Há quarenta anos, a União Soviética produziu uma animação inovadora que antecipou muitos dos debates que os militares, cientistas e autoridades estão tendo hoje.Polygon começa em uma remota ilha no oceano, onde militares finalizam os preparativos do que parece ser um campo de tiro. Eles derrubam palmeiras, nivelam a areia, expulsam os nativos.Um homem alto, barbado e coberto de branco aprova a construção da equipe. Esta, por sua vez, lhe diz que a ilha mais próxima está a cinco quilômetros de distância e longe de quaisquer vias aéreas.A próxima imagem mostra o homem de branco próximo a um tanque. Assim que ele encosta na carapaça do veículo, vemos um flashback: uma versão mais jovem do personagem vê o filho correndo em sua direção e depois sai da casa da família.Ele pega o garoto e o atira ao ar em tom de brincadeira. Em meio a tudo, o menino se transforma em um soldado paraquedista de arma em punho. Tiros destroem o paraquedas. Voltamos ao presente, na ilha. "Amanhã o comitê chega", diz, em tom sinistro.O presidente Vladimir Putin clamou por "desenvolvimento eficaz de complexos robóticos militares autônomos". Por mais que esteja atrás na criação e teste de tais sistemas em relação aos EUA, Israel, países da OTAN e mesmo a China, os russos estão se esforçando bastante para desenvolverem sistemas de combate de solo não-tripulados.Polygon previu isso tudo em 1977. Classificado como "adulto" por conta de seu conteúdo controverso, o filme mal foi exibido para o público soviético. O personagem principal – chamado de "professor" por todos – construiu um tanque operado por inteligência artificial.O tanque reage ao desejo de destruí-lo, o "impulso de ódio", ao captar correntes biológicas – pensamentos e intenções do inimigo – e responder a elas. "Assim sendo, o inimigo controla o tanque sem saber", explica o professor enquanto o comitê militar observa o tanque desviar do fogo inimigo.Mas o que perturba mesmo é o modo ofensivo da máquina, admite o professor. Ele muda a posição de uma chave na lateral do tanque, revelando uma série de equipamentos complexos que bisbilhotam os membros do comitê enquanto falam sobre o tempo e cerveja.O tanque precisa de um "impulso de medo", explica. "O inimigo, temendo sua destruição, comunicará ao tanque seus pontos fracos e vulnerabilidades, o que fará com que este inicie ataques avançados".O debate se o homem pode – ou deve – dar poder de decisão a sistemas autônomos já acontece há algum tempo. As guerras do futuro talvez não permitam controle humano de fato sobre drones de rápida ação no campo de batalha.No decorrer de Polygon, o professor segue tendo visões da morte de seu filho nas "colônias" durante um conflito. "É guerra", diz o oficial de mais alta patente, sem titubear. "E na guerra, ocorrem fatalidades.""Sim", responde o professor, "é guerra. Gostam de lutar? Gostam da minha nova arma? Testarão ela contra si mesmos. Tentem não pensar em nada perigoso – o tanque lerá suas mentes. Não tenho nada a temer – não me resta ninguém neste mundo."O tanque opera em modo "medo". Ele mata os membros do comitê, aterrorizados, um a um. Um deles tenta controlar seus pensamentos e quase sobrevive. No final, o medo toma conta de tudo.O professor então se aproxima do militar de alta patente, às portas da morte, que pede por sua ajuda. Ele lhe entrega a medalha recebida por seu filho como homenagem póstuma.Na última cena de flashback, o professor diz ao seu filho que conseguiu sua vingança – mas medo e incerteza haviam invadido seus pensamentos também. De volta ao presente, o tanque percebe o medo do professor. O filme termina com as crianças nativas da ilha brincando em cima de um tanque enterrado na areia.Tradução: Thiago "Índio" Silva
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