R$5. O mercado de quadrinhos é ingrato pra cacete. Pra tu ver, as únicas pessoas dos quadrinhos que se deram bem foram fazendo outras coisas, como o Mutarelli — que virou autor, ator e cineasta. Quando a Tarja era mais vagabunda e barata, a gente enfrentou vários problemas de distribuição, pois ninguém queria distribuir uma revista em que tivesse uma margem de lucro pequena. A nossa ideia agora, que a revista tem uma qualidade melhor e um preço de capa maior , é juntar uma grana para pagar a galera, nem que seja fazendo um churrasconha maneiro. A gente também tá lançando uma linha de camisetas, que por enquanto tem estampas do Danilo, do Capitão Presença e do MZK. Nesse produto, como rola uma margem de lucro maior, os artistas são remunerados. Mas sei lá, o que eu vejo é que na maioria das vezes os artistas precisam de veículos como a Tarja para desovar suas HQs e conquistarem fãs, pra depois juntar todo esse material e vender para uma editora em forma de álbum. Mas ainda assim, eu sempre ouço reclamação.

Tem matéria sobre Speed Freaks também.
Pô! O Speed sempre foi um grande amigo. Quando eu tinha meus 15 anos, vivi bastante a cena dos anos 90 do Rio de Janeiro, da galera da Hemp Family, e o Speed sempre foi de longe uma das personalidades mais interessantes e talentosas de toda a galera. Você pode perguntar pra qualquer um do Planet, Funk Fuckers, Rappa, Nação Zumbi, Los Seadux ou qualquer outra banda da mesma época, e ninguém vai negar o talento do cara, além de ter uma penca de histórias engraçadas para contar. Ele era um cara muito figura, muito engraçado, e que colecionava histórias incríveis. Já enquanto vivo ele era uma lenda, e escrever essa matéria sobre ele é o inicio de um projeto que eu tenho para manter sua memória viva. Estou querendo fazer um documentário, pois eu mesmo tenho muitas filmagens hilárias dele. O cara era foda, e era de verdade — morreu na mesma intensidade em que viveu. Ele era o que cantava mesmo, e apesar de todos os que conviveram com ele o amarem de verdade, ninguém se surpreendeu muito com seu fim. Indignação total, mas surpresa zero.

E aquela foto da Xuxa, cara?
Putz, na verdade é uma foto minha com o Sérgio Mallandro no camarote da Xuxa em 1991. Essa dai vocês vão ter de desembolsar uma nota para publicar! [Risos]

Bom, o que mais você quer falar sobre essa edição da Tarja Preta?
Ah! Estamos lançando uma coleção de camisetas, masculinas e femininas da La Cucaracha para a Tarja Preta. O carro chefe é a Rolling-Stoned, nossa versão chapada do logo dos Stones, criada pelo Danilo e lançada na capa da revista. Rolou até um ensaio com a camiseta assinado pelo fotógrafo chicano Estevan Oriol. A gente tem certeza que cedo ou tarde algum filha da puta da galeria do Rock vai piratear essa estampa, por isso estamos divulgando ao máximo para depois processar até o neto do filha da puta.

Haha. Dá pra prever quando vai sair a próxima?
Então, como agora nossa cidade maravilhosa tem uma feira internacional de quadrinhos (a Rio Comicon), que apesar de ainda estar engatinhando e longe do ideal, é uma feira anual. Então temos o compromisso de trazer sempre uma novidade, para 2012. Estamos planejando relançar as edições #1, #2 e #3 no mesmo formato de lombadinha quadrada da #7. A edição #8 eu ainda não sei, vai tudo depender na real de conseguir pagar a gráfica. [Risos]

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