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Encontros Imediatos no Deserto

De todos os lugares que visitamos nesta viagem de trem, o drive-in vai ser, de longe, o mais bonito e memorável em que acampamos.

A família Fitzgerald está em sua quarta geração de ascendência irlandesa com uma pitada de Cherokee. Eles vieram de Burren, uma terra pedregosa bizarra no oeste da Irlanda que, vista de cima, parece pedaços de um prato de cerâmica quebrado e espalhado pela mesa. Hoje em dia eles moram em Barstow e operam o drive-in Skyline, onde o Station to Station aterrissou esta noite.

De todos os lugares que visitamos nesta viagem de trem, o drive-in vai ser, de longe, o mais bonito e memorável em que acampamos.

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A família Fitzgerald é durona e seca, um pessoal do deserto que já viu algumas coisinhas na vida. Afinal, Barstow é a capital californiana da anfetamina. Recebemos instruções rigorosas de não sair sozinhos depois que escurece. E refletir bem sobre isso durante o dia também.

Cat Power teve uma viagem estranha. No palco, ela não estava indo muito bem, mas hoje, na frente de uma plateia californiana que a ama com a paciência de uma mãe solteira, a apresentação foi linda. Houve algumas lágrimas pelo deserto, mas para quem se sente desconfortável, elas podem ser justificadas pela poeira e areia.

Mas o show desta noite, em que uma nave espacial aparecerá no céu noturno e piscará sobre o Beck dançando feito um robô enquanto ele faz um cover de James Brown, pode até superar isso. A nave alienígena não ignora o fato de que Beck é cientologista. Não porque ambos vieram das estrelas, mas porque a nave foi transportada por um piloto de helicóptero que precisava saber disso.

Entre os shows, nas telas gigantes do Skyline passavam vídeos. Um dos quais era uma foto de 180º de Stephen Shore tirada em Winslow e em seu entorno. Winslow é uma cidade que atingiu seu pico muito antes de chegarmos aqui. Além daquela música do Eagles, não tem muito mais coisa rolando. O vídeo de Shore consegue tirar uma beleza meio inerte da poeira. Ou se não beleza, pelo menos algum tipo de esperança.

Na manhã seguinte, nosso trem partiu de Barstow e o “hapenning nômade” seguiu até Los Angeles. Por mais ridícula que LA seja, é o mundo real. Chega de cidades fantasmas e fãs de hockey onde uma rodada de seis bebidas custa menos que um maço de cigarros de Nova York. As estradas apareceram ao nosso lado, galerias de lojas substituíram a poeira e a areia. Tivemos a primeira visão de um corpo d’água natural em mais de uma semana.

Para todo mundo que esteve no trem desde o começo, há três semanas, existe uma certa relutância em descer. Foi uma pausa quase completa das notícias, conexões e rotinas diárias. E embora tenha sido um ritmo difícil, nunca deixou de ser estimulante.

Ontem circulou um boato pelo trem. Um boato que ninguém podia esclarecer com a internet instável a bordo. Barack Obama mencionou o Station to Station em uma entrevista. Ele considerou um exemplo do potencial incessante do povo americano. Este é um mundo ingênuo e sonhador que vivemos sobre os trilhos e eu particularmente acreditei no boato até descobrirmos que era tão falso quanto um disco voador.

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