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Lisboa

Lisboa é uma gorda suada

De Guimarães a Lisboa no Intercidades.

Decidi fazer uma viagem exploratória e de intercâmbio entre as duas capitais do país, ou seja, ir de Guimarães a Lisboa, mas com a clara noção de que uma é a Capital Europeia e a outra é a capital nacional.

Imaginam o cheiro no Intercidades? Mas neste texto não vou falar tanto de Lisboa porque o importante é a viagem e não tanto o destino, esta é uma daquelas cenas como o Moby Dick — só depois de ler o livro é que descobrimos que afinal o que importa é a caçada, e nem tanto a baleia. Acordei cedo para apanhar o Intercapitais que sai às 7h43 da Estação de Guimarães — um nome de estação pouco nobre que expõe a fragilidade de termos só uma gare de comboios, e para a qual proponho uma mudança — porque se eles têm Santa Apolónia, Oriente, Areeiro, Rossio, Cais do Sodré, Sete Rios, Alcântara-Terra… Nós devíamos proclamar a Estação com vários nomes para os confundir e criar a Estação São Nicolau, também conhecida por Estação São Gualter, e também por Estação Pamela Anderson — que não é de Guimarães, mas todos sabem que é bem boa. Não é de Guimarães, mas é bem boa. A coisa fixe de apanhar o comboio é que as pessoas aperaltam-se um pouco mais. É como antigamente, quando as pessoas escolhiam uma fatiota de jeito para andar de avião, só que no comboio, a realidade é mais crua, pois na primeira ida à casa de banho, apercebes-te que estás a cagar para o carril. De qualquer modo, é agradável quando te sentas ao lado de uma jovem bem vestida, a cheirar a fresco e lavada por baixo, já que são sete e tal da manhã, e a única pessoa que não tomou banho foste tu (porque acordar a essa hora e ter de apanhar um comboio, implica tomar opções e não ia perder o tempo de beber um fininho pela manhã, para tomar um duche.) Nestas ocasiões, sou um romântico (como todos os vimaranenses), e imagino que ao meu lado vai calhar uma jovem trainee de uma empresa sediada em Lisboa. É o plano ideal de intercâmbio, ela de tailler justinho a deixar entrever as mamas pelo decote, e eu alegremente iria no embalo do “pouca terra”, aconchegado no computador quentinho que está ao meu colo, enquanto ponho a passar um filme erótico para ajudar a quebrar o gelo e ter tema para as quatro horas de viagem, das quais ela não pode escapar. Um bocado como o Travis Bickle no Taxi Driver, mas aqui ela não pode fugir da sala de cinema. Tenho de admitir que desta vez, não correu muito bem. Chegou uma matrafona suada de 120 quilos, com pronúncia de Xabregas e sacos plásticos a fazer de malas (até pensei que ela levava galinhas). Com aquela gordura toda, o buço dela pingava suor e eu tive de me apertar no banco, para ela se instalar confortavelmente a esbordar na cadeira pelos lados. Afinal, Lisboa não era menina e moça e para não lhe dar ideias, não me atrevi a pôr o filme erótico, pois a hipótese de ela ficar mais húmida era insuportável. E aí tive uma visão literária — porque afinal, a viagem é importante, mas ao contrário do que eu julgava no Moby Dick, a baleia é um factor a considerar. Xabregas é assim, menina e moça.