EctoplasmaSoftware8/10Os Tropa Macaca assustam-me um bocado. Ao longo de um impressionante processo, que já ultrapassa os seis anos, o duo de André Abel e Joana Conceição deixou-me quase sempre desamparado e sem a bengala das comparações para explicar mais facilmente o que escutei num novo disco ou concerto. O problema não será sequer a minha falta de conhecimento sobre o universo musical dos Tropa Macaca, porque até os mais entendidos nunca me deram uma solução fácil para desenvolver paralelos e despachar o assunto. E ainda bem que assim foi, porque só desta maneira fiquei obrigado a correr atrás de imagens e equações a que não chegaria de outra forma. Noutras alturas, comparei os Tropa Macaca a um acidente a aguardar uma ambulância e a vídeos caseiros à espera que alguém os descodificasse. Desta vez, o novoEctoplasmasoa-me a uma viagem cerebral pelas mais cabrescas páginas doCorreio da Manhãe d’OCrime, com tempo para dançar entre as comunidades isoladas e invisíveis do interior do país — e tudo isto assombrado por umfeelingpós-Rei Ghob. Se tivesse de arriscar uma comparação, diria que este é o tipo de música que os Porter Ricks fariam se vivessem aprisionados numa masmorra e comessem colhões de bode ao pequeno-almoço. A Software, que lança agoraEctoplasma, diz que os Tropa Macaca tocamlo-fi ambient noise, o que é só um pouco melhor do que reduzir tudo isto ao termo “fritaria” (a sério, arranjem outra palavra). Terminei a escuta do disco com a sensação de ter acabado de descobrir que o meu pai afinal é um vampiro.
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