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A vitória de Bernie Sanders ficou um pouco menos impossível

Depois de levar as primárias em Wisconsin, o candidato ‘marginal’ democrata segue incomodando a preferida Hillary Clinton, se recusando a ‘baixar o nível’ da campanha.
Bernie Sanders num evento de sua campanha em Milwaukee, 4 de abril. (AP Photo/Paul Sancya)

Quando a campanha presidencial nos EUA começou 10 mil anos atrás, todo mundo achava que Hillary Clinton levaria suavemente a indicação dos democratas. Ela tinha o currículo de uma presidente na fila de espera, uma operação de levantamento de verba vastíssima e, no horizonte, nenhum desafiante muito conhecido.

"É quase garantido que Clinton leve a indicação dos democratas com pouquíssima oposição", escreveu o colaborador da VICE Kevin Lincoln em abril de 2015. Na época, especulava-se sobre uma possível campanha de Elizabeth Warren ou Joe Biden — ninguém falava de um senhorzinho nervoso de Burlington que ficava gritando sobre a saúde pública da Dinamarca. Um ano depois, Bernie Sanders emergiu após um dos debates das preliminares mais substanciais em décadas. O fato de que a mídia e políticos mainstream agora têm que falar sério sobre um cara que se diz democrata socialista, e diz coisas como "o modelo de negócios de Wall Street é uma fraude", é uma vitória moral para o senador de Vermont. Mas Sanders também conseguiu vitórias reais: mês passado ele venceu as convenções partidárias de Idaho, Utah, Washington, Havaí, Alasca e, na noite de terça, as primárias de Winsconsin. Agora vem a parte, como em toda matéria sobre Sanders, em que apontamos os obstáculos entre ele e uma indicação do Partido Democrata. Deixando de lado os "superdelegados", Sanders está muito atrás de Hillary na contagem de delegados, graças a uma série de vitórias fáceis no Sul. Ele também está bem atrás nas pesquisas em Nova York, Pensilvânia e Califórnia, três primárias importantes que basicamente decidem a corrida nos próximos dois meses. Considerando essas realidades, uma vitória de Clinton em Winsconsin teria mais ou menos encerrado a coisa toda. Em vez disso, Sanders não só ultrapassou a concorrente, mas a eclipsou por uma grande margem, superando as expectativas das pesquisas. A vitória deu mais crédito à narrativa da campanha de Sanders: ele pode superar suas poucas chances se os eleitores das primárias se convencerem de que ele tem uma chance legítima de vencer Clinton, e partir para a luta contra a besta que emergir da Convenção Nacional Republicana em julho. Depois de terça-feira, Clinton ainda tem os números ao seu lado, mas Sanders está ganhando impulso. "Impulso começou essa campanha 11 meses atrás e a mídia determinou que éramos uma candidatura 'marginal'", disse Sanders durante seu discurso em Wyoming na terça, segundo o New York Times. "Não contem à secretária Clinton — ela está ficando meio nervosa… mas acredito que temos uma ótima chance de vencer em Nova York e vários delegados daquele estado." Não era só a mídia que achava que Sanders não tinha chance de se tornar o candidato democrata. Segundo uma matéria da Times publicada na segunda-feira, que cita várias pessoas próximas da campanha dele, o próprio Sanders "estava inicialmente cético que pudesse derrotar a Sra. Clinton, e sua missão em 2015 era espalhar a mensagem política sobre uma América manipulada mais do que vencer a indicação". Segundo a Times, essa percepção fez Sanders investir numa campanha de meio período na maior parte de 2015, enquanto Clinton dedicava todas suas energias à corrida, o que pode explicar sua reticência inicial em atacar sua oponente sobre seus discursos particulares para Goldman Sachs e o escândalo com seu servidor de email. Mesmo agora, Sanders não parece disposto a entrar no ringue de lama como um homem que quer realmente ser presidente. Numa entrevista para o New York Daily News esta semana, ele se recusou a dizer que Clinton "não era confiável", em vez disso, enfatizou que não concordava com ela: "Não a ataquei pessoalmente". O problema é: Clinton parece não ter os mesmos padrões morais. Na mesma entrevista para o Daily News, Sanders parece ter tropeçado nos detalhes de como exatamente quer quebrar os grandes bancos e ir atrás dos malfeitores de Wall Street — respostas que ele já deveria ter bem decoradas a essa altura do campeonato. Imediatamente, Clinton o criticou por estar despreparado, com um funcionário da campanha tuitando "Em algum ponto você precisa ter esses detalhes. Como você vai quebrar os bancos. Pagar sua faculdade e plano de saúde. Vencer a indicação." Na manhã de quarta-feira, Clinton apareceu no Morning Joe e disse: "Acho que ele não tem feito a lição de casa e está há mais de um ano falando em fazer coisas que obviamente não estudou e não entende, e isso levanta muitas dúvidas." Tudo isso leva ao debate democrata marcado para 14 de abril, cinco dias antes das primárias de Nova York. Com certeza Sanders terá que responder perguntas sobre a entrevista ao Daily News, o jeito exato como pretende enfrentar Wall Street e se ele está realmente pronto para ser presidente. Ele tem uma semana para mostrar um plano claro para implementar suas políticas. Graças à vitória em Winsconsin, Sanders tem um caminho aberto para a indicação, mas a chave para esse caminho é dominar o debate — não apenas repetindo suas posições e inspirando eleitores que já vão votar nele, mas também indo atrás de Clinton de um jeito que a mostre numa posição defensiva — algo que ele ainda não conseguiu fazer. Se ele vacilar, e Nova York entregar a indicação a Clinton, ainda vamos ter passado os últimos seis meses falando sobre quebrar bancos, perdoar dívidas estudantis e conseguir igualdade de renda para todos nos EUA, principalmente graças a Sanders. E isso dificilmente pode ser chamado de derrota. Tradução: Marina Schnoor Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.