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Uma Especialista Descreve Jeitos Não Idiotas de Usar Quarentenas para o Ebola

A Dra. Susan McLellan explica como o medo pode piorar tudo no caso da epidemia.

Os governadores de Nova York e Nova Jersey decidiram recentemente colocar de quarentena os profissionais médicos que estiveram em contato com o ebola apesar de muitos profissionais da área e especialistas dizerem que essa estratégia é idiota. Os políticos americanos Ted Cruz e Rick Perry também vêm defendendo mais estratégias de isolamento baseadas no medo. Os médicos continuam estressantemente calmos, explicando que os profissionais de saúde americanos precisam ter a liberdade de viajar e voltar para lugares como a Libéria a fim de poder lutar contra a epidemia, mas os políticos continuam loucos para colocar de quarentena qualquer um que já tossiu na vida.

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Mas centros de retenção e zonas de isolamento são um fato da vida em lugares como a Libéria e precisam ser usados corretamente. Conversei com a Dra. Susan McLellan, professora de medicinal clínica e tropical na Escola de Medicina da Tulane University que trabalhou extensivamente no Haiti e em Ruanda. Ela afirmou que coisas aparentemente simples mas eficazes podem ser feitas e por que essas mesmas coisas não são tão simples em partes em desenvolvimento da África. Ela também contou como o medo pode piorar tudo.

VICE: O que centros de retenção em partes em desenvolvimento do mundo podem fazer para frear a propagação de doenças infeciosas?
Dra. Susan McLellan: Em partes menos desenvolvidas do mundo, isso é particularmente difícil, porque água corrente, toalhas de papel e coisas assim não estão necessariamente disponíveis, e isso faz uma grande diferença. Unidades de tratamento estabelecidas estão tentando criar uma disponibilidade de água fortemente clorada para a limpeza e de equipamentos de proteção pessoal, e isso acaba sendo o básico, além de uma maneira de alimentar as pessoas que estão sendo admitidas.

As novas diretrizes dos Centros de Controle de Doenças, que estabelecem que os profissionais de saúde não podem expor a pele perto de pacientes com ebola, são realmente necessárias?
Muita desinformação continua a ser espalhada sobre o nível de proteção exigido. A ciência nos diz que isso é uma doença que se espalha pelo contato com fluidos corporais infectados, não através do ar ou pela pele que está exposta ao ar ao redor do paciente com ebola. Sei por experiência própria que uma pessoa pode cuidar de muitos pacientes com ebola com a pele exposta e não ser infectada.

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Por que eles mudaram as diretrizes então?
Por duas razões. Uma é o que o nível de cuidado oferecido nas instituições norte-americanas pode incluir mais procedimentos, o que poderia resultar em algum tipo de "spray" que poderia alcançar pele exposta. Agora, não achamos que o vírus tipicamente entra através da pele, mas qualquer contaminação da pele exposta pode aumentar o risco de transferência do vírus para os olhos ou boca de outra pessoa.

E a outra razão?
O simples reconhecimento de que o medo supera a ciência. Por causa do medo, indivíduos em situações em que o mínimo de equipamento pessoal foi fornecido sentem que é necessário acrescentar mais proteção e fazem isso de maneiras que podem não ser seguras ou que não permitem remoção segura (do equipamento).

Camadas extras de luvas ou coisas coladas são difíceis de se remover de maneira controlada e cuidadosa. Nesse sentido, o risco de contaminação pode aumentar. Quanto mais camadas uma pessoa coloca, maiores são as chances de exaustão, o que leva a incapacidade de se mover de modo controlado e cuidadoso. E isso não coloca só os profissionais da saúde em risco, mas também os pacientes.

Por que o ebola tem se espalhado de modo tão eficiente pela África?
Essa é uma doença que se espalha entre seres humanos, porque seres humanos cuidam um do outro quando estão doentes. Na África Subsaariana, as famílias cuidam de seus membros em casa até que eles estejam extremamente doentes, ou até mortos, em vez de trazê-los para um local de atendimento ao primeiro sinal de febre. Isso acontece por várias razões, incluindo o fato de que as instalações de cuidado médico lá não são tão boas assim, que as famílias precisam pagar por isso e que isso pode separá-las por muito tempo. Elas também podem não ter acesso a essas instalações tão facilmente ou podem não confiar em quem fornece esse tratamento por várias razões.

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Então, uma doença que se transmite pelo contato próximo com fluidos corporais – e que produz manifestações de vômito, diarreia e muitos fluidos desagradáveis – pode facilmente ser transmitida pelo tipo de cuidado que é feito em casa.

Devo reiterar que essas casas, geralmente, não têm água corrente, eletricidade, toalhas de papel e privadas com descarga. A probabilidade de material infeccioso entrar em contato com a pele de alguém e ficar lá por um longo tempo é muito maior do que mesmo nas casas mais pobres dos EUA. A África Ocidental tem áreas densamente povoadas, e esses três países são os últimos do Índice de Desenvolvimento Humano.

É só a pobreza ou tem alguma outra coisa dificultando o combate do ebola na região?
Esses países foram devastados por anos de guerra civil, e mal saíram disso, e têm uma história de governos não tão éticos. Eles também não têm uma infraestrutura de saúde para responder a qualquer ameaça médica, incluindo aquelas que já existiam no passado. Além da densidade de população, também há o fato de que existem estradas boas na área, o que torna o transporte fácil. E tudo isso se combinou numa epidemia de grande sucesso para o lado do vírus.

Os hospitais norte-americanos estão equipados para lidar com os detalhes do protocolo de doenças infecciosas?
O nível de preparação dos hospitais, claro, varia. Acho que fomos muito além disso agora depois do caso infeliz em Dallas. Isso realmente chamou a atenção das pessoas para o fato de que qualquer um pode entrar num hospital e que erros podem acontecer se as pessoas não tiverem um plano e não estiverem preparadas. Acho que a preparação foi muito além agora.

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Tradução: Marina Schnoor